Riscos à saúde e ao meio ambiente?

Data: 16/04/2010

Riscos à saúde e ao meio ambiente?


Primeiro foi a soja e o algodão. Depois o milho, e agora é possível que a alimentação básica do brasileiro, o arroz e futuramente o feijão, também sejam modificados por laboratórios, transformando-se em alimentos transgênicos.

Os transgênicos são Organismos Geneticamente Modificados (OGM). Seres vivos criados em laboratório a partir de cruzamentos que jamais aconteceriam na natureza. Explico melhor: usando uma técnica que permite cortar genes de uma determinada espécie e colocá-la em outra, os cientistas criam organismos novos através da união de uma planta com uma bactéria; animal com inseto; bactéria com vírus, etc. Resumindo, sem testes que comprovam se esses alimentos são ou não prejudiciais à saúde humana, verdadeiros “monstros” estão sendo introduzidas diariamente à nossa dieta alimentar (ver Risco para Saúde).

“Como qualquer coisa inovadora, existem as dúvidas e os problemas. Cientificamente não há nada hoje que comprova que faça bem ou mal. E como geneticistas eu pergunto: foi devidamente estudado?”, questiona Waldersse Piragé, Doutor em Genética e professor de Biotecnologia nos cursos de Medicina e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Ele diz não ter conhecimento de que no Tocantins, existam pesquisas voltadas para essa área, embora haja muitas plantações de grãos OGM, como soja e milho.

Dr. Piragé defende o uso dos transgênicos, mas com cautela e pesquisa. “Não se pode sair por aí distribuindo transgênicos aleatoriamente. Deve haver tempo para teste, análise e pesquisa prévia. As grandes corporações só pensam no lucro e o mais rápido possível”, completa.

O maior argumento pró-transgênico finca-se na aposta de que o alimento OGM contribuirá para combater a fome no mundo. O grão é modificado para resistir a agrotóxicos, possuir propriedades inseticidas, ou ambos. Distantes do que se passa dentro dos laboratórios, muitas pessoas acreditam que os OGM foram criados para ter mais nutrientes, ou ainda, para resistir às variações climáticas.

Conforme alerta o norte-americano Jeffrey Smith, jornalista e diretor executivo do Instituto Pela Tecnologia Responsável, autor dos livros Roleta Genética e Semente do Engano (o segundo ainda a ser lançado no Brasil), pesquisas realizadas nos últimos dez anos confirmam que a propaganda é enganosa. “As colheitas de transgênicos podem ser perigosas inconsistentes. Ela pode exacerbar a insegurança alimentar, aumentando o número de pessoas com fome”, disse Smith, quando esteve no país em 2009.

Para o norte-americano, os alimentos transgênicos podem ser o próximo grande problema da humanidade, depois do aquecimento global e do lixo atômico. O jornalista corre o mundo alertando o poder público sobre o risco da biotecnologia aplicada aos alimentos. “Diferentemente da poluição química, os transgênicos se auto-propagam e podem se tornar elementos fixos de nosso meio ambiente. Parece-me razoável e prudente congelar qualquer novo lançamento de transgênicos até que tenhamos uma melhor compreensão do DNA, e as ramificações de nossa intervenção”, afirmou.

Segundo o Dr. Piragé, existe mais especulação por parte das Ong’s especializadas do que pesquisas comprovadas. “É claro que existe o risco ambiental, mas isso tem que ser estudado. Sou defensor árduo dos testes e da cautela. É fundamental que haja uma legislação adequada e principalmente informação para quem vai consumir”, conclui.

Além de riscos ambientais e sociais (ver 7 Pecados capitais dos transgênicos), o maior risco da liberação e consumo de alimentos transgênicos é que não se sabe ainda, quais os problemas que estas alterações genéticas podem causar nos organismos. E provavelmente, somente as gerações futuras vão saber.

No Brasil, o debate sobre biossegurança de transgênicos parece esfriar, justamente quando a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNbio), na Câmara Federal, está preste aprovar o arroz da Bayer, modificado geneticamente.

Transgênico no nosso prato

Você deve estar se questionando: como os alimentos transgênicos chegam a nossa mesa? Mesmo que você possua o hábito de verificar o rótulo dos produtos que consome, não pense que a medida te deixará livre dos transgênicos, pois apenas algumas marcas de óleos de soja possuem selo que indica a adição de alimentos OGM.

Em 2004, entrou em vigor no País o decreto que obriga as empresas de alimentos a informarem no rótulo se o produto foi fabricado com mais de 1% de ingredientes transgênicos. Para isso, elas devem colocar, em local visível, um triângulo amarelo com a letra T, em preto, no meio. Esse símbolo indica que o produto foi fabricado com algum ingrediente transgênico. Porém, não existe uma fiscalização que ponha em prática esse decreto.

Maionese, margarina, cereais, bebidas, alimentos dietéticos, achocolatados e ingredientes para panificação, possuem em sua composição a soja transgênica. Sem falar da pecuária que se alimenta da soja modificada e dos frangos e porcos, que consomem o milho também OGM e que chegam ao nosso prato indiretamente.

Os 7 pecados capitais dos transgênicos

Conheça os principais problemas dessa tecnologia que coloca em xeque a biodiversidade do planeta, provoca inúmeros problemas na agricultura mundial e afronta diretamente o Princípio da Precaução, da ONU. A lista foi elaborada pela organização global Greenpeace (www.greenpeace.org.br).

1. Contaminação genética

Agricultores que queiram se dedicar ao cultivo convencional ou orgânico já sabem: se tiver alguma plantação transgênica nas redondezas, a contaminação é garantida e a missão, impossível. Tem sido assim nos Estados Unidos, onde tudo começou, na Europa, Argentina e sul do Brasil. Com a contaminação, agricultores têm prejuízos ao perderem o direito de vender suas safras como convencionais e/ou orgânicas.

2. Ameaça à biodiversidade

A contaminação genética pode ter também um efeito devastador na biodiversidade do planeta. Ao liberar organismos geneticamente modificados na natureza, colocamos em risco variedades nativas de sementes que vêm sendo cultivadas há milênios pela humanidade. Além disso, os transgênicos podem afetar diretamente seres vivos que habitam o entorno das plantações, conforme indicam estudos científicos - como no caso das borboletas monarcas, que são insetos não-alvo da planta transgênica inseticida, mas são também atingidas.

3. Dependência dos agricultores

A empresa de biotecnologia Monsanto é hoje a maior produtora de sementes do mundo, convencionais e transgênicas. Além disso, é também uma das maiores fabricantes de herbicidas do planeta, com destaque para o Roundup, muito usado em plantações de soja geneticamente modificada no sul do Brasil. Com essa venda casada - semente transgênica mais o herbicida ao qual a planta é resistente -, os agricultores ficam presos num ciclo vicioso, totalmente dependentes de poucas empresas e das políticas de preços adotadas por elas. Outro grande problema verificado nos países que têm adotados os transgênicos - principalmente os Estados Unidos e Argentina -, é a draconiana propriedade intelectual exercida pelas empresas sobre as sementes transgênicas. O agricultor é proibido de guardar sementes de um ano para o outro, podendo sofrer pesados processos caso faça isso, e ainda corre o risco de ser processado de qualquer maneira caso a sua plantação sofra contaminação genética de uma outra transgênica - e ele não tiver como provar isso.

4. Baixa produtividade

Os argumentos de quem defende os transgênicos como solução para a crise alimentar que vivemos vêm caindo por terra dia após dia. Os transgênicos já se mostraram pouco competitivos economicamente e recentes estudos promovidos por universidades americanas comprovaram que variedades transgênicas são até 15% menos produtivas do que as convencionais. Confrontadas com os resultados das pesquisas, empresas de biotecnologia admitiram que seus transgênicos não foram criados para serem mais produtivos, mas sim para serem resistentes aos agrotóxicos fabricados por essas mesmas empresas.

Num primeiro momento, os transgênicos podem até ser mais produtivos do que os cultivos convencionais ou orgânicos/ecológicos, mas no médio e longo prazos, o que se tem verificado é uma redução na produção e um aumento significativo nos preços dos insumos como o glifosato, principal herbicida usado em plantações transgênicas.

5. Desrespeito ao consumidor (rotulagem)

O Brasil tem uma lei de rotulagem em vigor desde 2004, que obriga os fabricantes de alimentos a rotular as embalagens de todo produto que usam 1% ou mais de matéria-prima transgênica. No entanto, apenas duas empresas de óleo de soja rotulam algumas de suas marcas do produto - e mesmo assim só depois de terem sido acionadas judicionalmente pelo Ministério Público. Há milhares de produtos nas prateleiras dos supermercados brasileiros que chegam à mesa das pessoas sem a devida informação sobre o uso de substâncias geneticamente modificadas, numa afronta direta à lei e num claro desrespeito ao consumidor.

6. Uso excessivo de herbicida

O caso da Argentina é emblemático: depois que os transgênicos começaram a serem plantados em suas terras, o consumo de herbicida explodiu no país, que passou a ser um dos que mais usam produtos químicos em plantações no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A explicação é simples: como os transgênicos são resistentes a um tipo específico de herbicida, o agricultor usa cada vez mais dele para proteger sua plantação de pragas. Com o tempo, no entanto, esse uso excessivo provoca problemas no solo, nos trabalhadores e promove o surgimento de pragas resistentes ao herbicida, exigindo mais e mais aplicações.

7. Ameaça à saúde humana

Não existem estudos científicos que comprovem a segurança dos transgênicos para a saúde humana. Apesar de exigidos por governos de todo o mundo, as empresas de biotecnologia nunca conseguiram apresentar relatórios nesse sentido - e ainda assim, seus produtos são aprovados. Por outro lado, alguns estudos independentes indicaram problemas sérios, como alterações de órgãos internos (rins e fígado) de cobaias alimentadas com milho transgênico MON863 da Monsanto.

Guia do Consumidor

A Greenpeace pesquisou quais as marcas/empresas que podem utilizar a soja ou o milho transgênicos na fabricação dos seus produtos. Confira a lista:


PODE SER TRANSGÊNICO

Adams
Adria

Ajinomoto
All Day (Bunge)

Amélia (Vigor)
Trident

Aro (Makro)

Belcook

Café do Ponto
Carmelita (Vigor)


Delícia (Bunge)
Diet Shake (Nutrilatina)

Dizioli

Ebicen (Glico)

Franciscano (Vigor)

Garoto
Gourmet (Cargill)

Halls
Hemmer


La Table D'or
Leco (Vigor)

Linea
Liza (Cargill)

Lu (Arcor)

Mazola (Cargill)

Mesa (Vigor)
Mila (Bunge)

Oliva (Cargill)
Olivares (Paladar)

Pescal

Primor (Bunge)
Pro Sobee (Bristol & Meyers)

Pullman
Quero

Salada (Bunge)

Santa Edwiges
Sazon (Ajinomoto)



Brasil é o 2º na produção de OGM

No ano passado, o Brasil bateu o recorde de produção de transgênicos. O país plantou 21,4 milhões de hectares com culturas geneticamente modificadas (GM) ou transgênicas em 2009, um crescimento de 35,4% em relação a 2008 (equivalente a 5,6 milhões de hectares).

Com isso, o Brasil plantou 16% dos 134 milhões de hectares de transgênicos cultivados em 2009 no mundo, e se torna o segundo maior produtor de transgenicos do mundo – perdendo somente para os Estados Unidos.

O Tocantins, está na lista dos estados brasileiros que utilizam a biotecnologia na agricultura, junto com o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Piauí e Maranhão.

Principal produtor de grãos do país, o cerrado brasileiro responde por 5% da biodiversidade do planeta e é considerado a mais rica savana do mundo. (com informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)




Fonte: Jornal O Girasol .



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