Todos para a fila do banheiro

Data: 08/03/2010

Todos para a fila do banheiro


É provável que a campanha “a fila mais longa do mundo para ir ao banheiro”, prevista para o dia 22 de março, não seja um acontecimento repleto de celebridades como um espetáculo de Hollywood.

Mas pode ganhar um lugar no Livro Guiness dos Recordes. Espera-se que milhares de pessoas se unam a essa fila por ocasião do Dia Mundial da Água, do lado de fora de banheiros públicos, como parte de uma campanha global para destacar a terrível situação de aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas que ainda carecem de saneamento adequado no mundo. O recorde para uma fila única é de 868 pessoas.

O acontecimento é um esforço conjunto do Conselho Colaborativo de Abastecimento de Água e Esgoto e de duas organizações não governamentais, a Rede de Ação pela Água e a End Water Poverty. “A meta é fazer com que o mundo se una em torno de uma só campanha de ação maciça”, disse Serena O’Sullivan, encarregada de campanhas e comunicações na End Water Poverty, uma coalizão mundial de aproximadamente 100 organizações que lutam para solucionar a crise do saneamento, com sede em Londres. “No momento temos filas registradas em 45 países”, acrescentou.

Para participar, é preciso apenas organizar um grupo de pessoas para que formem fila pelo menos durante dez minutos na porta de um banheiro, disse O’Sullivan. Os folhetos da campanha explicam que o banheiro pode ser verdadeiro ou falso, ou mesmo alguém fantasiado como tal. “Esperamos que cada organizador de filas tenha clara a mensagem, um plano de mídia e se conecte com os chamados mundiais à ação, assim teremos uma boa oportunidade de mobilizar a opinião pública”, acrescentou à IPS.

Os organizadores da campanha afirmam que existe uma crise mundial em matéria de saneamento: cerca de 4.000 crianças menores de cinco anos morrem por dia por falta de banheiros e água, “e os políticos estão ignorando sua difícil situação”. O acesso a saneamento deveria ser priorizado por todos os governos, para combater efetivamente a pobreza e a má saúde, afirmaram. Mas a maioria dos governos não faz isso, ressaltaram os organizadores, destacando que metade das meninas que deixam de ir à escola primária na África, o fazem, pelo menos em parte, devido à falta de banheiros.

Ministros de vários países da África, Ásia, Europa, América do Norte e América Latina se reunirão, no dia 23 de abril, em Washington, para o primeiro encontro de alto nível da história sobre saneamento e água. “Levaremos os resultados da “fila mais longa do mundo para ir ao banheiro” à reunião de Washington, disse O’Sullivan. Houve “muitos avanços” desde 2008, Ano Internacional do Saneamento, acrescentou. “Porém, devemos lembrar que este é um problema complexo com soluções complexas”, disse, ressaltando que os três sócios da atual campanha exigem uma mudança maciça na maneira como a ajuda é abordada.

A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas definiu, em 2000, os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Um deles é assegurar a sustentabilidade ambiental, o que inclui “reduzir pela metade, até 2015, a proporção de pessoas sem acesso sustentável a água potável e a serviços básicos de saneamento”. O fracasso no cumprimento da meta do saneamento se deve à carência de fundos destinados de maneira adequada e efetiva e também a uma falta de vontade política, segundo O’Sullivan.

Em um informe divulgado no ano passado, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que apesar dos significativos esforços feitos por governos, organizações não governamentais e outros atores, foram “lentos e desiguais” os avanços para alcançar esse Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A quantidade de pessoas sem saneamento básico passou de 2,6 bilhões antes do Ano Internacional do Saneamento, para 2,5 bilhões atuais. Até 2015, espera-se que esse número caia para 2,4 bilhões. Mas isto significa que faltará atingir 700 milhões de pessoas para cumprir a meta, diz o informe.

Esse estudo também afirma que a maioria dos países em desenvolvimento não pode cumprir suas metas de saneamento sem a cooperação e o apoio da comunidade internacional de doadores. As nações doadoras podem ajudar as pobres destinando maiores porções de ajuda oficial ao desenvolvimento para programas de saneamento, incentivo a inovações, dando mais ajuda financeira sob a forma de subsídios e melhorando a coordenação dos doadores nos esforços de implementação. “A comunidade internacional, os governos nacionais e os setores privado e sem fins lucrativos ainda têm muito trabalho pela frente até 2015”, afirmou o secretário-geral no ano passado.

do Agua On Line


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