Agência Funcap - Pesquisadores desenvolvem sistema de dessalinização de baixo custo

Data: 12/02/2010
Da Agência Funcap
Por Sílvio Mauro

Um dessalinizador de baixo custo, feito à base de um tipo de argila encontrada no Nordeste, para resolver um dos principais problemas enfrentados pela população do interior do Ceará: a impossibilidade de usar a água salobra encontrada em várias regiões do estado. Essa é a proposta da Policlay Nanotech Indústria e Comércio Ltda, uma empresa incubada no Núcleo de Tecnologia do Estado do Ceará (Nutec), que surgiu das pesquisas realizadas no laboratório de Fisico-Química de Minerais e Catálise do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Hoje, em muitas localidades do estado, as pessoas vivem o drama de ter água disponível e não poder usá-la porque a alta concentração de sais não a torna potável. E o custo do processo de dessalinização é muito alto. Segundo Lindomar Roberto Damasceno, professor da UFC e um dos sócios da Policlay, esse foi um dos motivos das pesquisas sobre o tema, iniciadas há aproximadamente oito anos e que resultaram no novo sistema de dessalinização que atualmente se encontra em fase de adaptação para escala piloto.

Ele destaca que uma das principais vantagens do método é a simplicidade, que o torna de fácil operação para qualquer comunidade do interior. “Ele se baseia no processo de troca iônica, que já é usado atualmente em várias aplicações”, explica. Usando como base o caulim, um tipo de argila, é criado um material que interage com o cálcio e magnésio presentes na água salobra, nas formas de sulfatos, nitratos, carbonatos e cloretos. O que sobra dessa reação química, segundo ele, é uma pequena quantidade de sódio na água que não compromete sua qualidade nem impede que seja potável.

Abstraindo o processo químico, para quem vai realizar a dessalinização, o método se resume a aplicar o produto – um pó branco patenteado com o nome Zeoclay-A40 pelos seus inventores – na água, agitar a mistura por um minuto e deixar em repouso por mais cinco minutos. Depois, é só fazer a filtragem e a água já está pronto para o uso. De acordo com o professor, o sistema não gera resíduos ou poluentes porque a substância da reação também foi estudada pelo grupo de pesquisa e acabou gerando outro produto, o Zeoclay-A50, que pode ser usado na purificação de gases hospitalares. Com isso, os usuários do dessalinizador poderiam até devolver o material para a Policlay e conseguir um abatimento nas próximas compras.

O professor também garante que, como a base de produção do dessalinizador é o caulim, encontrado em grande quantidade na Paraíba – um estado próximo do Ceará – o material não terá um custo elevado. “Uma tonelada de caulim custa 250 reais”, afirma. Ele estima que um quilo do Zeoclay-A40 não irá sair por mais de 10 reais. “E considerando o nível de salinidade da água do Ceará, calcula-se que serão necessários apenas 200 gramas do pó para tratar o metro cúbico (o equivalente a mil litros) de água”.

Atualmente, a Policlay está em processo de registro como empresa. Após a obtenção do CNPJ, será montado o maquinário para a produção em escala comercial, um processo que deve levar 3 meses. A quantidade inicial será uma tonelada por mês, o suficiente para tratar 2 milhões de litros. “Queremos chegar a 30 toneladas mensais até o fim do ano”, conclui Lindomar.

Produto será bem vindo no interior
Uma das tentativas de amenizar a escassez de água no Ceará é o Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar), um modelo de gestão de saneamento rural em que as comunidades administram o sistema de abastecimento de água de forma auto-sustentável. Ele é coordenado e fiscalizado pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).
De acordo com Hélder Cortez, gerente de saneamento rural da empresa, o Sisar está presente, hoje, em aproximadamente 570 pequenas localidades do estado. Em mais de 100 desses locais existe o problema da salinidade. Para obter água potável, as pessoas têm de recorrer a cisternas ou a dessalinizadores. Ambos os métodos têm limitações. O armazenamento em cisternas demanda uma certa regularidade das chuvas, fator que é raro na região do semi-árido.
Já os dessalinizadores disponíveis atualmente, de acordo com Hélder, resultam em um custo muito alto para as comunidades. O equipamento usa uma membrana importada, para reter os sais, que custa, segundo o técnico da Cagece, R$ 2 mil. Além disso, o gasto de energia é muito alto. “Ele precisa trabalhar com alta pressão”, acrescenta. Por isso, o custo para tratar o metro cúbico fica entre 4 e 5 reais.

Entenda os tipos de água de acordo com a salinidade
De acordo com a Companhia de Gestão do Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), a composição das águas varia conforme o tipo de solo e clima das regiões onde se originam e atravessam. Com base na quantidade de sais dissolvidos nas águas, elas podem ser classificadas em salinas, salobras ou doces.

As águas são consideradas doces quando apresentam salinidade menor ou igual a 0,5%.
As de variação entre 0,5% e 30% na concentração dos sais dissolvidos são consideradas salobras. Já as águas que apresentam salinidade igual ou superior a 30% são consideradas salinas.

Cada classe se presta a usos determinados. As águas salinas, por exemplo, podem ser utilizadas em algumas atividades, como a industrial (sistemas de refrigeração de equipamentos), mas não servem para o abastecimento das cidades. Da mesma forma, as águas doces, recomendadas para o uso doméstico, não devem ser desperdiçadas em atividades que exijam menos pureza.


Mais informações sobre o sistema de dessalinização podem ser obtidas através dos telefones (85)3366-9436, 8700-1415 e (85) 3101-2444.


FONTE:http://www.funcap.ce.gov.br/pesquisadores-desenvolvem-sistema-de-dessalinizacao-de-baixo-custo:



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