Livro traça histórico do planejamento urbano de São Paulo

Data: 12/02/2010

Livro traça histórico do planejamento urbano de São Paulo


Imagine a cidade de São Paulo com várias vias expressas em sistema de circulação em grelha, interligando anéis viários e rodovias. A idéia consta no Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de 1971, mas nunca foi colocada em prática. Nesses tempos em que o ritmo da cidade é pautado por congestionamentos e alagamentos, fica a pergunta: Por que projetos como esses não foram executados?. Algumas respostas podem ser encontradas no livro Avenidas 1950-2000 – 50 anos de Planejamento da cidade de São Paulo.

De autoria do professor Witold Zmitrowicz, da Escola Politécnica da USP, e do engenheiro Geraldo Borghetti, a obra mostra que foram criados para a cidade de São Paulo inúmeros projetos de planejamento urbano. “Mas, no decorrer dos anos vários deles foram interrompidos, modificados ou simplesmente não foram executados por interferência de aspectos tecnológicos, financeiros, econômicos, políticos e sociais que impediram a continuidade desses projetos”, conta Zmitrowicz. De acordo com o professor, esses fatores são decisivos para indicar o que vai e o que não vai ser executado na cidade.

Vias expressas
O sistema de vias expressas foi iniciado na gestão do prefeito José Carlos de Figueiredo Ferraz (08/04/1971 – 21/08/1973), professor da Poli e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP , e consistia na construção e na adaptação de várias avenidas que atravessariam a cidade, tanto no sentido leste-oeste como no sentido norte-sul. Elas incluiriam anéis viários projetados e fariam ligação com os municípios da região metropolitana de São Paulo, e também com rodovias já existentes e outras que estavam em projeto de construção.


Sistema de vias expressas do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de 1971: circulação em grelha para quebrar o sistema radial e centralizador existente na cidade

A idéia era quebrar o sistema radial e centralizador existente na cidade por meio de um sistema de circulação em grelha. Entre as vias expressas propostas estavam as que faziam as interligações Mauá-Cumbica, Sapopemba-Guarulhos, Anchieta-Fernão Dias, Itapecerica da Serra-Pinheiros e Osasco-Cumbica.

O livro aponta que o projeto foi considerado de alta qualidade técnica, mas poucos trechos acabaram sendo construídos. Já outros foram modificados em seu projeto original. O professor conta que, em um desses trechos, no bairro de Pinheiros, na região Oeste da cidade, a via expressa era formada pela avenida Sumaré, pegava a avenida Paulo VI, passava por trás do cemitério São Paulo, atravessava o Rio Pinheiros e continuava por uma avenida ao longo do córrego Pirajussara.

“Um dos motivos que impossibilitou a execução desse projeto original foi o alto custo das desapropriações no bairro de Pinheiros”, esclarece Zmitrowicz. De acordo com o professor, a proposta do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado desagradou a muita gente, pois grupos muito influentes na cidade queriam que fosse dada prioridade para a construção de avenidas com acesso a lotes em locais em que pudesse haver valorização imobiliária através da verticalização dos edifícios, como a avenida Brigadeiro Faria Lima, no bairro de Pinheiros (zona Oeste).



Sistema integrado de transporte rápido coletivo da cidade de SP - rede metroviária proposta em 1968

Histórico
Em 1950, a região metropolitana de São Paulo tinha uma população de 2,7 milhões de habitantes. Em 2000, eram 16 milhões de pessoas, sendo 10 milhões apenas na capital. O livro apresenta, inicialmente, um histórico do planejamento urbano da cidade desde meados do século XIX até meados do século XX. Em seguida, traça comentários sobre o Plano de Avenidas, datado de 1930, proposto pelo engenheiro Francisco Prestes Maia, que passou a implantá-lo quando prefeito, no período 1938-1945. Por fim, o livro apresenta a implantação dos principais projetos viários executados na cidade entre 1950 e 2000: a ligação Centro-Pinheiros (avenidas Consolação, Rebouças e Eusébio Matoso); a ligação Centro-Aeroporto (avenidas 23 de Maio e Rubem Berta); a ligação Leste-Oeste; as avenidas ao longo de ferrovias; as avenidas nos vales dos rios Tietê e Pinheiros; o sistema de vias expressas; os anéis viários e as avenidas de fundo de vale. O livro mostra os projetos originais dessas obras e o que foi, de fato, executado. Traz ainda dezenas de imagens (de arquivo, de satélite e pessoais) dos projetos originais de pontes, viadutos, avenidas, etc, e das obras executadas, além de mapas de várias épocas e regiões da cidade.

O professor explica que na primeira metade do século XX a proposta de planejamento da cidade era a de um sistema radioconcêntrico, com vias radiais saindo do centro, interligadas a perimetrais que cruzavam essas outras avenidas, além de um ‘Y’, formado pelas avenidas Anhangabaú (atual Prestes Maia), Itororó (futura 23 de Maio) e Nove de Julho, todas na área central da cidade . Depois, começam a surgir novas ideias, como as vias expressas e as marginais. “No projeto original, as marginais seriam construídas em apenas um dos lados do rio. Depois elas acabaram sendo aproveitadas como vias expressas, formando um anel viário”, comenta o professor.



Zmitrowicz explica que como existiam muitos córregos ao longo das marginais dos rios Tietê e Pinheiros, optou-se por fazer avenidas ao longo deles, pois o custo era menor. Isso acabou formando as chamadas ‘espinhas de peixe’: várias avenidas saindo ao longo de uma via principal. “Quando as encostas dos morros começaram a ser ocupadas, impermeabilizando o solo, as águas passaram a correr para os vales, exatamente onde estão as avenidas, provocando alagamentos”, aponta.

Durante mais de 30 anos Zmitrowicz trabalhou como engenheiro da Prefeitura de São Paulo e pode acompanhar vários projetos elaborados para a cidade. Em 1974, passou a lecionar planejamento urbano na USP, inicialmente na FAU e depois na Escola Politécnica. Ele e Borghetti tiveram a idéia de escrever o livro ao perceberem que havia um vasto material histórico sobre os projetos propostos para a cidade – como mapas de diferentes épocas e regiões de São Paulo, projetos de ruas, avenidas, pontes, metrô, etc. – em arquivos municipais. E que este material corria o risco de se perder.

O livro Avenidas 1950-2000 – 50 anos de Planejamento da cidade de São Paulo foi lançado pela Edusp no último mês de dezembro.

Imagens retiradas do livro Avenidas 1950-2000 – 50 anos de Planejamento da cidade de São Paulo


Mais informações: (11) 3091-5107 ou email witold.zmitrowicz@poli.usp.br, com o professor Witold Zmitrowicz

Fonte:http://www.usp.br/agen/?p=17577


< voltar