Mais eficiência energética na indústria

Data: 04/02/2010

Mais eficiência energética na indústria


Apesar da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) ter aumentado de 2,5% para 3% a expectativa de ganhos em eficiência energética na demanda global de eletricidade até 2018, esse número ainda me parece pequeno diante das possibilidades de ganhos concretos pela evolução tecnológica das redes inteligentes e tecnologias associadas. Isso sem entrar no mérito da indústria como um todo e dos incentivos efetivos à geração distribuída em pequena escala.

Entendo que o Brasil teve os traumas do racionamento em 2001/2002 e do recente apagão (que teve natureza bem diferente do racionamento). Diante desses episódios, é natural aflorar o espírito de conservadorismo e prudência das autoridades do setor.

Isso é muito positivo em um País que ainda tem desafios de inclusão social e de aumento do consumo das famílias, como decorrência da melhoria da qualidade de vida que temos experimentado nos últimos anos e devemos seguir desenvolvendo.
Mas esse conservadorismo, por outro lado, pode também desencorajar ações efetivas e concretas na busca da eficiência energética possível de ser obtida, e manter esvaziados os programas de fomento nessa área, que têm sistematicamente sido realizados abaixo das disponibilidades orçamentárias do próprio governo.

Além disso, a mentalidade de eficiência acaba sendo trocada pela extremada prioridade de expansão, a custos e qualidade nem sempre otimizados, como ocorreu no caso das térmicas recentemente. Isso desestimula a busca por novas tecnologias que estão sendo priorizadas por outros países que não têm alternativas como dispomos no Brasil. Mas essas novas tecnologias acabarão, em muito pouco tempo, se transformando no estado da arte da energia do futuro.

O que podemos perceber são governos de outros países trabalhando de forma agressiva em novos projetos de energia. Primeiramente estão usando as disponibilidades de verbas dentro da própria máquina pública para aumentar a eficiência energética. Os recursos estão sendo destinados em prédios da administração direta no nível federal, estadual e municipal, servindo de exemplo e encorajando os demais setores da economia a fazer o mesmo.

Por aqui, também é preocupante o fato de que projetos de redes inteligentes e automação de uso, tarifas diferenciadas para os diferentes horários de consumo e abertura de mercado para a baixa tensão, geração de energia em pequena escala e de forma local, interligação em micro-redes e redes internas em corrente contínua parecem não terem sido considerados nos estudos da EPE. Na rápida leitura do relatório que tivemos oportunidade de realizar, não encontramos referências a essas tecnologias.

O Governo Federal, através de empresas como a EPE e em articulação com outros órgãos e empresas, poderia ter um papel mais atuante também na área legislativa de promoção do uso eficiente em prédios e em atividades industriais, fomentando desenvolvimento científico e econômico real nessas áreas, e estabelecendo metas da ordem de 5% a 7% para o período até 2018, o que é absolutamente possível. Não custa lembrar que, no racionamento de 2001/2002, a redução do consumo nas residências chegou, sem grandes esforços, a mais de 20%.

Caso contrário, corremos o risco de insistir no modelo antigo baseado apenas na expansão do parque gerador e ficarmos tecnologicamente defasados. São necessários incentivos oficiais e inclusão dessas tecnologias na pauta e principalmente nas projeções oficiais do governo e de seus órgãos.

Por Cyro Vicente Boccuzzi (Sócio-presidente da ECOee Energia Eficiente)
Fonte: Agenda Sustentável/ Fábio Couto, da Agência CanalEnergia (http://www.agendasustentavel.com.br)
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