Estudo pode criar nova ferramenta no combate a doenças como a dengue
Um trabalho desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Queensland, em Brisbane, na Austrália, sugere que uma bactéria comum pode ser eficaz no combate a doenças como a dengue. A estratégia, segundo os autores, é infectar mosquitos vetores de doenças, como dengue e malária, com a bactéria wolbachia, comum em 60% dos insetos. A bactéria, que não sobrevive fora das células, seria capaz de fortalecer o sistema imune de mosquitos, além de diminuir a sua longevidade. Apenas a presença da bactéria já aumenta a expressão de alguns genes de imunidade no inseto, explica o pesquisador do Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/ Fiocruz Minas) e coautor do trabalho, Luciano Moreira.
Não está totalmente claro, entretanto, de que maneira a wolbachia atua no organismo de mosquitos vetores. De acordo com Moreira, outros fatores também podem estar atuando: como a bactéria é intracelular e os vírus também precisam de nutrientes celulares para sobreviver e se reproduzir, pode estar ocorrendo uma competição por recursos.
Quanto ao risco de mosquitos, como o Aedes aegypti, tornarem-se resistentes ao efeito da bactéria, o autor explica que é preciso considerar a possibilidade. Contudo, ressalta que a wolbachia, ao reduzir a vida do mosquito, diminui a população de mosquitos infectados. Caso algum mosquito escape dessa redução da longevidade, temos o bloqueio que a bactéria está causando nos insetos, afirmou. Ele aponta, contudo, que outro vetor da dengue, o Aedes albopictus, hospeda duas cepas diferentes de wolbachia e, aparentemente, não apresenta nenhum desses efeitos.
Moreira diz que o grupo envolvido com a pesquisa não tinha, inicialmente, ideia dos efeitos que a bactéria poderia causar no organismo desses insetos. Um outro trabalho demonstrou que moscas-das-frutas (drosophila) que tinham a bactéria estavam sendo protegidas contra vírus específicos daquele inseto. E aí queríamos saber qual seria o efeito para as importantes doenças como dengue, chikungunya e malária, comentou.
O pesquisador conta que esse trabalho faz parte de um projeto que reúne cientistas de vários países e que atividades em nível inicial já estão em prática na Austrália, no Vietnã e na Tailândia. A ideia, segundo ele, é iniciar a liberação em campo de mosquitos infectados no fim de 2010, na Austrália. A pesquisa publicada pela revista Cell (para testar o bloqueio aos patógenos) levou menos de um ano. A inserção de wolbachia nos mosquitos Aedes aegypti, que naturalmente não têm a bactéria, levou mais de quatro anos. O trabalho foi desenvolvido na Universidade de Queensland. A etapa de infecção de mosquitos vetores da malária aviária ocorreu na Fiocruz Minas.
Fonte: http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=3093&sid=9
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