Geleiras, derretimento sem precedentes

Data: 21/12/2009

Geleiras, derretimento sem precedentes


A população da cordilheira do Himalaia tem cada vez mais problemas devido ao aumento da temperatura global e do derretimento das geleiras a um ritmo sem precedentes. Nada que o mundo não soubesse. Mas os especialistas continuam afirmando que não há dados confiáveis nem precisos sobre as geleiras do Himalaia nem sobre muitos aspectos de seu ecossistema que facilitem a adoção de medidas para mitigar as atuais e futuras consequências da mudança climática nessa região da Ásia.

O primeiro-ministro do Nepal, Madhae Kumar Nepal, reconheceu o fato quando apresentou a situação e exortou os países da região a determinarem em conjunto as consequências da mudança climática no que se costuma chamar de “terceiro polo”. Isso ocorreu em um encontro à margem da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), que terminou sexta-feira, sem o esperado acordo.

Os representantes e delegados das nações presentes na capital dinamarquesa deveriam acordar objetivos mais drásticos em matéria de redução de emissões de gases-estufa, causadores do aquecimento global, para as nações em desenvolvimento e outros mais para os que não assinaram o Protocolo de Kyoto, cujas metas expiram em 2012.

O Himalaia, que abrange seis países (Afeganistão, Butão, China, Índia, Nepal e Paquistão) é considerado um ponto nevrálgico em matéria de mudança climática. A cordilheira divide a Índia do pequeno planalto (meseta) do Tibet. Sua bacia fornece água a cerca de 1,3 milhão de pessoas, que estão em perigo pelo derretimento das geleiras. O ministro do Meio Ambiente da Noruega, Erik Solheim, mencionou três razoes para estudar a região, primeiro, por sua beleza original. Depois porque a mudança climática teve impacto na população da zona como em nenhum outro lugar do mundo e, por fim, porque está cheia de conflitos e tensões políticas.

As geleiras da cordilheira de 33 mil quilômetros cobrem uma área de cem mil quilômetros quadrados e armazenam 12 mil quilômetros cúbicos de água. Seu rápido derretimento é atribuído ao aumento da temperatura global da Terra. “A temperatura média das terras altas do Nepal aumentou. Formaram-se 20 novos lagos pelo derretimento das geleiras que podem transbordar a qualquer momento, causando uma catástrofe. Nenhum pais da região está imune à mudança climática”, afirmou Solheim. O Nepal só é responsável por 0,025% dos gases-estufa liberados na atmosfera, segundo Kumar, e, no entanto, é uma das nações que mais sofrerão as consequências do fenômeno.

O Nepal presidiu o grupo dos 49 países menos adiantados nas negociações da COP-15. No começo deste mês, Kumar organizou uma reunião de gabinete na base militar do Everest, o ponto mais elevado da cordilheira com 5.541 metros de altitude, e localizada na fronteira com a China. “Queremos proteger o Everest do aquecimento global”, disse o primeiro-ministro nepalês. “Anunciamos um programa de 10 pontos, que inclui energia limpa, aumento da cobertura florestal em 40% e aumento da superfície da área protegida de 20% para 25%. Queremos salvar nosso patrimônio”, afirmou.

O Paquistão é o país mais vulnerável da região, afirmou Arshad Mohammad Jan, diretor-executivo do Centro de Estudos sobre o Impacto da Mudança Climática, e tem a maior rede de irrigação do mundo. O Indo, um dos rios do Himalai, é vital para essa nação e 80% de seus afluentes procedem das grandes massas de gelo. “As geleiras derretem mais rapidamente do que em qualquer outro lugar. Muitas podem desaparecer até 2035”, segundo o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), disse Jan.

“Existe o temor de que os lagos glaciais transbordem. Além disso, em algumas áreas costeiras perto de Carachi começa a se registrar certa salinidade”, acrescentou Jan. “Pode ser resolvido”, assegurou, ao ser consultado se os problemas políticos entre Índia e Paquistão impedem a colaboração e truncam a possibilidade de compartilhar informação para registrar as mudanças na cordilheira.

Por sua vez, o diretor-geral do Departamento de Meteorologia do Paquistão, Qamar-Uz-Zaman Chaudhry, foi mais otimista. “Estamos muito perto”, disse. “Trocamos dados em tempo real sobre fenômenos climáticos como os ciclones. No tocante às montanhas, precisamos trabalhar com informação”, acrescentou. O acordo, promovido pelo Banco Mundial em 1960, não foi revogado, apesar das guerras e da atual hostilidade entre os dois países.

“O Himalaia é uma região sensível em matéria de mudança climática”, assegurou Andréas Schild, diretor-geral do Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado da Montanha (Icimod), com sede em Katmandu. “É a fonte das 10 maiores bacias, das quais dependem 1,3 milhão de pessoas”, acrescentou. O Icimod fez um estudo de vulnerabilidade de algumas áreas do vale do rio Brahmaputra, na cordilheira do Himalaia.

Por outro lado, Pal Prestrud, diretor-geral do Centro de Pesquisa Ambiental e Climática Internacional, com sede em Oslo, traçou um paralelo entre estudos sobre o Himalaia e o Ártico entre 2000 e 2004. “Pode servir para compreender o Himalaia porque se parecem em muitos aspectos”, explicou. A informação é muito dispersa e para os cientistas é necessário “reuni-la, sintetizá-la e concentrar-se nela”, acrescentou. “Aumentarão as catástrofes, mas isso também pode ter o efeito positivo de reunir as pessoas, como ocorreu após o tsunami em Aceh, na Indonésia, há cinco anos, que foi totalmente reconstruída”, disse o ministro do Meio Ambiente da Noruega, Erik Solheim.

O primeiro-ministro nepalês propôs criar uma rede mundial de nações com montanhas para formar um grupo de pressão. O Conselho do Ártico também pode oferecer uma plataforma para os pesquisadores do Himalaia, disse à IPS o especialista indiano em geleiras, Syed Iqbal Hasnain, que trabalha no Instituto de Recursos e Energia, com sede em Nova Déli. (IPS/Envolverde)



(Envolverde/IPS)


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