África precisa de uma voz mais contundente

Data: 18/12/2009

África precisa de uma voz mais contundente


O primeiro-ministro da Etiópia, Meles Zenawi, causou indignação entre ativistas que participam da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15) pela declaração que divulgou junto com o presidente da França, Nicolas Sarkozy.

A reunião de Copenhague, que termina hoje, parece paralisada sem possibilidades de alcançar o ansiado acordo. O conteúdo do documento não atende as reclamações do grupo africano para redução de emissões contaminantes ou compromissos financeiros de longo prazo para ajudar a implementar medidas de mitigação, adaptação, entre outras ações no Sul em desenvolvimento.

Os representantes e delegados dos países presentes na capital dinamarquesa têm até hoje para acordar objetivos mais rígidos em matéria de redução de emissões de gases-estufa, que causam o aquecimento global, para as nações em desenvolvimento e outros mais para quem não assinou o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012 e obriga os 37 países industriais que o ratificaram a reduzir suas emissões em 5,2% até 2012 com relação aos níveis de 1990.

Mithika Mwenda, da Aliança Pan-africana por Justiça Climática, e um dos decepcionados com a atitude de Zenawi, conversou a respeito com a IPS.

IPS - Qual a posição da Aliança Pan-africana por Justiça Climática a respeito da declaração do primeiro-ministro Meles Zenawi?

Mithika Mwenda - A declaração parece contradizer a posição da África. Reforça o que querem os países ricos: que o Protocolo de Kyoto fracasse, e isto é inaceitável. É uma demonstração de que não estão comprometidos com um acordo justo em Copenhague. Querem um tratado obrigatório, o que para nós é muito ruim. Estamos realmente surpresos por ver a pessoa que se supõe deveria falar pela África cair na armadilha. Pedimos ao nosso porta-voz que consulte os outros atores antes de declarações para não contradizer a posição africana.

IPS - Quais consequências tem para a África essa declaração?

MM - Há muita indignação entre as nações africanas. Isso vai gerar discordância, isto é, divisões. Os que tentam dividir a África conseguirão. Não temos que cair na armadilha. Por isso dizemos que não agiu bem e que deve ouvir os demais. Precisamos que a África tenha uma voz forte e só podemos conseguir isso conversando entre nós.

IPS - Quanto a África está unida neste momento?

MM - É a região mais unida. Há muito intercâmbio com a conferência ministerial africana sobre meio ambiente. De fato, no último dia 16 foi discutida a declaração malauí e o grupo africano é o que impõe o ritmo aqui. É um grupo incrível graças à sua unidade. Estamos muito contentes. O bom é que a Aliança Pan-africana mantém um diálogo com nossos negociadores e outros atores e acreditamos que precisamos estar unidos e levar o trabalho adiante graças a essa unidade.

IPS - Qual posição a África deve adotar?

MM - Penso que temos de conseguir que o aquecimento global não aumente mais do que 1,5 grau. A declaração não menciona menos de dois graus. Também cremos que os US$ 10 bilhões oferecidos pelos países industriais à África para medidas de adaptação e mitigação não são suficientes. Tem de haver maior compromisso.

IPS - Quanto dinheiro a África precisará para deter os efeitos da mudança climática?

MM - Nós africamos falamos de US$ 400 bilhões ao ano nos próximos três. Compare isso com os US$ 10 bilhões que nos dão. É um insulto para a África, que será a mais prejudicada pela mudança climática.

IPS - O dinheiro é a única solução para o problema da mudança climática?

MM - Os recursos podem ter muitas formas e uma delas é o dinheiro. A questão aqui é como nos adaptamos e necessitamos fundos para isso. O dinheiro é um aspecto importante porque precisa-se dele para tudo, incluída a transferência de tecnologia para a adaptação.

IPS - Por quanto tempo a África precisará de dinheiro?

MM - Falamos que até 2020 os países ricos terão de reduzir suas emissões em 45%, em relação aos níveis de 1990, e até 2050 entre 80% e 90%. Necessitamos de fundos até então.

IPS - Isso será suficiente?

MM - Com sorte

IPS - O que esperam da COP-15?

MM - Esperamos um acordo obrigatório para as partes com uma via dupla, que mantenha e reforce o Protocolo de Kyoto. É o único acordo que obriga as nações industriais a reduzir suas emissões. Se perdermos o Protocolo de Kyoto, que, sabemos, não agrada muitos desses Estados, não haverá nenhum compromisso. Sabemos que muitas dessas nações nem mesmo se comprometeram com 5% porque não querem a única forma que têm de escapar é abandonar o acordo e negociar outro que dure mais e não menos de 10 anos. (IPS/Envolverde)





(Envolverde/Terraviva/IPS)




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