Cientistas pedem ajuda a indígenas

Data: 15/12/2009

Cientistas pedem ajuda a indígenas


Cientistas recorrem à experiência e aos conhecimentos da etnia inuit, uma das maiores vítimas do aquecimento da Terra, para compreender as devastadoras repercussões da mudança climática na zona do Ártico. “O Ártico está no epicentro da mudança climática. As tradições e práticas de subsistência dos inuit já sofreram um golpe”, disse o Conselho Circumpolr Inuit (CCI) em um chamado à ação feito na 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), na capital da Dinamarca.

“Os líderes de governo na COP-15 devem tomar as medidas mais fortes possíveis para proteger nossa terra natal no Ártico”, afirma o chamado do CCI, que representa cerca de 160 mil habitantes da etnia inuit no Canadá, Estados Unidos, Groenlândia e Rússia. Os governantes do mundo não só fazem o que podem para limitar o aquecimento global como os cientistas tampouco podem prever adequadamente as repercussões que terá a mudança climática no Ártico.

Por esse motivo, os cientistas recorrem à experiência dos inuit para interpretar os sinais do aquecimento. Pesquisadores do CCI e experientes exploradores polares, como o ecologista norte-americano Will Steger, entre outros, começaram a entrevistar caçadores, pescadores e agricultores com a intenção de conjugar a ciência com o conhecimento tradicional para compreender melhor a natureza. Os inuit, conhecedores dos padrões climáticos e da geografia de sua terra e testemunhas das alterações causadas pelo aquecimento global, foram incluídos em exercícios de mapeamento para registrar os efeitos da mudança climática nas comunidades.

A participação dos inuit também é crucial porque essas alterações aumentam as possibilidades de intervenção em seu estilo de vida, algo impossível há uma década. Kasper Brandt, um caçador inuit da Groenlândia, disse a pesquisadores do CCI que um barômetro que sua família utilizou durante gerações “já não confia no tempo”. Os “inuit não têm a mesma mobilidade de antes, devido à modernização de seu estilo de vida, por isso não são tão flexíveis para adaptarem-se às mudanças dos padrões climáticos”, explicou, Lene Holm, diretora de Meio Ambiente do CCI na Groenlândia.

As temperaturas no extremo norte sobem mais rápido do que no resto do mundo e provocam o derretimento acelerado dos gelos. Por sua vez, isto reduziu a temporada de caça, com consequências negativas para o abastecimento de alimento. A umidade no ar aumentou na primavera, o que dificulta a prática tradicional de secagem do pescado. As mudanças na região do Ártico não afetam só os inuit. As campainhas de alarme também soam pelo derretimento do permafrost (camada de gelo eterno) siberiano, que desencadearia a emissão de enormes quantidades de gases-estufa na atmosfera, acelerando ainda mais o aquecimento global provocado pela atividade humana.

O derretimento da camada de gelo na Groenlândia pode elevar em até sete metros o nível do mar, explicou em Copenhague o biólogo ambiental Stephen Schneider, da Universidade de Stanfor (EUA). Schneider, também um destacado especialista sobre mudança climática, afirmou que a pesquisa atual não é suficiente para compreender claramente a correlação entre o aumento da temperatura mundial e a alta do nível do mar. O cientista duvida que possam ser impedidas modificações drásticas do clima.

Schneider acrescentou quer chegar ao ponto de provocar a elevação de sete metros no nível do mar equivale a alcançar o cume de uma montanha em um ônibus, que depois descerá sem controle. “O problema é que supomos que o ônibus é dirigido por um profissional, quando, na realidade, está nas mãos de adolescentes que brigam entre si”, disse Schneider. (IPS/Envolverde)

Foto:
Legenda: Stephen Schneider ilustra alguns dos últimos avancos tecnológicos da NASA para estudar os efeitos das mudanças climáticas no Ártico.
Crédito:Claudia Ciobanu/IPS



(Envolverde/IPS/TerraViva)


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