Voando com a energia do sol, em Copenhague

Data: 14/12/2009

Voando com a energia do sol, em Copenhague




O avião é o meio de transporte que mais utiliza energia e combustível. Representa cerca de 3% do total de emissões de gás do planeta, uma contribuição significativa para o efeito estufa. Para os ambientalistas e amantes da aviação, o futuro pertence àqueles que puderem voar sem poluir, sem deixar rastros de sujeira no ar. A ideia de criar um avião solar não é nova. Na década de 80, foram feitas experiências nos Estados Unidos. Em 2005, no Canal da Mancha, entre Inglaterra e França, aconteceu o primeiro vôo noturno, sem tripulação.

Foi um ano depois, em 2006, que a paixão pela aviação e o sonho de voar utilizando somente a energia do sol juntou Bertrand Piccard e André Borschberg num ambicioso projeto. Piccard carrega no sangue a longa tradição da família por aventuras e desafios. O avô, Auguste, bateu duas vezes o recorde mundial por atingir a maior altitude num vôo de balão, em meados da década de 30. O pai de Bertrand, Jacques, engenheiro e oceanógrafo, desenvolveu veículos subaquáticos para explorar as correntes oceânicas. Até hoje é um dos únicos pesquisadores em todo mundo a ter chegado a um dos pontos mais profundos do oceano. Já Bertrand, que além de engenheiro aeronáutico, também é psiquiatra, ficou famoso mundialmente por ter realizado o primeiro vôo de balão ao redor do planeta - sem escalas, em 1999.

Borschberg, graduado no famoso MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusetts, foi piloto da Força Aérea Suíça. À frente do projeto Solar Impulse, ele administra uma equipe de 50 profissionais – engenheiros, físicos e técnicos, todos comprometidos em colocar no ar o maior avião solar do mundo. Em junho passado, Piccard e Borschberg organizaram um grande evento para mostrar o protótipo do HB-SIA e, agora, será a vez do público que circula pela COP15, em Copenhague, conhecer esse projeto. Será no dia 18 de dezembro, às 13 h, no Victor Borge Room.

À primeira vista o que mais chama a atenção no Solar Impulse é a envergadura da asa: 63 metros (igual a de um Airbus A340). Levíssimo, com uma estrutura de fibra de carbono, pesa pouco mais de uma tonelada e meia, praticamente o mesmo que um carro de passeio. O protótipo foi desenvolvido com os chamados intelligent light materials (materiais inteligentes leves). As asas são completamente cobertas por painéis solares, que recarregam as baterias de lítio polímero.

Foram seis anos de trabalho e 46 milhões de euros para chegar até esse ponto do projeto. O próximo e, importantíssimo passo, é fazer uma viagem com duração de 36 horas. Mas antes disso, a primeira conquista será realizar apenas um vôo noturno. Um dos principais desafios é fazer com que a energia solar não só mantenha o avião funcionando, mas também consiga recarregar as baterias durante a noite. O piloto precisa ter o máximo de baterias carregadas para poder voar até o amanhecer. Para os painéis solares, o dia começa tarde e termina cedo, afinal, se o sol estiver muito baixo no horizonte, menos eficientes são seus raios para recarregar as baterias.
Estima-se que o avião só conte com oito horas diárias de luz. “Vencer um desafio desse tamanho só será possível fazendo o máximo uso da energia solar. Cada watt será indispensável e estamos buscando maneiras de economizar ao máximo energia. Para isso, vamos empregar algumas tecnologias nunca utilizadas anteriormente”, afirma André Borschberg.

Os primeiros vôos experimentais serão realizados em 2010, mas os dois . Como o HB-SIA só conseguirá voar em baixas velocidades (máximo de 70km), o piloto precisará manter um grande controle da aeronave no ar. Nos últimos meses, a equipe do Solar Impulse tem realizado vários testes em simuladores. Em um deles, o piloto passou 25 horas num vôo virtual dentro do cockpit de apenas 1.3 m³.

Várias vezes nas últimas semanas, o protótipo deixou o hangar onde está sendo aprimorado em Dübendorf, próximo a Zurique. O HB-SIA passou por provas de aceleração, frenagem, controle da aeronave e força do motor. Os pequenos vôos já emocionam o grande idealizador do projeto. “É maravilhoso ver um sonho se tornar realidade. Nos últimos dez anos eu imaginei um avião solar capaz de voar dias e noites sem combustível – e promovendo a energia renovável. É como ver o nascimento desse avião pela primeira vez”, conta Bertrand Piccard. Entretanto, o piloto admite que ainda há um longo caminho a ser percorrido. “Dessa fase inicial de testes até a circunavegação do mundo faltam ainda muitos passos”.

Se tudo der certo, a esperada viagem de volta ao mundo, em 2012, será feita em cinco etapas, de cinco dias cada. Até lá , o protótipo será substituído por um novo avião – o HB-SIB. O próprio Piccard acredita que dificilmente haverá uma aeronave comercial usando energia solar no futuro. Entretanto, mais do que realizar um sonho, os suíços querem deixar um legado sobre o uso de novas tecnologias e um alerta sobre a necessidade imediata da utilização de energias renováveis no nosso dia-a-dia. É só olhar para trás e ver que isso é possível. Um dia o carro elétrico foi um protótipo. Hoje ele já é realidade em várias ruas do mundo. “Se uma aeronave pode voar sem combustível, somente com a força do sol, quem poderá dizer que será impossível fazer o mesmo com carros, aquecimentos, sistemas de ar-condicionado ou computadores? O Solar Impulse mostra nossa convicção de que um espírito pioneiro aliado à visão política podem mudar a sociedade e acabar com a dependência nos combustíveis fósseis”, sonha Bertrand Piccard.

DADOS TÉCNICOS DO AVIÃO SOLAR
Envergadura da asa – 63 m
Comprimento avião – 21 m
Altura do avião – 6,40 m
Peso – 1.600 kg
Força do motor – 4 X 10 HP
Células solares – 11.628 (cerca de 11 mil na asa e 880 no estabilizador)
Velocidade média de vôo – 70 km/h
Velocidade de decolagem – 35 km/h




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