Mudanças climáticas podem afetar a saúde mental

Data: 11/12/2009

Mudanças climáticas podem afetar a saúde mental


Não chega a ser a Lei de Murphy, mas é por aí. Quando uma coisa sai errado, a tendência é de que outras também saiam.

O aquecimento global não é um fenômeno repentino, como está claro em todos os estudos sobre o tema. Mas está claro também que ele já começou. E, como não é repentino, vamos passar a senti-lo cada vez mais intensamente. Para a maioria, por enquanto, confortavelmente acomodada no sofá da sala, diante da televisão. Mas para cada vez mais pessoas, na própria pele.

Nas recentes chuvas que atingiram São Paulo, os transtornos foram vários e atingiram milhares, ou milhões, de pessoas: trânsito, enchentes, deslizamentos de terra e morte. Entre segunda (07/12) e terça-feira (08/12), as chuvas que caíram na região metropolitana deixaram seis mortos e um desaparecido. Em oito dias choveu 70% do esperado para todo o mês, com sete vítimas fatais. Nesse período, em todo o Estado já se registraram pelo menos 23 mortes provocadas pelas chuvas.

Por trás deste problema, considerado um dos piores pesadelos dos paulistanos, está a dor e o sofrimento daqueles que perderam familiares e bens materiais devido às constantes chuvas e enchentes. Segundo especialistas, situações como essas podem gerar prejuízos à saúde dos atingidos, favorecendo o surgimento de casos de adoecimento mental.

“Cerca de 20% das pessoas que sobrevivem a catástrofes naturais, como as enchentes que atingiram o Estado de Santa Catarina, por exemplo, poderão desenvolver desequilíbrios emocionais ou psíquicos por conta das situações traumatizantes enfrentadas”, de acordo com o psiquiatra José Toufic Thomé, coordenador da Comissão Técnica de Intervenção em Desastres e Catástrofes da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Segundo o especialista, é importante que a população atingida receba atenção adequada, para diminuir o impacto da perda de familiares, amigos e bens materiais sobre sua saúde mental. “Quando a pessoa é exposta a um stress intenso, numa realidade que desorganiza sua vida, sofre uma ação de violência abrupta. Seus recursos psíquicos não têm condições de se organizar imediatamente para se resolver perante o que está acontecendo podendo adoecer”, explica o médico.

A própria Associação Brasileira de Psiquiatria, através de uma parceria com a Secretaria Estadual de Saúde de Santa Catarina, está realizando um programa de prevenção e promoção de saúde mental naquele Estado. A entidade possui um grupo especializado no assunto, a Comissão Técnica de Intervenção em Desastres e Catástrofes, que estuda as iniciativas mais eficientes para diminuir a incidência de transtornos na população afetada pelas enchentes e deslizamentos que atingiram a região no final de 2008.

O objetivo dos especialistas é avaliar a situação após as enchentes e desenvolver capacitações com os cuidadores dos vários segmentos que tomam parte na ação emergencial, para que desenvolvam e possam planejar intervenções preventivas em saúde mental, e prevenção de futuros desajustes emocionais e sociais, encaminhando a população para atendimentos especializados.

Mas seqüelas de catástrofes freqüentes se espalham em diversos campos, além do psicológico, em decorrência da extrema interdependência da vida das pessoas, em nossa sociedade. Os prejuízos financeiros, que geram desemprego, o desabastecimento que causa fome, a contaminação da fontes de água, as epidemias, o colapso do sistema de saúde, a falta de moradia e as inúmeras conseqüências sociais desse quadro todo exigem que as medidas de adaptação comecem imediatamente, com o desenvolvimento de estudos, planos e políticas públicas adequadas para as dificuldades que vamos ter de enfrentar, queiramos ou não.



(Agência Envolverde)




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