Indígenas levantam a voz em Copenhague

Data: 11/12/2009

Indígenas levantam a voz em Copenhague


As negociações sobre mudança climática que acontecem até dia 18 em Copenhague devem levar em conta as reclamações dos povos indígenas, os mais prejudicados – e os menos responsáveis – pelo aquecimento do planeta, afirmam ativistas. “Temos direito à nossas terras e ao nosso meio ambiente”, disse Malia Nóbrega, do Fórum Internacional de Povos Indígenas sobre a Mudança Climática (IIPFC), presente na capital dinamarquesa.

“Esta crise climática ameaça a própria sobrevivência dos povos indígenas, em particular dos que dependem das florestas e dos gelos, e dos pequenos Estados insulares e comunidades locais”, disse o IIPFCC em um texto proposto para as negociações em Copenhague, que vão até o próximo dia 18. A 15ª Conferencia das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas Sobre a Mudança Climática (COP-15) tentar chegar a um novo tratado para a redução de emissões de gases contaminantes, responsáveis pelo aquecimento global. O texto deverá dar continuidade ao Protocolo de Kyoto, cujas metas expiram em 2012.

As florestas significam mais do que sua capacidade de absorção de dióxido de carbono (principal gás-estufa) para os povos indígenas e comunidades locais. Têm uma importância histórica, cultural e espiritual para eles. Joan Carling, secretária-geral da organização Asia Indigenous Peoples Pact (AIPP), disse que os povos indígenas do mundo sabem que a principal causa da mudança climática são os países desenvolvidos. “Também sabem que os indígenas têm a melhor marca de carbono (quantidade de gases-estufa emitidos), mas são os mais prejudicados pela mudança climática”, acrescentou.

Como os países industriais são os principais responsáveis pelo aquecimento do planeta, a AIPP considera que é seu dever assumir o compromisso de reduzir seriamente suas emissões de gás-estufa e financiar as medidas de mitigação da mudança climática e a transferência de tecnologia para o Sul em desenvolvimento. “Isto é para reconhecer sua divida histórica”, afirmou Carling. Os povos indígenas também proporcionam soluções que recorrem aos seus conhecimentos tradicionais, inovações e práticas próprias, especialmente em relação à mitigação das repercussões da mudança climática. Neste ponto, argumentam que geriram os ecossistemas durante gerações, fomentando sua integração e complexidade de maneiras sustentáveis e culturalmente diversas.

Entre essas maneiras incluem-se o pastoreio móvel nas zonas áridas e montanhosas, a rotatividade de cultivos e a agricultura ecológica nas regiões tropicais, e a conservação, gestão e restauração de outros ecossistemas naturais, como mangues, savanas e terras úmidas. Mas Carling afirma que isto não é reconhecido. Nóbrega acredita que o desenvolvimento não deve ser detido, mas orientado pelo conhecimento tradicional dos povos indígenas. “Nossos ancestrais cuidaram da Mãe Terra por muito tempo. Agora devemos garantir que a teremos para as gerações futuras”, afirmou.

O equatoriano Johnson Cerda, assessor do Programa dos Povos Indígenas e Tradicionais da organização Conservação Internacional, disse que quando se fala da tecnologia os países em desenvolvimento apenas se referem à transferência de conhecimento pelo Norte industrial aos países pequenos. “Também há conhecimento em nossas comunidades. Vêem as florestas? Sabem como trabalhamos para conservá-las durante séculos?”, perguntou Cerda.

Redução das emissões derivadas do desmatamento e da degradação ambiental é algo que os povos indígenas fizeram durante séculos assegurou. “Agora outros tentam reinventar porque há dinheiro ali”, insistiu Cerda. “Os povos indígenas têm o conhecimento para a adaptação e mitigação, mas não têm acesso aos fundos”, acrescentou. Quanto a Carling, se preocupa o fato de o REDD (Programa das Nações Unidas de Redução de Emissões Causadas pelo Desmatamento e pela Degradação das Florestas) estar implementado em alguns países sem consultas nem intercâmbios de informação com as comunidades indígenas. Assim, a responsabilidade por tudo recai sobre as fontes de financiamento, entre elas o Banco Mundial, explicou.

Joseph Ole Simel, diretor-executivo da organização Manyoito Pastoralist Integrated Development Organisation, do Quênia, acredita que o texto em discussão em Copenhague nem mesmo reconhece os indígenas como seres humanos. “Portanto, não gozamos de direitos”, disse. Os povos indígenas estão presentes na capital dinamarquesa “porque sofrem um forte impacto em suas vidas devido à mudança climática”. Toda negociação deve levar em conta os direitos dos povos indígenas “para que não sejamos vitimas nem sujeitos da mitigação”, ressaltou Simel. (IPS/Envolverde)



(Envolverde/IPS/TerraViva)


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