Pasta de dente que evita fluorose

Data: 09/12/2009

Pasta de dente que evita fluorose


Um creme dental com baixa concentração de flúor e um pH mais ácido, além de ajudar na prevenção de cáries, evita também a ocorrência de fluorose em crianças. Esse dentrifício foi desenvolvido na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP por uma equipe coordenada pela professora Marília Afonso Rabelo Buzalaf.


Durante 20 meses 1400 crianças testaram o produto, que se mostrou eficazA fluorose é a ocorrência de manchas nos dentes causadas pela ingestão excessiva de flúor quando os dentes estão sendo formados (de 1 a 7 anos, para os dentes permanentes). “Esta ingestão pode acontecer a partir de várias fontes, entre elas a pasta de dente ingerida durante a escovação”, explica a professora Marília. “Quando a quantidade de flúor ingerida é muito grande, podem ocorrer fissuras nos dentes e eles adquirem uma pigmentação amarronzada, mas o mais comum são manchas esbranquiçadas e opacas”, completa. A fluorose só acontece com crianças, enquanto os dentes estão em formação.

O flúor, porém, é conhecidamente um grande aliado no combate às cáries, tanto que várias cidades brasileiras contam com o sistema de fluoretação da água e a maior parte dos dentifrícios presentes no mercado contém flúor. No caso das pastas de dente, quanto maior a quantidade de flúor, maior será a proteção contra cáries. “Entretanto aumentará, também, o risco de ocorrência de fluorose pela ingestão inadvertida”, destaca a professora.

De acordo com Marília, uma das possibilidades de reduzir esse risco seria diminuir a quantidade de pasta usada pelas crianças durante a escovação. Mas essa estratégia seria de difícil aplicação, pois seria necessário a supervisão de um adulto em todas as escovações, o que nem sempre é possível.

Flúor
Os pesquisadores da FOB tiveram, então, a idéia de desenvolver um dentrifício com um teor reduzido de flúor. Nos convencionais, esse teor é de 1.000 a 1.500 miligramas de flúor por quilo (mg/kg) de pasta. A proposta desenvolvida na FOB tinha 500 mg/kg de flúor. “Mas em termos de saúde pública, seria muito arriscado apresentar um produto com esse teor de flúor, pois não ainda não se sabe se sua eficácia anticáries seria a mesma de um dentifrício convencional [com 1.000 mg/kg de flúor">”, destaca a professora.

Marília conta que além de alterar a quantidade de flúor do dentrifício, os pesquisadores reduziram o pH da formulação. Nas pastas convencionais o pH é neutro (7); na fórmula desenvolvida pelos cientistas, o pH era ácido (4,5). Com isso, os cientistas conseguiram desenvolver um produto eficaz na prevenção das cáries, apesar de a quantidade de flúor do produto ter sido reduzida.

Os testes foram realizados pelo pesquisador Fabiano Vilhena, doutor em Biologia Oral pela FOB, com colaboração de Alberto Carlos Botazzo Delbem, professor associado de Odontopediatria da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araçatuba. Eles testaram o dentrifício em 1.400 crianças com idades entre 4 a 5 anos, da rede pública municipal de ensino da cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo.

Durante 20 meses, essas crianças usaram a formulação desenvolvida na FOB de duas a três vezes ao dia, sendo uma delas na escola. A quantidade de dentrifício usada na escova foi de 0,15 gramas de pasta, cerca de uma gota do produto. “A formulação desse dentrifício é mais líquida”, esclarece a professora. “Com as pastas convencionais é utilizado cerca de 0,5 gramas de dentrifício, quando o produto é colocado na transversal da escova”, completa. Os testes mostraram que o produto desenvolvido da FOB foi tão eficaz quanto as pastas de dente convencionais, com o dobro de flúor e pH neutro.

Patente
A professora Marília informa que a fórmula já foi patenteada pela Agência USP de Inovação. “A Universidade busca, atualmente, parceiros interessados em colocar o produto no mercado”, informa.

Em 2008, o dentrifício com baixa concentração de flúor e pH mais ácido desenvolvido na FOB foi o ganhador da Olimpíada USP de Inovação, uma competição voltada para pesquisadores da Universidade. No último mês de novembro, o produto foi classificado como um dos finalistas do Prêmio Saúde, oferecido pela Editora Abril por meio da Revista Saúde, e cuja premiação aconteceu no dia 24, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Foram cerca de 400 trabalhos inscritos, em sete áreas diferentes. A FOB concorreu na categoria “Saúde da Criança”, que teve 86 projetos participantes. A pesquisa ficou entre os três primeiros colocados, sendo o único trabalho da Odontologia entre os 21 finalistas nas sete categorias.

Agora os pesquisadores pretendem testar o produto em uma outra região brasileira, que não tenha projeto de fluoretação da água, como acontece em São José dos Campos. De acordo com Marília Buzalaf, os testes serão feitos no Estado da Paraíba, em uma cidade ainda a ser definida. Este projeto terá a participação do professor Fábio Correa Sampaio, da Universidade Federal da Paraíba.


Fonte: Agência USP de Notícias


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