A política não é a causa do derretimento

Data: 26/11/2009

A política não é a causa do derretimento


Enquanto cientistas defendem seu trabalho contra os céticos da mudança climática, um novo informe procura fornecer evidência atualizada sobre o fenômeno, faltando poucos dias para a conferência internacional de Copenhague.

O informe “The Copenhagen Diagnosis: Updating the World on the Latest Climate Science” (O diagnóstico de Copenhague: atualizando o mundo sobre a recente ciência climática) procura preencher a lacuna de informações entre a última avaliação do IPCC, de 2007, e a reunião que acontecerá na capital dinamarquesa entre 7 e 18 de dezembro.

O documento foi apresentado terça-feira (24/11), no mesmo momento em que os céticos da mudança climática denunciam no Congresso dos Estados Unidos, e em diversos jornais, uma série de mensagens de correio eletrônico e documentos que – afirmam – revelam a manipulação de dados por parte dos cientistas para apresentar o aquecimento planetário como um fenômeno causado pelo homem. Os documentos foram roubados da Unidade de Pesquisa Climática de East Anglia. O que o informe divulgado terça-feira descobriu é que a mudança climática se produz num ritmo maior do que o projetado pelo IPCC, baseando-se na informação disponível de apenas três anos atrás.

“Não somos o IPCC nem estamos criticando o IPCC. Só estamos dizendo que a ciência não se deteve desde o último estudo” desse grupo, afirmou Richard Somerville, coordenador do último trabalho do IPCC e um dos 26 autores do informe apresentado esta semana. “Há nova ciência, e também há mais três anos de informação”. Os autores rapidamente esclareceram que o estudo é simplesmente ciência, destinada aos encarregados de elaborar as respostas políticas à mudança climática, não uma receita sobre quais devem ser essas ações.
“Como vimos repetindo, somos cientistas do clima, não políticos. Portanto, estamos assinalando o que indica a ciência, não as ações que devam ser tomadas”, esclareceu Somerville. “Não existem teorias da circulação do oceano liberais ou conservadoras. Não há política envolvida no derretimento das camadas dos gelos. É o que é”, disse, por sua vez, Michael Mann, outro autor e também principal encarregado do terceiro informe do IPCC em 2001.
Uma das descobertas mais significativas deste último estudo – que não está oficialmente ligado ao IPCC – é o fato de as emissões mundiais de dióxido de carbono terem sido cerca de 40% maiores em 2008 do que em 1990. Isso significa que se mantivermos os níveis atuais de emissão pelos próximos 20 anos, o planeta poderá esquentar mais do que dois graus, que é a meta fixada pelos líderes mundiais, disse Mann na terça-feira.

O que se infere disto é que, “se continuarmos queimando no ritmo anual, nos restarão 20 anos, então temos de parar imediatamente. Isso, obviamente, não é nada realista”, disse o coautor Eric Steig, professor de ciências da Terra e do espaço na Universidade de Washington. A única solução, afirmou, é reduzir as emissões dos gases causadores do efeito estufa. Algumas das conclusões concordaram com informes passados, como o firme aumento das temperaturas ao ritmo de 0,19 graus por década nos últimos 25 anos. Fato que, visto à luz do aumento das emissões de gases-estufa, ilustra as origens humanas do fenômeno, destacam os autores.

“As flutuações naturais e de curto prazo ocorrem como de costume, mas não há mudanças significativas na tendência subjacente de aquecimento”, diz o informe para explicar como padrões climáticos frios causados por fenômenos como El Niño e La Niña não significam que a mudança climática não seja uma ameaça, como sugerem alguns. Mas, o mais impactante são as recentes descobertas de que o aquecimento global vai mais rápido do que o previsto pelo IPCC em 2007.

O derretimento do gelo no Ártico desde então, por exemplo, tem sido 40% maior do que a média prevista pelos modelos naquele estudo. Satélites mostram que, devido a este derretimento, os níveis do mar aumentaram aproximadamente 3,4 milímetros ao ano nos últimos 15 anos, cerca de 80% mais do que o calculado pelo IPCC. Isto significa que os mares aumentarão um metro ou mais até o final deste século, segundo Mann. (IPS/Envolverde)



(Envolverde/IPS)


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