Brasil pode perder R$ 3,6 trilhões por causa do aquecimento global

Data: 25/11/2009

Brasil pode perder R$ 3,6 trilhões por causa do aquecimento global


O Brasil pode perder R$ 3,6 trilhões até 2050 em razão dos impactos provocados pelas mudanças climáticas, o que equivaleria a jogar fora um ano de crescimento econômico nos próximos 40 anos. O dado faz parte do estudo Economia das Mudanças do Clima no Brasil, que reuniu equipes de instituições reconhecidas como USP, UFRJ, Unicamp e Embrapa.

O levantamento foi inspirado no Relatório Stern, que analisou economicamente os problemas causados pelo aquecimento global no mundo. De acordo com o estudo, a perda para o País significa uma redução do PIB em 2,3% em 2050. "As pessoas podem achar que não é muito, mas a crise financeira mundial foi estimada em 2% do PIB global", afirmou Sergio Margulis, pesquisador cedido pelo Banco Mundial e um dos coordenadores técnicos do estudo. A perda para o cidadão também foi estimada e pode chegar a até R$ 1.603 ao ano.

As regiões mais afetadas no País serão a Amazônia e o Nordeste. Para Carolina Dubeux, ligada à Coppe/UFRJ e também coordenadora técnica do trabalho, é importante ressaltar que haverá um aumento das "disparidades regionais" com a subida da temperatura global. "O Brasil, como é um País continental, tem várias regiões que sofrem diferentes impactos do clima. Se fosse um país pequeno, o problema incidiria de forma mais ou menos uniforme. "

O Rio Grande do Sul, por exemplo, deve ter menos geada. "Isso significa que a agricultura vai ter menos perdas no Sul. Mas, enquanto o Sul não sofre ou até ganha um pouco, o Nordeste fica numa situação bastante pior. Esse aumento da disparidade regional vai na contramão do esforço que o País tem feito para ficar menos desigual", diz ela.

No Nordeste é prevista uma diminuição das chuvas entre 2 e 2,5 milímetros por dia até 2100. Isso afetaria a pecuária, com redução de 25% na capacidade de pastoreio de bovinos de corte.

O setor de energia também será prejudicado. Com a variação da disponibilidade de água, haverá perda da energia firme em até 31,5%. A energia firme é a energia média gerada no período crítico do sistema. "Vamos ter que fazer investimentos que vão ficar a maior parte do tempo parados para serem usados como backup quando secar bastante", diz Carolina. Na agricultura, as projeções também não são animadoras - só a cana teria aumento de área cultivável. Os maiores danos são para soja, milho e café.

Margulis acrescenta que nem todas as descobertas da pesquisa são negativas. "Um bom achado do nosso estudo é que, quanto mais limpo você cresce, melhor. Há oportunidades." O estudo utiliza dois cenários: A2-BR (o aumento médio da temperatura pode chegar a 5°C, as emissões de gases estufa são maiores e os impactos também) e o B2-BR (aumento médio na temperatura de 3°C, as emissões e os impactos são menores). A pesquisa conclui que, com ou sem mudança do clima, o PIB é sempre maior no cenário B2-BR - ou seja, quando há menos emissões de gases-estufa. A pesquisa adotou 2050 como horizonte das simulações, porém algumas análises setoriais ultrapassam esse ano.

A região amazônica é onde deve ocorrer o maior aumento da temperatura - a elevação pode chegar a 8°C em 2100. O efeito será uma transformação drástica na paisagem: 40% da cobertura florestal na área sul-sudeste-leste da Amazônia seria substituída por savana.

A perda de serviços ambientais da Amazônia, como fornecimento de água, regulação do clima, proteção do solo e geração de matéria prima, é estimada em US$ 26 bilhões ao ano. Já a perda de espécies na Amazônia pode ser entre 12% (se considerada só a savanização da floresta) e 38% (quando se leva em conta também o desmatamento projetado).

O estudo é favorável à implementação do Redd (mecanismo de compensação financeira para projetos de redução de desmatamento). Estima que o pagamento médio de US$ 3 por tonelada de carbono já desestimularia entre 70% e 80% da pecuária da região amazônica.

Na opinião de Carolina Dubeux, ao ter a dimensão do impacto econômico do aquecimento, o governo tem como avaliar melhor até onde deve se comprometer na negociação do clima, em Copenhague.

O Estado de S. Paulo


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