ENERGIA: Ontário aposta forte na renovação

Data: 18/11/2009

ENERGIA: Ontário aposta forte na renovação


O pacote de incentivos criado pelo governo da província de Ontário, no Canadá, para garantir preços altos aos que fornecem eletricidade de fontes limpas busca atrair grandes investidores internacionais para uma das regiões mais povoadas deste país. Com o sistema de tarifas de alimentação, semelhante ao empregado na Europa para estimular o investimento em fontes de energia renováveis, Ontário aparece como um mercado brilhante em um momento em que a recessão e a minguante demanda por eletricidade debilitaram as possibilidades no resto do continente.

Trata-se de um sistema em que o Estado se compromete a comprar a energia gerada a preços superiores aos do mercado por um período suficientemente longo para compensar os investimentos privados nas novas fontes e assegurar lucro. “Quero que os outros governadores digam por que não pensamos nisso e por que não o implementamos antes?”, afirmou o primeiro-ministro de Ontário, Dalton McGuinty, quando anunciou o programa de incentivos em setembro.

O governo liberal de McGuinty explica que promove a energia verde para combater a mudança climática. Além disso, necessita de fontes adicionais para cumprir sua promessa de até o final de 2014 fechar as últimas quatro usinas de geração elétrica movidas a carvão existentes em Ontário, principais responsáveis pelas emissões de dióxido de carbono e pela contaminação do ar. A busca por alternativas limpas ficou mais urgente na primavera passada, quando o aumento de preços obrigou a suspensão dos planos de ampliar a geração de eletricidade com energia nuclear.

“Estamos esperançosos de que o governo irá adiante com sua promessa de converter a província em líder mundial de energias renováveis”, afirmou uma coalizão de organizações ambientais locais e internacionais pouco depois do anúncio de McGuinty. “Ontário emerge rapidamente como líder mundial com políticas que competem com as superpotências em matéria de energias renováveis da Europa e de outras partes”, afirmou o legislador alemão Hermann Scheer, um dos responsáveis do auge de alternativas verdes a partir de incentivos.

Mais importante do que as considerações ambientais são as econômicas. O governo local procura conseguir investimentos em fontes renováveis, especialmente para desenvolvimento da alternativa eólica, para substituir os postos de trabalho que perde a indústria automobilística, até há pouco tempo o sustento da economia da província. O pacote custará muito dinheiro. A estatal Autoridade de Eletricidade de Ontário pagará preços acima do valor de mercado, mantidos durante 20 anos, além de contemplar projetos de energia solar, sem limite de produção, salvo pela capacidade de transmissão da rede da província.

A iniciativa inclui US$ 2,1 bilhões para melhorar o velho sistema de transmissão e contém uma norma interna para incentivar os investidores a comprarem serviços e equipamentos, para atrair fabricantes de turbinas e outras indústrias. Ontário tem capacidade de energia eólica instalada de aproximadamente 1.100 megawatts e quase outros 500 MW em desenvolvimento. É uma das mais altas no Canadá, mas baixa em comparação com líderes mundiais como Alemanha, China, Espanha e Estados Unidos, que juntos concentram três quartos da produção mundial de 121 mil MW. Também é uma ínfima proporção em relação aos 34 mil MW gerados a partir da energia nuclear, hidrelétrica e à base de carvão.

A alternativa eólica dominará a nova produção subsidiada. Os geradores com turbinas em terra firme receberão US$ 13,5 para cada quilowatt/hora que transmitirem à rede elétrica. Os que se situarem em um dos quatro Grandes Lagos limítrofes de Ontário receberão US$ 0,19. As tarifas residenciais situam-se entre 5,6 e 6,5 centavos de dólar, segundo o consumo. O preço médio no atacado chega a cerca de três centavos. O programa substitui dois esquemas falidos. O primeiro pagava uma espécie de incentivo aos projetos que gerassem menos de 10 MW. As instalações solares recebiam 42 centavos por quilowatt/hora e as outras fontes renováveis US$ 11,2. O segundo era para grandes fornecedores, que deviam ofertar um fornecimento limitado, processo que não só era caro e inseguro, mas também mantinha o preço abaixo dos 10 centavos.

“Ontário quer o negócio de energias verdes”, disse o ministro do setor, George Smitherman, ao anunciar o pacote de incentivos. As novas normas “permitirão garantir à indústria e às municipalidades a criação de novos empregos, que o investimento já esteja comprometido e que a energia renovável cresça em toda a província”, acrescentou. A estratégia parece dar resultados.

“Despertou grande desejo entre os investidores e muitos interessados que antes não estavam no mercado”, disse Tim Stephure, analista de pesquisa de mercado da Consultoria de Energia Eólica da América do Norte, com sede na cidade de Cambridge, no Estado norte-americano de Massachusetts. A tarifa é “muito competitiva, especialmente em comparação com outros mercados da América do Norte. É muito atraente”, ressaltou. “Ontário atraiu grande interesse por parte da indústria, não apenas no Canadá, mas também no exterior”, disse Robert Hornung, presidente da Associação de Energia Eólica do Canadá, com sede em Ottawa. “Há uma competição tremenda para garantir postos de trabalho e investimentos, e Ontário enviou uma mensagem clara: queremos competir”, acrescentou.

A chuva de pedidos para investir em águas abertas, onde a capacidade estimada é de 35 mil MW, obrigou o governo a interromper o chamado, pelo menos até a próxima primavera boreal. Estão chegando grandes investidores e alguns compram empresas menores. Por exemplo, a Corporation TransAlta, com sede em Calgary, adquiriu há pouco tempo a Canadian Hydro Developers Inc., da mesma cidade, na província de Albera, que prevê empreender um grande projeto no lago Erie. Mas a indústria continua preocupada com alguns assuntos. Poucos dias após divulgar o novo plano, Smitherman ordenou que fossem reservados 500 MW de capacidade de transmissão aos investidores que assinassem “acordos marco” com a província.

O governo não deu detalhes, mas a medida objetiva recompensar as companhias que concordarem em construir fábricas e criar postos de trabalho na província. A primeira da lista parece ser a sul-coreana Samsung Group, que pretende vender turbinas a partir de Ontário para o resto da América do Norte. A geração de emprego é um objetivo digno, mas os investidores questionam as restrições para ter acesso à rede de distribuição e, o mais importante, perguntam quais outras mudanças estão previstas, disse Stephure, da Consultoria de Energia Eólica da América do Norte.

A ordem de Smitherman “enviou um sinal que de alguma forma não faz prever nada bom para o resto da indústria”, explicou Stephure. Ontário “fixou normas que devem valer para toda a indústria, mas já está criando salvaguardas. Normas padrões e de segurança são importantes”, acrescentou. Para acalmar os críticos, o governo provincial criou pautas para que os projetos sejam construídos longe das casas e das escolas, devido ao ruído e pelas consequências das turbinas para a saúde, mais rígidas do que na Europa e em outras partes.

Porém, nenhuma das medidas promove o desenvolvimento do maior recurso eólico de Ontário, as costas das baías de James e Hudson, bem ao norte da principal linha de transmissão. O plano não inclui a ampliação da rede elétrica para a tundra ventosa. Além disso, os investidores terão de negociar com as populações indígenas, que agora têm uma grande influência sobre o que ocorre na metade norte desta província. Hornung está otimista, apesar destes assuntos duvidosos. “Ainda é o começo. É um plano ambicioso. Estamos apenas na fase de lançamento”, afirmou. IPS/Envolverde

* Este artigo é parte integrante de uma série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (www.complusalliance.org).



(Envolverde/IPS)


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