Uma semana para anfíbios e répteis e a importância desses animais

Data: 13/11/2009

Uma semana para anfíbios e répteis e a importância desses animais


Entre os dias 12 e 17 de julho, Pirenópolis, Goiás, foi o destino de muitos dos pesquisadores, principiantes e experientes, engajados em estudos sobre anfíbios e répteis brasileiros. O IV Congresso Brasileiro de Herpetologia (palavra originada do grego herpeton = rastejante: ramo da biologia que estuda os anfíbios e répteis) mostrou os avanços na pesquisa sobre os grupos, as tendências e, sobretudo, nos levou a pensar em ações concretas pra proteger esses animais.
Mas quem são os anfíbios e os répteis? E porque devemos protegê-los? Eles são peças chave no funcionamento dos ecossistemas, interagindo com praticamente todos os organismos que os compõem. Preservar esses animais fantásticos, que despertam desde medo e repúdio ao fascínio e a adoração, é fundamental se quisermos manter ou recuperar a qualidade dos ambientes.
Anfíbios (sapos, rãs, salamandras e as cecílias) e répteis (grupo que envolve lagartos, cobras, tartarugas e jacarés) são excelentes indicadores da qualidade dos ambientes aquáticos e terrestres, controlam populações de milhares de pragas diariamente, desde insetos a roedores e são base da dieta de muito predadores, ajudando a manter o equilíbrio na intrincada teia da vida. São úteis a nós humanos também através da ampla utilização em pesquisas médicas, tendo ajudado a combater inúmeras doenças e com um enorme potencial ainda inexplorado para o tratamento de muitas outras.
Muitos são os exemplos de anfíbios e répteis dos quais pesquisadores têm encontrados substâncias apontadas como promessas para o tratamento de doenças graves. A perereca-de-folhagem Phyllomedusa oreades, de cuja pele se obtêm a dermaseptina, peptídeo que vem sendo estudado para combater o mal de Chagas e a rã Pseudis paradoxa apontada como possível cura da diabetes tipo-2 são alguns dos exemplos brasileiros. Entre os répteis, as serpentes são de longe as mais utilizadas em pesquisas médicas. Substâncias desenvolvidas a partir do veneno de algumas espécies peçonhentas como a jararaca já são amplamente usadas contra a hipertensão arterial e vem sendo estudadas no tratamento de alguns tipos de câncer.
Além de repleto de pragas arrasando plantações, transmitindo doenças e causando enormes transtornos, um mundo sem esses animais seria, acima de tudo, mais opaco e triste. Eles vêm em diversas cores e formas. Podem medir desde um centímetro a mais de 15 metros. Vivem no chão, sob o chão, em árvores, florestas, desertos, mares, rios, riacho e poças d’água. Eles andam, correm, rastejam, pulam, escalam, deslizam e nadam. E toda essa diversidade está ameaçada pela destruição de habitats, poluição, mudanças climáticas, doenças infecciosas, introdução de espécies exóticas e, sobretudo, pelo desconhecimento.
O Congresso mostrou o esforço de pesquisadores realmente preocupados e pró-ativos com a conservação, sobretudo dos anfíbios. Porém, com todo o empenho ainda nem conhecemos grande parte das espécies, das suas interações e de seus padrões gerais de diversidade e distribuição. Tampouco conhecemos muitos dos benefícios diretos que esses animais podem nos oferecer. Além disso, ainda temos que enfrentar o desafio de convencer a sociedade de que essas criaturas são sim amigas (inclusive as serpentes) e que dependemos profundamente delas.
O esforço para a conservação dos anfíbios e répteis tem tido grandes avanços, a exemplo do reconhecimento de algumas espécies em maior perigo, das ameaças sobre elas e das ações necessárias para sua proteção. Mas todo esse empenho só deverá ter efeitos concretos quando a sociedade reconhecer a importância dessas criaturas extraordinárias e tê-las como nossas aliadas e, sobretudo, quando entender que a maior razão de se proteger plantas e animais (incluindo nós) é que estamos todos ligados numa única cadeia da vida.
Concluo este artigo mencionando o caso da perereca-de-folhagem Phrynomedusa fimbriata. A espécie descrita em 1923 era encontrada desde o Rio de Janeiro até Santa Catarina. Essa espécie-prima daquela mencionada anteriormente pela possibilidade de cura do mal de Chagas poderia ser também importante no tratamento desta ou de outras doenças. Mas não existe mais, está extinta.

(*) Sidney Gouvêa (sidneyfgouveia@superig.com.br) é mestrando em Ecologia e Conservação - Universidade Federal de Sergipe e Coordenador da unidade de conservação estadual Monumento Natural Grota do Angico



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