A População de Belém não quer água privatizada

Data: 10/11/2009

A População de Belém não quer água privatizada


Dados de uma pesquisa de opinião pública realizada em setembro passado, sob encomenda da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa), mostram que os 18 vereadores de Belém que rejeitaram o ambicioso projeto do prefeito Duciomar Costa ouviram a voz das ruas. Das 789 pessoas entrevistadas na grande Belém, 61% foram contrárias à entrega do saneamento básico da cidade à iniciativa privada. Apenas 23% se mostraram favoráveis e 19% não manifestaram opinião acerca do assunto.

Eduardo Ribeiro, presidente da Cosanpa, opina que a derrubada do projeto foi a decisão mais acertada. “O grande desafio da companhia agora é pegar esse voto de confiança dos vereadores e mostrar que a concessionária tem condições de continuar a ser responsável pelo abastecimento e saneamento público em Belém e no Estado”, coloca.

A ideia agora, segundo Ribeiro, é tentar retomar o diálogo e a parceria com a Prefeitura de Belém. “Temos toda a competência técnica para continuar a prestar o serviço. Temos que buscar nosso equilíbrio econômico-financeiro para poder arcar com todas as demandas de saneamento do Estado”.

Ele lembra que o montante de investimentos previstos para a Região Metropolitana de Belém para a melhoria e reforço no sistema de abastecimento alcança R$ 250 milhões, incluindo verbas estaduais e federais (PAC). Entre as maiores obras, estão o complexo Guamá/Bolonha/Utinga (R$ 100 milhões), a Estação de Tratamento dos sistemas isolados (R$ 14 milhões) e as adutoras das zonas de expansão para atender o município de Ananindeua (R$ 24 milhões).

A doméstica Nira da Conceição Farias, 33 anos, moradora da Terra Firme, mãe solteira de três filhos, paga uma taxa de apenas R$ 9,00 à Cosanpa. Vibrou quando soube da derrubada do projeto na Câmara Municipal. “Me falaram que a minha água ia pular para mais de R$ 50,00 se tivesse a tal privatização. Foi uma resposta do povo a esse prefeito que está aí”.

>> Mobilização levou à vitória

Pedro Blois, secretário de Saneamento do Sindicato dos Urbanitários e coordenador da Frente contra a Privatização do Saneamento de Belém, que congrega mais de 12 entidades, avalia que a votação que enterrou o projeto que privatizaria os sistemas da capital manifestou a vontade do povo, das entidades que integram a frente e dos 18 vereadores que ajudaram a derrubar o projeto. “A Cosanpa atende hoje a mais de quatro milhões de pessoas e se esse projeto passasse, seria o caos. Esses 18 vereadores honraram os votos que receberam do povo de Belém”.

O resultado da votação, segundo Blois, também foi uma dura resposta ao prefeito Duciomar e ao presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Belém (Saaeb), Raul Meireles. “No início de toda essa discussão na Câmara, o Meireles era convidado a participar das audiências e reuniões e mandava dizer que não podia ir, pois estava no Tocantins tocando as negociações com a Saneatins para repassar a concessão pública de água, antes mesmo do projeto aprovado. Era um desrespeito com os vereadores e com o povo”, acusa.

O sindicalista também credita a vitória à grande mobilização da frente, que em poucos meses conseguiu mais de 30 mil assinaturas contra o projeto. “A população sempre esteve consciente de que esse projeto era danoso e estava na contramão da nossa história. Não poderíamos privatizar um serviço essencial como o abastecimento de água e prejudicar milhões de pessoas”, disse.

O aposentado Mário da Silva Braga, 65, se diz aliviado. “Apesar dos escândalos na Câmara que presenciamos nos últimos meses, há uma esperança no fim do túnel”. O estudante Jackson de Oliveira, 16, disse que a imprensa teve um papel fundamental. “O DIÁRIO sempre denunciou esse projeto. Os vereadores ficaram pressionados e acabaram derrubando (o projeto)”. (Diário do Pará)

Fonte: Diário do Pará


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