Tratado climático mundial deve sair apenas em 2010

Data: 09/11/2009

Tratado climático mundial deve sair apenas em 2010


A última rodada de negociações do clima que está reunindo 175 países em Barcelona chega ao final nesta sexta-feira (6/11) e aparentemente a mensagem que deve ficar é de que será necessário um ano a mais para que se consiga firmar um tratado climático para após 2012, quando termina a primeira fase de compromissos do Protocolo de Kyoto.

Em 2007, foi decidido em Bali que a COP 15, programada para dezembro deste ano em Copenhague, seria o prazo limite para o estabelecimento deste novo acordo que obrigue os países a limitarem suas emissões de gases do efeito estufa.

Porém, negociadores de diversas nações deixaram transparecer que isso não será possível e que o máximo que se deve esperar da COP 15 é um compromisso político. O novo tratado seria firmado apenas no decorrer de 2010.

O secretário-executivo da Convenção da ONU sobre o Clima, Yvo de Boer, que chefia as negociações, disse em entrevista coletiva nesta quinta-feira (5) que pouquíssimo progresso vem sendo feito e que o tratado climático pode levar mesmo mais um ano.

“Eu não acredito que possamos ter um acordo legal em Copenhague. Mas podemos conseguir isso dentro do próximo ano”, confessou de Boer.

O plano agora seria fazer os líderes mundiais irem a COP-15 para assinar esse tratado político. O documento já teria todos os pontos chaves, como o tamanho da redução das emissões e as datas para isso, mas não possuiria poder legal para ser comprido.

REDD

Algumas organizações internacionais manifestaram sua preocupação de que sem um acordo concreto em Copenhague, o mecanismo de pagamento aos países em desenvolvimento para reduzirem o desmatamento e a degradação, conhecido como REDD, seja usado como uma saída para dizer que ‘algo foi feito’ na COP 15.

Para a Accra Caucus, um grupo que reúne organizações da sociedade civil e povos indígenas, o REDD pode vir a ser usado para mascarar a falta de comprometimento dos países ricos em cortarem suas emissões.

“Não podemos permitir que um REDD feito às pressas substitua uma solução real para as mudanças climáticas. As nações industrializadas possuem uma responsabilidade histórica com o aquecimento global e devem arcar com suas ações. O REDD não irá funcionar sem um comprometimento desses países de cortar suas emissões domésticas em ao menos 40%”, afirmou Alejandro Alemán do Centro Humboldt, da Nicarágua.

Conflito

A grande batalha nas negociações climáticas segue mesmo sendo essa de países pobres pressionando os mais ricos por cortes mais severos e fundos de adaptação mais robustos.

As nações africanas chegaram a realizar um dia de boicote às conversas em Barcelona porque acusam os desenvolvidos de falharem em estabelecer a meta de 40% de corte nas emissões em 2020, com relação aos níveis de 1990.

“As pessoas na África estão sofrendo nesse momento, estão morrendo. Enquanto isso os países ricos não estão se comprometendo com reduções mais ambiciosas”, declarou o chefe do grupo africano, Kemal Djemouai.

Porém, nesta mesma semana, os norte-americanos, por exemplo, comemoraram que o comitê de Meio Ambiente do Senado aprovou o projeto de lei que obriga as indústrias a cortarem suas emissões de gases do efeito estufa em 20% em 2020 em relação ao nível de 2005.

“Eu acho que é um grande sinal para Copenhague de que os EUA farão o que for necessário para avançar nessa questão”, afirmou a presidente do Comitê, Barbara Boxer.

Também em Barcelona, o Banco Mundial anunciou a criação de um fundo de US$ 1,1 bilhão para a África incrementar o uso de energias limpas e se adaptar às mudanças climáticas.

As diferenças entre as demandas dos países pobres e o que os ricos oferecem de ajuda ainda são bastante grandes, e a perspectiva de que sejam todas resolvidas durante a COP 15 parecem remotas.

A possibilidade de que Copenhague não passe de um acordo político não agrada em nada ambientalistas, ONGs e diversos países, em especial os mais pobres.

“Tratados puramente políticos valem muito pouco. Mostre-me algum político que realmente concretizou suas promessas” afirmou Lumumba Di-Aping, presidente do G77, grupo que reúne 130 países em desenvolvimento.

Apesar de ainda manter um olhar otimista sobre a possibilidade de um acordo em Copenhague, a ONG WWF reforça a opinião geral de que algo de concreto deve ser alcançado.

“Nós precisamos de um tratado que sobreviva a recessões, eleições e desastres naturais. Não apenas um pedaço de papel que será esquecido depois da próxima mudança de poder em Londres, Tóquio ou Washington”, concluiu a líder da iniciativa climática global da WWF, Kim Carstensen.

(CarbonoBrasil)



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