UE espera acordo climático só em 2010, no México

Data: 06/11/2009

UE espera acordo climático só em 2010, no México


O México, em 2010, começa a despontar como o lugar que sediará um acordo climático forte e ambicioso. Em Copenhague, no mês que vem, é possível que se assine apenas um "acordo político".

Esta ameaça ao sucesso da CoP-15, a conferência do clima que acontece em dezembro, tomou força ontem, em Barcelona. Na última rodada de negociação antes da cúpula do clima da ONU, a União Europeia (UE) disse que aposta apenas num acordo político em Copenhague, sem detalhar o que seria isso. O tratado mais amplo e detalhado levaria mais 3 a 6 meses para sair. "A maioria das pessoas entende que um acordo internacional pleno pode não ser conseguido em Copenhague", disse Artur Runge-Metzger, diretor da área de clima da UE.

Ao invés disso, poderia ser produzido algum acordo, no mês que vem, incluindo um cronograma de um tratado a ser assinado depois. "Poderia ser feito assim que possível e, isto, no contexto de negociações internacionais, significa de três a seis meses", prosseguiu.

Pouco antes de Runge-Metzger, uma diplomata europeia de primeiro escalão disse que um acordo climático global mais ambicioso só deve sair no final de 2010, na próxima conferência do clima, a CoP-16, na Cidade do México.

Uma das interpretações para este recuo europeu é que daria tempo aos EUA votarem sua lei de energia e clima. "Todos enxergam a realidade política, particularmente a realidade política em Washington", disse a diplomata aos jornalistas. O argumento implícito ao atraso é que daria tempo para que a legislação sobre clima e energia dos EUA seja aprovada no Senado americano.

O projeto de lei sobre o tema que foi aprovado pela Câmara dos EUA estabelece um corte nas emissões de 20% em 2020, em relação a 2005 - mais que a promessa de 17% de corte feita pelos negociadores americanos nas rodadas internacionais do acordo do clima. Mas ninguém sabe como vai ficar a versão final após a aprovação no Senado. Na quarta-feira, o projeto foi enviada à agência ambiental americana, a EPA, para reanálise de custos. Isto levará mais cinco semanas, e dificilmente a votação sairá antes de Copenhague.

"Copenhague não é só mais um passo numa longa jornada", dizia, minutos antes das declarações europeias, Yvo de Boer, o secretário-executivo da Convenção do Clima das Nações Unidas a jornalistas da América Latina. "O tempo está se esgotando. Se Copenhague falhar em produzir claramente metas [de corte de emissão de gases-estufa"> dos países ricos, então Copenhague terá fracassado."

O Brasil (e o grupo dos países em desenvolvimento, o chamado G-77 mais a China) não quer este tipo de acordo. "O Brasil não quer um acordo político", disse o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, chefe da delegação brasileira. "Queremos um acordo robusto e real." E prosseguiu: "É importante não perder a oportunidade de Copenhague." Um acordo político poderia ser apenas um entendimento. Um acordo robusto teria metas dos países desenvolvidos para 2013 em diante e ações dos países em desenvolvimento para reduzir sua curva de emissões.

A manobra europeia repercutiu mal junto às ONGs. "É um escândalo", disse Martin Kaiser, o coordenador de política climática do Greenpeace. "Não é hora de andar para trás", criticava o diretor da Rede de Ação Climática da Europa, Mathias Duwe.

Pela manhã, antes do circo armado, Jake Schmidt, diretor internacional de política climática do NRDC, umas das maiores ONGs americanas, dizia que ONGs europeias, grupos religiosos e de veteranos têm pressionado os senadores para que a lei do clima e energia passe antes de Copenhague. É preciso o apoio de 60 senadores para que ela seja aprovada sem demora - e pelo menos 20 senadores democratas vêm de Estados com carvão. A lei precisa ser aprovada até abril. "Depois, há eleições e os senadores não vão querer ter este assunto por ali no meio da campanha", explicou Schmidt.

Fonte: Valor Econômico


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