O pessimismo sobre a redução das emissões de CO2

Data: 28/10/2009

O pessimismo sobre a redução das emissões de CO2


A concentração de dióxido de carbono (CO²) na atmosfera deve ser limitada a 350 partes por milhão (ppm) e não a 450 ppm como se propõe, alertou o economista britânico Samuel Fankhauser diante de legisladores – muito cépticos – dos oitos países mais industrializados e de grandes economias emergentes. Fankhauser disse que o limite que indicou é a única maneira de evitar o branqueamento irreversível de corais nas áreas costeiras, com tudo o que isso implica.

Para fundamentar seu chamado, usou nova evidência científica obtida por biólogos e zoólogos marinhos da Austrália, Grã-Bretanha e Quênia, publicada no dia 29 de setembro no Marine Pollution Bulletin, a qual indica que quando a concentração de CO² na atmosfera ultrapassa as 350 ppm a maior parte de corais do mundo sofre “um colapso irreversível”. A preocupação maior tem em conta a importância central dos corais no fornecimento de recursos alimentares e ambientais a uma população de um bilhão de pessoas nos países mais pobres.

O branqueamento, produto da acidificação do mar, deixa os arrecifes expostos aos raios ultravioletas, e isso faz com que percam as algas que vivem em seu interior e das quais se nutrem, por isso morrem de fome. Também se reproduzem menos e ficam expostos às enfermidades. O chamado de Fankhauser aconteceu no fórum promovido em Copenhague no final de semana pela Organização Global de Legisladores para o Equilíbrio Ambiental (Globe) com 120 legisladores do Grupo dos oito países mais industrializados (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) além de Brasil, China, Índia, México e África do Sul, Austrália, Coréia do Sul e a anfitriã Dinamarca.

O limite de 450 ppm a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, que hoje é de 387 ppm e com tendência à alta, é a manejado nas discussões prévias à 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 15), que entre 7 e 18 de dezembro, em Copenhague, tentará chegar a novo acordo de redução de emissões a partir de 2012. Essa concentração é medida na fração constituída por número de moléculas de CO² dividido pela quantidade das moléculas no ar, incluído esse gás, quando o valor de água é removido. Um valor medido de 0.0004 é expresso como 400 ppm.

Confrontado com a proposta de Fankhauser, o presidente da assembleia da Globe, o parlamentar inglês Barry Gardiner, perguntou aos 120 legisladores reunidos na capital dinamarquesa se eles acreditavam que limitar a concentração de dióxido de carbono em 350 ppm até 2060 é realizável. Apenas dois responderam que sim. Reagindo a tal manifestação de pessimismo, Gardiner disse à assembleia: “Deveríamos estar aterrorizados”. Se os legisladores ambientalistas não crêem na possibilidade de implementar uma meta ambiciosa para deter as consequências da mudança climática, “então a humanidade está perdida”, acrescentou.

E mais, se considerar-se que, segundo seus principais dirigentes, a Globe organizou o encontro para “acordar princípios-chave” para a aprovação de legislação contra a mudança climática nos países participantes, para que contribua a fim de um “avanço significativo na limitação do aumento médio da temperatura global em dois graus, e assim evitar a mudança climática incontrolada”, acrescentou Gardiner.

Outros líderes mundiais também participantes do fórum como o primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Rasmussen, dissera que se estava no “momento critico para as negociações” da Organização das Nações Unidas para criar um novo tratado sobre a mudança climática. De fato, no encontro de Copenhague, economistas, ambientalistas e funcionários de organismos internacionais proporcionaram aos legisladores presentes informação científica atualizada que confirma a gravidade das crises ambiental e social que a humanidade enfrenta.

Graeme Wheeler, diretor-gerente do Banco Mundial, disse que, “baseado nas tendências atuais, as emissões de dióxido de carbono pelo setor energético duplicarão até 2050, colocando o mundo em uma trajetória catastrófica que poderia aumentar a temperatura global média em mais de cinco graus, tomando por base a época pré-industrial”. Ao mesmo tempo, o número de pessoas que sobrevive em condições de pobreza extrema “continua aumentando”, disse Wheeler, e já chega a “cerca de 1,4 bilhão de pessoas, mais que o dobro da população da Europa”.

Para Wheeler, não poderão ser atendidos nenhum dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODN) aprovados em 2000 na ONU, com prazo até 2015 e baseados em indicadores de 1990. Os ODM contêm o compromisso dos governos de erradicação da pobreza e da fome, fornecer educação primária universal, promover a igualdade de gênero, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna, combater o HIV/aids e outras doenças, garantir a sustentabilidade ambiental e assentar as bases para uma aliança mundial para o desenvolvimento.

Wheeler disse no fórum que a mudança climática aumenta os riscos associados com subdesenvolvimento e pobreza, e que as nações mais pobres do planeta, especialmente na África a no sudeste da Ásia, sofrerão “entre 75% 5 80% dos custos causados pelo aquecimento global. Por esta razão, e devido à responsabilidade dos países industrializados na emissão dos gases que provocam o efeito estufa, responsáveis pelo aumento da temperatura mundial, “as negociações (para um tratado internacional a ser ratificado em Copenhague em dezembro próximo) representam considerações muito graves de moral e justiça”, afirmou.

Os argumentos econômicos a favor de uma política ambiental que reverta a mudança climática também são graves e convincentes, destacou Fankhauser, pesquisador do Instituto Grantham da London School of Economics. “As políticas para reveter a mudança climática podem custar até 3% do produto interno bruto mundial nos próximos 40 anos. Mas esse preço é baixo comparado com os custos a serem pagos se nada fizermos para deter o aquecimento global”, acrescentou o economista.

Fankhauser afirmou que as políticas que já foram implementadas para mitigar a mudança climática estimulam a economia no setor ambiental e estão gerando benefícios em todo o mundo. “O setor global ambiental está em plena expansão”, assegurou. “A renda gerada pela política contra a mudança climática em todo o planeta passa dos US$ 500 bilhões em 2008, e podem chegar aos US$ 2 trilhões em 2020”, ressaltou.

Por outro lado, os danos causados pela falta de ação ambiental são enormes. O branqueamento de corais custa US 375 bilhões anuais, devido à destruição de fontes de alimentos e dos serviços que regulam o meio ambiente, bem como de cultura que estes fornecem nas áreas costeiras do mundo. Fankhauser destacou que cerca de 500 milhões de pessoas “vivem a menos de cem quilômetros dos ecossistemas nas áreas costeiras, e dependem dos serviços que os corais proporcionam”. Pelo menos um bilhão de pessoas dependem da pesca em áreas dominadas por corais. Apenas no sudeste asiático, corais, mangues e ecossistemas marinhos costeiros geram renda anual de US$ 3 bilhões.

“Outro serviço importante fornecido por ecossistemas costeiros sãos e pelos corais são a regulação climática e a proteção ambiental nas regiões, através da captura de carbono, tratamento de resíduos e proteção contra fenômenos naturais, como furacões e outros”, disse Fankhauser. Por todas estas razoes, este economista britânico pediu ao fórum de legisladores da Globe considerar a ambiciosa meta de limitar a concentração de CO² na atmosfera em 350 ppm. Porém, a vasta maioria dos legisladores ambientais que o ouviram considera esta meta irrealizável. IPS/Envolverde



(Envolverde/IPS)


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