Aquecimento Global: clima de desconforto para seguradoras

Data: 01/10/2009

Aquecimento Global: clima de desconforto para seguradoras


Ser sustentável pode ser um diferencial na hora de contratar seguros. Os riscos de sinistros ligados às mudanças climáticas mudam os custos das operações, para o bem, no caso de empresas responsáveis, ou para o mal, no caso de empresas que não incorporaram suas externalidades. De acordo com Suhnny Sehgal, especialista em seguros do HSBC na área de sustentabilidade, o tema entrou no debate há cerca de cinco anos e “diversas seguradoras já estão estudando em como se adaptar às novas condições de risco, geradas pelas mudanças climáticas”.

As previsões feitas pelo setor são de que os custos com desastres naturais saltem dos atuais US$ 20 bilhões para algo entre US$ 80 bilhões a US$ 120 bilhões entre 2010 e 2020. “Um aumento de quatro graus na temperatura média do mundo pode espalhar tragédias em todo o mundo, atingindo a todos os setores”, enfatizou Sehgal.

No Brasil, os prejuízos causados pelas alterações do clima vem mudando o panorama econômico de muitas regiões, principalmente no Sul. O exemplo mais recente são os intensos ciclones e chuvas torrenciais que têm provocado a destruição em diversos municípios no Estado de Santa Catarina. De acordo com o presidente do Sindicato das Seguradoras, Previdência e Capitalização em Santa Catarina (SindsegSc), Paulo Luckmann, o mercado catarinense ainda está estudando e avaliando os efeitos desses eventos e ainda não alterou os valores de custo dos seguros. Mas admite que isso deve ocorrer “no momento em que se verificar uma elevação na frequência deste tipo de evento, adequando os prêmios a uma nova realidade de risco”.

As fortes chuvas que duraram mais de 50 dias, no final de 2008, em cidades como Blumenau e na região de Itajaí, já obrigaram o pagamento de indenizações que envolveram cifras na ordem de R$ 32 milhões, conforme Luckmann. Só nesse episódio, 153 pessoas morreram e 3 mil ficaram desabrigadas, além da destruição do Porto de Itajaí, com mais de 50.000m2 de extensão e o segundo maior do país em movimentação de containeres.

“As mudanças climáticas mudaram um pouco as perspectivas do mercado. É um novo agente de risco que passou a ser contratado e avaliado, permitindo assim a precificação específica”, destacou. Ainda segundo o presidente do Sinsegsc, os custos vão diminuindo conforme as ações de prevenções adotadas.

Em consequência desses acontecimentos, as seguradoras passaram a analisar continuamente os riscos, as taxas e a localização, e a condicionar aceitação de todos os eventos susceptíveis a vendavais, desmoronamentos, granizos, tornados e intempéries. “São utilizados critérios atuariais, levando em consideração os diversos fatores utilizados para avaliação dos prêmios que são arrecadados e seu respectivo grau de risco”, explica.

Jayme Garfinkel, presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg), concorda que as seguradoras estão sensíveis ao problema, principalmente diante do que vem ocorrendo no Sul do país. “Tanto que criamos um grupo de trabalho de mudanças climáticas que promove estudos relacionados ao tema e fornece subsídios ao mercado segurador, para subscrição adequada dos riscos”, destacou.

Mas, segundo ele, os fenômenos ambientais ainda são novidade para os setores econômicos que não estão ligados diretamente aos seus impactos. Com exceção de pequenos ensaios individuais, as seguradoras ainda não adotaram uma prática de incentivos ou descontos sobre os prêmios de seguros relacionados às políticas socioambientais adotadas pelos segurados, de acordo com Garfinkel.

“Os próprios segurados, em especial as grandes empresas e indústrias, estão em fase inicial de conscientização dos impactos que suas atividades acarretam ao meio ambiente e também estão estudando as iniciativas adequadas e os cuidados que deverão assumir para minimizar tais impactos”, disse.

Mas reconhecer os esforços de ações que promovam a sustentabilidade e amenizem os impactos nos métodos de produção é uma opção presente nas discussões do setor, de acordo com o presidente da Fenseg. “Apesar de ainda não termos muitos produtos novos que contemplem a temática ambiental, o mercado segurador poderá estudar futuramente descontos nos prêmios, quando puder reconhecer a conscientização e os esforços dos segurados e das autoridades governamentais com vistas à redução dos riscos climáticos”, finalizou.



(Envolverde/Instituto Ethos)


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