Conscientização é a melhor opção para o meio ambiente

Data: 01/10/2009

Conscientização é a melhor opção para o meio ambiente


A cada verão em Cuba a queixa se repete: “Como as praias estão sujas!”. Vasilhames de cerveja ou refrigerantes, garrafas, copos e sacos de plástico vazios ou com restos de alimentos e muitas pontas de cigarros são encontrados diariamente na areia, apesar das multas, proibições e apelos por parte de ecologistas. Citado em uma reportagem sobre a questão por um periódico cubano, Julio Olivera, morador de Guanabo, 30 quilômetros a leste de Havana, assegura categoricamente que 90% da responsabilidade pela grande quantidade de lixo nas áreas costeiras recaem sobre a população.

“Se dois recolhem e 20 sujam, temos um trabalho bem difícil”, acrescenta, por sua vez, um especialista em higiene ouvido pelo jornal Trabalhadores, enquanto um transeunte diz que os fiscais devem intensificar seu trabalho, multar os indisciplinados e velar pelo cuidado com a natureza. A bióloga marinha Ângela Corvea concorda com proibições, multas ou outras medidas restritivas, mas deixa isso para quem de direito. Em seu caso, optou pelo trabalho direto com a comunidade e a educação ambiental que, em sua opinião, deveria figurar de forma transversal em todas os níveis, a partir do ensino primário.

“Meninas e meninos de hoje formam a primeira geração do século XXI. Serão os dirigentes e responsáveis por tomar decisões dentro de poucas décadas e irão sofrer principalmente com problemas da mudança climática. Por isso, a minha intenção é alertá-los e também ocupá-los”, afirma Corvea. Com essa ideia em mente, esta bióloga de 60 anos lançou em 2003 seu projeto ecológico Acualina, destinado a comunicar e transmitir conhecimentos ambientais “à grande massa”, especialmente aos menores de idade. “Seus cérebros são como esponjas, mas para chegar a eles é preciso se preparar muito e, antes de tudo, sentir o que fazem”, ressalta.

Acualina personifica uma menina filósofa que, vestida à moda da Grécia antiga e com as cores da bandeira de Cuba, ensina, aconselha, alerta e orienta sobre o que deve ser feito para reduzir os riscos que rondam o meio ambiente. Esta “musa” ecológica é vista na televisão, em cartazes, almanaques, na Internet e em pequenos livros. A partir dessas tribunas, exorta as pessoas a serem “melhores cidadãos ambientais globais”, alerta que “tudo acaba no mar” e dá números sobre o tempo que os resíduos domésticos demoram para se decompor em suas águas. Alerta, por exemplo, que o processo demora 500 anos no caso de plásticos, enquanto é infinito para vidros e cerâmica.

Excelente comunicadora, a moradora do bairro Náutico, no setor oeste da capital cubana, conhece Corvea de perto pos sua incansável defesa da limpeza das ruas e da costa local. Em sua opinião, é imprescindível criar consciência nas pessoas, porque nem sempre se dão conta de que protegendo o meio em que vive estão cuidando de si mesmas. “Tomara que no mundo existissem muitas pessoas como ela, tão comprometidas, dedicadas de corpo e alma a essa tarefa de levar conhecimento e semear consciência ambiental”, disse à IPS Mariana Saker, diretora de Comunicação Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente.

Não menos importante que Acualina, seu projeto líder, é seu trabalho de coordenadora no município Playa, em Havana, da campanha mundial “Limpar o mundo”, que este ano foi realizada sob o lema “as comunidades se unem para combater a mudança climática”. O movimento tem sede na Austrália, onde aconteceu pela primeira vez. Em sua décima edição cubana, na manhã do último dia 19 milhares de estudantes, acompanhados ou não dos pais, dedicaram algumas horas à limpeza das zonas costeiras próximas de suas casas. O lema em Cuba nessa oportunidade foi “salve seu pedacinho”.

O objetivo destas jornadas é sensibilizar as comunidades e escolas que vivem perto da praia para adotarem e criarem um senso de pertinência em relação a ela. Também se espera que entre os participantes seja criado o hábito de inquirir e educar os que irresponsáveis que jogam todo tipo de lixo nas águas do mar. O movimento, que cresceu em uma década, não se restringe às zonas costeiras e chega a qualquer localidade onde existam pessoas que querem unir-se para realizar ações a favor de seu meio ambiente. “Trata-se de pensar globalmente, mas agir localmente”, explica Corvea.

Esta “moradora do planeta”, como costuma dizer sobre si mesma, diz ter a esperança de que a próxima reunião de Copenhague sobre mudança climática chegue a resultados concretos. “Os cidadãos deste planeta precisam de soluções, acordos e compromissos reais, não de adiamentos para novas reuniões, o tempo está acabando”, afirma. A 15ª conferência das partes da Convenção Marco sobre Mudança Climática (CMNUCC),entre 7 e 18 de dezembro na capital dinamarquesa, deverá selar um “acordo completo, justo e efetivo” em matéria de mudança climática que substitua o Protocolo de Kyoto, cuja vigência expira em 2012. este documento em vigor desde 2005 obriga 37 países industrializados a reduzirem suas emissões de gás causadores do efeito estufa em pelo menos 5,2% até 2010, em relação aos níveis de 1990.

Corvea recebeu em 2001 o Grande Prêmio Internacional de Meio Ambiente Marinho e Subaquático concedido pelo Comitê Cientifico da Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas (CMAS) e em 2002 o prêmio Coral Polip de melhor educadora ambiental desse ano concedido pela Organização Conservacionista de Key West (Reef Relief), nos Estados Unidos. IPS/Envolverde



(Envolverde/IPS)


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