Política climática divide empresas nos Estados Unidos

Data: 30/09/2009

Política climática divide empresas nos Estados Unidos


Em um novo episódio do embate em torno da lei climática dos EUA, organizações industriais conhecidas pela união e força estão perdendo membros de peso por causa da oposição que fazem ao corte de emissões.

As mudanças climáticas definitivamente se tornaram a nova arma no complicado cenário de disputas políticas dos Estados Unidos. Seguindo os passos das grandes do setor energético Pacific Gas and Electric Co e Public Service Company of New Mexico (PNM), a maior operadora de energia nuclear do país, a Exelon, decidiu deixar a Câmara de Comércio dos EUA por causa do lobby contrário a lei climática em tramitação no Congresso que a Câmara vem fazendo.

“A falta de ação no clima não é uma opção”, afirmou nesta segunda-feira (28/9) o CEO da Exelon, John Rowe, ao anunciar a saída da instituição, que é a maior federação empresarial do mundo, representando cerca de três milhões de empresas.

“Se o Congresso não agir, a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA) irá, e o resultado será mais arbitrariedade, mais gastos e mais incerteza para os investidores e a indústria que uma solução legislativa razoável e com base no mercado”, declarou.

Além das saídas, a Câmara também recebeu críticas de alguns membros como a Johnson & Johnson e a Nike, que demonstraram desapontamento com a postura do instituição. “Não é um momento para debate, mas de ação e nós acreditamos que o recente pedido da Câmara atrasa um trabalho importante que está sendo feito pela EPA neste assunto”, disse Erin Dobson, da Nike no comunicado.

Por discordarem do trabalho contrário a lei climática em votação no Senado, a Duke Energy, fornecedora de energia, e a Alstom Power, que vende equipamentos e serviços para o setor elétrico e ferroviário, se desligaram da Coligação Americana pela Energia do Carvão Limpo (ACCCE, na sigla em inglês).

A Duke Energy, maior consumidora de carvão dos EUA, saiu também da Associação Nacional das Indústrias, mas se mantém no conselho de diretores da Câmara de Comércio.

A Associação publicou recentemente um estudo na qual diz que, se aprovada, a lei climática irá levar a perda de 2,4 milhões de empregos e aumentará em 50% o preço da eletricidade em 2030. Além disso, produziu uma campanha publicitária que foi exibida em 13 estados industriais na qual dizia “Mais impostos. O que o Congresso está pensando?”.

A Câmara do Comércio dos EUA é tanto contra a regulação de gases do efeito estufa (GEE) pela EPA quanto o projeto de lei Waxman-Markey, que prevê a criação de um esquema de limite e comércio (‘cap and trade’) de emissões de GEE para reduzi-las em 17% em 2020 com relação aos níveis de 2005.

Em abril, a EPA publicou uma resolução propondo que os GEE passassem a ser controlados por serem considerados prejudiciais a saúde, assim como outros gases poluentes que já são regulados pelo Ato de Ar Limpo (Clear Air Act). A decisão foi tomada com base em dados científicos sobre os perigos do aquecimento global e evidências de que o excesso de GEE na atmosfera é que seria a causa do problema.

Em uma tentativa de minar os avanços no combate às emissões, a Câmara do Comércio solicitou à Agência, em agosto, que fizesse uma consulta pública sobre as evidências científicas de que o aquecimento global seria mesmo causado pelo homem.

Um porta-voz da Câmara, Eric Wohlschlegal, disse à Associated Press, que não é uma questão da ciência por trás das mudanças climáticas, mas de qual ciência a EPA estaria usando para regular as emissões.

Segundo o New York Times, a Câmara de Comércio não é apenas o lobista com maior fundo em atuação em Washington, mas possivelmente o grupo mais influente atacando a legislação climática.

E mesmo sob críticas e perdendo associados, a Instituição não deve mudar sua posição, disse um representante da Câmara de Comércio, David Chavem, segundo o Wall Street Journal.

Perdas e ganhos

Muito mais do que serem defensores da causa climática, as três protagonista da disputa com a Câmara de Comércio têm muito a ganhar com o controle das emissões de carbono, já que todas operam usinas de energia nuclear. Esta fonte, apesar de enfrentar fortes críticas de grupos ambientalistas devido aos riscos de contaminação e altos custos, é considerada limpa por praticamente não emitir GEE.

Assim, com uma taxa sobre o carbono que seria indiretamente imposta por um esquema ‘cap and trade’, as três companhias estariam e uma boa posição no mercado, já que concorrem com grandes usinas movidas a carvão, que geram mais da metade da eletricidade consumida pelos norte-americanos, porém emitem praticamente duas vezes mais GEE que as usinas de gás natural, por exemplo.

Fonte: Agências Internacionais




< voltar