Discurso e Prática na Comunicação Ambiental

Data: 24/09/2009

Discurso e Prática na Comunicação Ambiental


Recentemente, descobri um interessante resumo dos discursos vigentes na área ambiental em um excelente artigo da pesquisadora norte-americana Tema Milstein, publicado na revista Environmental Communication, sobre o papel dos zoológicos como agentes sistêmicos de transformação cultural e ambiental. Partindo do princípio de que a prática discursiva abriga conteúdos ideológicos que podem revelar relações de poder e subordinação – e, ao mesmo tempo, pressupõe o surgimento de discursos opostos – ela estabelece três formas de dialética entre os discursos dominantes na área ambiental.

A primeira seria a dialética entre Domínio-Harmonia: o tradicional discurso do progresso através do indispensável domínio sobre e transformação da Natureza para atender às necessidades da sociedade industrial gera o seu oposto - a argumentação de que há uma forma de viver em harmonia com o todo. Ao contrário do que se possa pensar, esta última forma de pensar não é recente e foi manifestada na obra de filósofos e pensadores durante o surgimento e consolidação da revolução industrial.

Outra dialética seria a da “Outrização” (sim, esta é a esquisita tradução para Othering) em contraposição à Conexão. O discurso da Outrização estabelece a predominância e a separação de alguns seres humanos em relação à natureza e a outros seres humanos, o que ajuda a justificar as práticas abusivas de exploração econômica e social. Em contraposição, temos o conceito Conexão como interconectividade universal, a relação de interdependência que impera na natureza e que compreende o homem apenas como mais uma espécie.

A terceira seria a dialética da Exploração-Idealismo. O discurso da Exploração vê a natureza como uma fonte de recursos que devem ser apropriados e manipulados para gerar desenvolvimento econômico. Como seu contrário, temos o discurso do Idealismo, que prega o respeito e a preservação da natureza e a necessidade de reverter os danos causados ao meio ambiente.

Como a pesquisadora assinala, os três discursos dominantes no mundo ocidental são, naturalmente, os de Domínio-Outrização-Exploração, especialmente porque embasam práticas que são a base de toda a estrutura social e econômica. A trindade discursiva oposta, por outro lado, vem crescendo nas últimas décadas, a partir do momento em que o alcance da intervenção humana no ecossistema provocou as consequências já conhecidas. Entretanto, ainda representa mais um discurso teórico do que uma prática cotidiana.

Análises como estas são importantes porque ajudam a mostrar o quanto as ideologias de poder e dominação ainda permeiam a comunicação relacionada ao meio ambiente. Iniciativas que se acreditam bem-intencionadas e conscientizadoras também contribuem para estabelecer relações de domínio e de discriminação, por exemplo, quando não incluem a participação do público-alvo e o conhecimento da realidade local. Somente com o diálogo será possível chegar a uma síntese adequada destas dialéticas.

Obs. O artigo da pesquisadora Tema Milstein, intitulado “Something Tells Me It is All Happening at the Zoo”: Discourse, Power, and Conservationism, pode ser acessado em http://www.informaworld.com/smpp/title~db=all~content=g909448883.

* Ricardo Goothuzem é jornalista formado pela Uerj com atuação na área ambiental desde 2002. Assessor de imprensa da Área de Proteção Ambiental (APA) de Petrópolis durante cinco anos como parte de projetos de compensação ambiental e ex-assessor de imprensa do Instituto Estadual de Florestas (IEF/RJ). E-mail: ricgootz@yahoo.com.br



(Envolverde/Revista Plurale)


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