A mudança climática

Data: 17/09/2009

A mudança climática


O papel das lideranças e o impacto na estratégia organizacional pós COP-15.
Do COP 15 devem sair metas importantes para a redução das emissões dos gases efeito estufa nos países e no mundo. Mas e aí? Como será o dia seguinte? Quais serão os comportamentos e as atitudes das lideranças para construirmos um mundo com baixo carbono, com a velocidade que a urgência requer?

A expectativa para Copenhague, durante a 15ª edição da Conferência das Partes (COP 15) da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima, que ocorrerá em dezembro, é altíssima em todo o mundo. Representantes dos setores público e privado, dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, terão o desafio de firmar novos compromissos e incentivos para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Chegamos ao limite. O 4o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) indica que um aumento de temperatura acima de 2o C em relação ao início da era industrial traria conseqüências desastrosas para a economia dos países e o bem-estar da humanidade.

Para que o aumento da temperatura se estabilize abaixo de 2o C, o IPCC aponta a necessidade de limitar a concentração de CO2 e na atmosfera em até 450 ppm (partes por milhão). Para isso, a emissão total de GEE (gases efeito estufa) durante este século não deve ultrapassar, em média, cerca de 18 Giga toneladas CO2e/ano. Atualmente as emissões globais ultrapassam 40 Gt CO2e/ano.

A meta de 450 ppm significa gerar cada dólar do produto mundial bruto com metade da energia que consumíamos em 2002. O dilema está em atender à demanda de energia decorrente da necessidade do desenvolvimento da economia para atender três bilhões de pessoas a mais no planeta até 2050 e, por outro lado, diminuir o risco de intensificação de catástrofes, como, aliás, já está acontecendo. Esse fato ilustra bem o tipo de desafio que devemos enfrentar.

Não teremos condições de continuar atuando como estamos acostumados, conforme nosso modelo mental atual. Para criarmos um futuro diferente, precisamos aprender a pensar e fazer diferente. Precisamos ver sistemas mais amplos e conhecer os desafios que temos que enfrentar – o que pressupõe pensar no longo prazo e agir no curto prazo para termos resultados sustentáveis; precisamos aprender a construir soluções além das fronteiras de nossa área, de nossa empresa, trabalhando com toda a cadeia de valor e em conjunto com a sociedade civil e governo; e precisamos aprender a criar soluções inovadoras ao invés de apenas resolver problemas.

Portanto, o grande desafio é inserir o tema “sociedade do baixo carbono” na estratégia das organizações e nas mentes e corações dos grandes líderes. Isso extrapola qualquer meta de redução de emissão, pois o problema central não é somente atingir metas, mas sim de vivermos num mundo sustentável. Pensar assim é pensar em sistemas amplos, é mudar a mentalidade reativa de pressão de metas, que só faz mais do mesmo, para a mentalidade do desafio de inovação, que brilha e contagia as pessoas.

Como exemplo, carro elétrico não é a melhor alternativa de baixa emissão de carbono se não estiver inserido num contexto maior de pensar e planejar o deslocamento humano como um todo.

Nesse sentido não basta às empresas começarem a levantar as emissões atuais e proporem melhorias de processos para a redução das emissões. Isso é mais do mesmo, isoladamente não fará um mundo sustentável, que é o que queremos.

Para inserir na estratégia organizacional o compromisso do baixo carbono é preciso primeiro dar um passo atrás e entender como a empresa é impactada pelo aquecimento global em seus produtos e processos; e em seus relacionamentos com todas as partes interessadas. Fazer o balanço energético de cada etapa, desde a atividade primária de extração de recursos naturais até a entrega de seus produtos ao consumidor final, levantando as emissões, é uma ação dentro deste cenário.

O segundo passo é identificar internamente as práticas existentes relacionadas ao tema. Partindo então para a construção de uma matriz de valor sustentável que determinará a melhor estratégia de atuação no curto e no longo prazo que permitam reduzir custos e riscos da empresa, construir novas e duradouras relações com as partes interessadas, desenvolver novos produtos e serviços para o mundo do baixo carbono e ao mesmo tempo influenciar a indústria e o contexto em que está inserida para a adesão ao projeto mais amplo.

Conduzir este processo de mudança é o papel do líder. Quanto maior for sua competência para conquistar corações e mentes para o novo, maior será a velocidade de mudança e o impacto positivo no negócio e na sociedade.

Basta vermos os cases existentes. A mudança revolucionária da Dupont, iniciada por seu chairman e CEO Edgar Woolard, afastando-se do seu passado de indústria petroquímica de produtos sintéticos para assumir nova posição como líder mundial em produtos químicos de origem vegetal e em sistemas naturais com produtos amigáveis ao meio ambiente. Exemplos como a GE com o Ecoimagination, linha de produtos para o baixo consumo de energia; o projeto Big Green, da IBM, que busca reduzir drasticamente o consumo de energia nos centros de dados da própria empresa e dos clientes, pode gerar redução de 40% nos custos de TI dos usuários e aumentar a fatia de mercado da IBM.

Há poucos dias, lideranças empresariais e o governo, debateram compromissos e propostas do Brasil para as discussões da Conferência de Copenhague, e lançaram a "Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas”. Esta Carta Aberta declara a visão, o compromisso dessas empresas e propostas ao governo brasileiro. Dentre os compromissos assumidos destacamos: atuar junto à cadeia de suprimentos, visando a redução de emissões de fornecedores e clientes; engajarem-se junto ao governo, à sociedade civil e aos setores de atuação, no esforço de compreensão dos impactos das mudanças climáticas nas regiões onde atuam e das respectivas ações de adaptação.
Esses compromissos demonstram que já existe visão da necessidade de atuação além fronteiras.

Clique aqui e veja o teor da carta e os signatários no link.

Essas lideranças têm papel fundamental. Precisarão demonstrar para as várias partes interessadas como criar soluções inovadoras de baixo carbono, promovendo o desenvolvimento para a empresa e para a sociedade, além de gerarem uma mudança significativa em seus setores de atuação ao longo de toda a cadeia de valor.

Precisarão saber articular com o governo, que por sua vez, terá que aprender a pautar-se em planos e estratégias de longo prazo, desenvolvendo parceiras público privadas, bem como revendo leis e regulamentações no sentido de facilitar o desenvolvimento.

Por sua vez a sociedade civil organizada e os cidadãos com a função de ajuda e fiscalização por um lado, por outro aprendendo a exigir e a comprar conscientemente produtos e serviços de empresas que demonstrem atuação concreta no novo mundo.

São enormes desafios. Se o mundo todo diz que temos 3 grandes desafios (alimentos e água; energia e transporte; e materiais, resíduos e toxidade), nós da Monteiro Associados, dizemos que temos 4 grandes desafios, sendo o quarto a Liderança para o desenvolvimento sustentável.



Por José Venâncio Monteiro (diretor da Monteiro Associados Consultoria Empresarial)
Fonte: Agenda Sustentável



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