Transparência fundamental

Data: 17/09/2009

Transparência fundamental


É possível a transparência no business-to-business (B2B) influenciar o comportamento das empresas?
No contexto do debate recente sobre a transparência fundamental, há dois pontos críticos:

1 - A transparência no business-to-business (B2B) é um motor poderoso para a sustentabilidade.

2. Exemplos concretos de transparência no B2B enquanto motor para a sustentabilidade já existem.

A seguir, uma reflexão sobre ambos os pontos críticos.



1 - Transparência no B2B como um motor para a sustentabilidade

Os tipos de decisões à disposição dos consumidores são fundamentalmente diferentes dos tipos de decisões à disposição dos produtores, o que significa que os desafios e oportunidades para alcançar a transparência fundamental em cada um são diferentes. Temos focado na transparência no B2B porque acreditamos que ela represente uma oportunidade mais significativa de influenciar mudanças positivas, por duas razões:

Primeiro, a barreira é menor: consumidores demandam simplicidade na tomada de decisões, enquanto que as empresas esperam complexidade. As empresas já estão engajadas no processo aprofundado de tomada de decisão na medida em que selecionam fornecedores, matérias-primas, investem em novos mercados, e, ao contrário do consumidor médio, elas têm a obrigação e motivação de passar um tempo significativo pesquisando o que implica essas decisões. Enquanto é fácil para o consumidor desistir de tentar decifrar os dados sobre os riscos toxicológicos de um frasco de protetor solar, uma empresa não sobreviverá por muito tempo se não investir na meticulosa tomada de decisão quanto a uma linha de produto de milhões de dólares.

Em segundo lugar, o benefício potencial é muito maior no nível de B2B. Decisões de compra do consumidor individual têm a capacidade de mudar gradativamente o mercado ao longo do tempo. Quando uma decisão é tomada na fase de produção, no entanto, é provável que resulte na reprodução industrial de milhares ou mesmo milhões de unidades. Ou seja, é uma decisão única que tem um enorme multiplicador downstream, em termos de volume do produto e da escala do impacto sistêmico potencial.

Como resultado, acreditamos que benefícios de uma maior sustentabilidade são possíveis a partir de esforços de transparência que resultarão em maior partilha de informação ao longo de cadeias de abastecimento, especialmente os esforços que utilizam o governo ou ONGs a fim de auditar informações independentemente. A partilha de informações B2B aperfeiçoadas resultará em mais transparência em todos os sentidos, inclusive para os consumidores, mas a procura por informações acontecerá de uma forma mais detalhada e rigorosa.

Uma vasta quantidade de dados ambientais úteis já existe, mas estes dados estão escondidos da vista do público, ocultados atrás de paredes de confidencialidade pelo direito de propriedade sobre informações comerciais. As empresas que controlam esses dados têm preocupações legítimas de que a publicação poderia comprometer os seus interesses comerciais. De forma tal que muito dos dados coletados pelo setor privado não estão amplamente disponíveis para apoiar e informar tomadas de decisões inteligentes.

Muitas organizações públicas e privadas descobriram, no entanto, que as empresas estão realmente dispostas a compartilhar essas informações dentro de um contexto B2B controlado. Na GreenBlue, temos demonstrado que é possível projetar sistemas de partilha de dados, de forma que estes dados sejam "democratizados" sem comprometer os interesses das empresas, nós acreditamos que a democratização dos dados vai promover um mercado de acelerada inovação.



2 - Exemplos de sucesso da transparência no B2B já existem

Embora tenha havido resultados mistos nos esforços de transparência de B2C; a transparência de B2B já acontece em muitas plataformas inovadoras e bem sucedidas.

Em alguns casos, estes exemplos são movidos por uma única empresa, com o Walmart talvez como exemplo mais conhecido. A iniciativa de sustentabilidade da empresa exigiu que todos os seus fornecedores relatassem detalhadamente informações ambientais sobre seus produtos e sourcing em uma série de categorias. Por exemplo, em 2006, o Walmart lançou o Chemical Assessment Review Program (CARP) “Programa de Estudo de Avaliação Química”, que obriga todos os fornecedores de produtos químicos, pesticidas ou produtos em aerosol a apresentarem informações completas sobre a química de seus produtos para avaliação diante dos requisitos ambientais e de saúde humana estabelecidos pelo Walmart.

Em outros casos, a transparência em B2B é impulsionada por programas de certificação milti-stakeholder bem concebidos. Por exemplo, no setor dos produtos florestais, o Forest Stewardship Council (Conselho de Administração Florestal) e outros programas de certificação florestal têm insistido, com sucesso, na "cadeia de custódia", monitorando a fibra da floresta até à fábrica do produto, e esta partilha de informação B2B fornece uma plataforma para o progresso em direção a uma gestão verdadeiramente renovável dos recursos florestais para as gerações futuras.

Em produtos de consumo, Green Seal, EcoLogo e outros programas de certificação têm criado estruturas transparentes para o compartilhamento de informações que permitam a avaliação de produtos com base em critérios claramente definidos, fornecendo, deste modo, um mecanismo para "simplificar" a comunicação aos consumidores.

O projeto “CleanGredients”, da GreenBlue, incentiva a inovação da química verde com base na democratização dos dados toxicológicos. Através da CleanGredients, foi criado um sistema de relatórios de informações que permite aos fornecedores de produtos químicos o compartilhamento de informações toxicológicas sobre os elementos químicos utilizados em produtos de limpeza sem comprometer as informações comerciais de propriedade.

Por exemplo, em vez de relatar a concentração exata em que cada produto químico se torna tóxico para os organismos aquáticos, a empresa pode informar se este se torna tóxico em menos de 1 mg/L, de 1 a 10 mg/L, 10 a 100mg/L ou em quantidades superiores a 100mg/L; um nível de resolução que é suficiente para diferenciar os produtos químicos e promover a inovação. Esse nível de resolução também é suficiente para permitir que os formuladores de produtos químicos façam escolhas mais seguras e mais verdes ao criarem novos produtos de limpeza, há, aí, uma recompensa aos fornecedores que criam produtos químicos inovadores na medida em que lhes dá um lugar para comercializar esses produtos.

É de vital importância, no entanto, não confundir transparência fraca (pobre em dados) com transparência forte (rica em dados). Podemos descobrir que um foco na transparência B2B forte é um incentivo mais poderoso, no longo prazo, para a transparência fundamental, que um foco na transparência B2C fraca. Olhando para a frente, estou otimista de que nossos esforços coletivos continuarão a aumentar a transparência em cadeias de abastecimentos, de modo que todas as empresas e consumidores tenham acesso aos dados críveis de que necessitam a fim de que tomem as melhores decisões.



Fonte: Agenda Sustentável



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