Vítimas de aquecimento, plantas passam a consumir menos gás carbônico

Data: 19/09/2008

Vítimas de aquecimento, plantas passam a consumir menos gás carbônico


O experimento, publicado na edição desta semana do periódico científico "Nature", deve levar a novas formas de calcular o quanto realmente as áreas com vegetação são capazes de agir como "sumidouros de carbono" - uma espécie de ralo que ajuda a controlar a presença de gases causadores do efeito estufa na atmosfera. Pena que os cálculos terão de ser refeitos todos para baixo.

Para obter essas conclusões, os cientistas tiveram de esperar quatro longos anos. "Claro que estávamos ansiosos para obter resultados desse estudo, mas você não pode apressar a natureza", disse ao G1 Paul Verburg, do Instituto de Pesquisa do Deserto, em Reno, Nevada (EUA). "Poderíamos ter feito um estudo de duração menor sob condições climáticas constantes, mas teria sido mais difícil traduzir os resultados para condições de mundo real", afirma.

O esforço de pesquisa consistiu em manter gramíneas encapsuladas em quatro lisímetros - tanques que permitem medições precisas da interação das plantas com seu ambiente - de 184 metros cúbicos. Essas chamadas EcoCELLs (ou Eco-Células, em português), de início, foram mantidas sob a mesma temperatura do ambiente.

Após um ano, no entanto, chegava a hora de testar o que aconteceria se as plantas passassem por uma fase de temperaturas mais altas -- um ano subitamente mais quente que o anterior. Os cientistas elevaram a temperatura em 4 graus Celsius, e a constatação veio em seguida: no ano mais quente, as plantas reduziram drasticamente sua capacidade de absorver carbono da atmosfera.

Pior: no ano seguinte ao superquente, mesmo com as temperaturas mais amenas, as plantas ainda pareciam afetadas, e a normalidade só retornou no quarto ano do experimento. Moral da história: num período de quatro anos, as plantas submetidas a um ano quente recolhem apenas um terço do carbono que as plantas que não passaram por esse apuro conseguem recolher.

Problema é para já - Diz-se que, até 2100, se nada for feito para conter o aquecimento global, as temperaturas podem aumentar, em média, até 4 ou 5 graus Celsius. Mas estamos falando de algo que levará décadas para se concretizar. Quer dizer então que as contas de Verburg e seus colegas só se aplicam ao efeito de daqui muitos anos?

Nã-nã-ni-nã-não. É para já. Isso porque, embora a média anual de temperaturas vá subir os tais quatro graus só em um século, não é incomum que anos específicos apresentem temperaturas bem acima (ou abaixo) da média. "Um dos impactos previstos da mudança climática é um aumento na freqüência dos anos 'extremos', ou seja, seca e calor extremos etc., e como eles podem impactar as concentrações atmosféricas globais de gás carbônico é o que queríamos estudar", explica Verburg.

"Quando olhamos para os dados de temperatura média anual dos últimos cem anos para o local de Oklahoma onde coletamos nossos ecossistemas, notamos ocorrência de anos extremamente quentes, que iam até 3,8 graus acima da média. Logo, os nossos 4 graus estão no extremo, mas não são irrazoáveis quando olhamos os dados históricos. Além disso, um aumento de 4 graus é grande o suficiente para permitir que vejamos algumas respostas claras, e foi o que fizemos."



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