Empresas se engajam na política nacional de resíduos

Data: 14/09/2009

Empresas se engajam na política nacional de resíduos


Por Dal Marcondes, da Envolverde

Depois de 18 anos rodando pelos corredores e gabinetes do Congresso, em Brasília, o Brasil poderá ter, ainda este ano, uma Política Nacional de Resíduos Sólidos. A expectativa de que o texto chegue ao plenário para votação foi um dos fatores para a mobilização de empresários, em São Paulo, em um encontro promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais – LIDE, no Teatro Vivo. E encontro reuniu lideranças ambientais e empresariais, além do deputado federal Arnaldo Jardim, relator da política de resíduos sólidos. Segundo o presidente da LIDE, João Dória Jr, os mais de 700 líderes que participam da organização estão subscrevendo um Manifesto pela Aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que será entregue diretamente aos deputados federais em um próximo evento da LIDE, focado em sustentabilidade, em Brasília.

Este evento em São Paulo, teve como foco a necessidade de um maior comprometimento do setor empresarial para que metas relacionadas à destinação final de resíduos possam ser alcançadas. Segundo Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak, patrocinadora do encontro, não é possível trabalhar com políticas de reciclagem que não tenham escala industrial, além disso, não dá para pensar em resolver o problema dos resíduos apenas pensando no valor da commoditie lixo. “Temos de atuar para que os grandes volumes de resíduos sejam tratados como recursos e matérias-primas para diversos setores”. Nigro fez uma apresentação sobre a atuação da empresa que dirige, que mantém programas de apoios às cooperativas de reciclagem e ao desenvolvimento de produtos com embalagens pós consumo. Para ele, que já atuou em outros países, como Canadá e Itália, com uma política pública nacional para o setor, será possível pensar em dar destinação ambiental e socialmente correta para cerca de 50% dos resíduos gerados pela sociedade e empresas em 7 a 10 anos.

Esta é, segundo o deputado Arnaldo Jardim, outro palestrante da manhã, uma estimativa possível de ser atingida. Paulo Nigro explicou que, no Canadá, onde participou como consultor na elaboração da Política Nacional, a meta foi de 50% em 5 anos, e foi cumprida com um ano de antecedência. Estas metas ganham consistência quando se vêm os números sobre os quais estão calcadas. O Brasil produz 150 mil toneladas de resíduos sólidos por dia. Destes, 55% são depositados em lixões a céu aberto, gerando grandes impactos ambientais e degradação social. 39% é destinado para aterros sanitários, que mesmo sendo bem manejados, são caros e poderiam ter vida útil maior se os recicláveis fossem separados, uma vez que apenas 6% de todos os resíduos são atualmente coletados de forma correta e trabalhados em processos de logística reversa e reciclagem. Mesmo entre as embalagens produzidas pela Tetra Pak, apenas 26,6% tem destinação para ser transformadas em telhas e outros produtos úteis.

Um dos motivos pelos quais a Política Nacional de Resíduos Sólidos está derrapando há tanto tempo entre os deputados é a pressão de alguns setores da indústria que questionam o “princípio do poluidor pagador”, que busca responsabilizar a cadeia de valor dos produtos que geram o resíduo por sua destinação adequada. “É, de fato, uma questão controversa”, disse Arnaldo Jardim. Mas ressalta que é preciso encontrar um formato de comprometimento de toda a sociedade em relação ao problema. Ele se diz otimista, principalmente porque a percepção das empresas em relação ao problema vem mudando radicalmente nos últimos anos. Hoje as questões relacionadas à sustentabilidade não estão mais sendo tratada de forma periférica. “Este ano vamos ter uma solução, que passa pelo apoio das empresas e por um ordenamento da ação dos poderes públicos”, afirmou.

Os dois principais palestrantes do dia foram unânimes em relação à necessidade de preservar e fortalecer as cooperativas de reciclagem como forma de criar valor para uma camada da sociedade que vive excluída dos processos de mercado. “A política nacional não pode desestruturar o que vem sendo feito”, disse Jardim. A Tetra Pak, segundo Paulo Nigro, durante os piores momentos da crise financeira recente, atou comprando as embalagens pós consumo para garantir que as cooperativas mantivessem seu equilíbrio econômico. “A queda da atividade econômica diminuiu a demanda por resíduos e as cooperativas são o ela mais fraco da corrente”, disse. A empresa buscou criar um “estoque regulador” para manter a atividade de reciclagem funcionando.

O encontro contou também com a presença de Reaberto Klabin, presidente da Fundação SOS Mata Atlântica e outros altos executivos de grandes empresa, como Natura, Klabin, Vivo e outras. (Envolverde)



(Agência Envolverde)


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