Destruir com uma mão, tomar com a outra.

Data: 10/09/2009

Destruir com uma mão, tomar com a outra.


As florestas viraram manchetes de jornal atualmente. Impedir o desmatamento irá ajudar-nos a abordar a mudança climática (pelo menos se o carbono armazenado nas florestas não for comercializado para permitir que as emissões continuem em outros lugares). Mesmo assim, as florestas nunca estiveram sob uma ameaça tão séria.

A reportagem é de Chris Lang, publicado pelo boletim número 145 do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais e reproduzida pelo EcoDebate, 09-09-2009.

Reduzir o desmatamento é uma boa idéia. Detê-lo de vez seria melhor. Pagar aos povos indígenas e comunidades locais que protegem as florestas seria ainda melhor. Supõe-se que esta é a idéia por trás do Novo Grande Plano para salvar as florestas: REDD (redução de emissões do desmatamento e degradação florestal). Mas por que o REDD não tenta abordar os motores do desmatamento?

Tal como o WRM vem assinalando reiteradamente, uma das ameaças mais insidiosas para as florestas provém das plantações industriais de árvores. A atual obsessão por tudo o que tiver relação com o carbono, junto ao fracasso das Nações Unidas para diferenciar as florestas das plantações providencia o maior incentivo para clarear florestas e substitui- las por plantações.

Uma parte importante da ameaça provém da falsa solução para a mudança climática: plantações de biomassa. Conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, a madeira é considerada como “carbono biogênico”, que faz “parte do balanço natural de carbono [que"> não será acrescentado às concentrações atmosféricas de dióxido de carbono.” Mas em decorrência dessa contabilidade criativa, as plantas de biomassa brotam como cogumelos depois da chuva. A China está planejando construir plantas de biomassa de 30.000 MW até o ano 2020. O sul dos EUA tem sido chamado de “a Arábia Saudita da biomassa”. Grande parte desta expansão é para alimentar as empresas públicas européias, que irão produzir 20% de sua energia provinda de “fontes renováveis” até 2020.

Ao crescerem, as árvores absorvem carbono. Até aqui tudo bem. Mas os proponentes da biomassa ignoram o fato de a queima de madeira liberar dióxido de carbono, da mesma forma que a indústria de papel e celulose ignora o fato de a produção de celulose a partir de madeira para fabricar papel também produzir enormes volumes de dióxido de carbono.

Obviamente, se as árvores forem replantadas, irão absorver dióxido de carbono. Mas ainda com as árvores de eucaliptos de crescimento rápido há uma demora de 5 a 7 anos antes de o dióxido de carbono liberado pela queima de madeira for absorvido pelas árvores. Se vamos abordar a perigosa e descontrolada mudança climática, a última cosa que necessitamos é uma demora de cinco a sete anos. As árvores na Europa e nos EUA crescem mais lentamente, e portanto levarão mais.



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