MUDANÇA DE CLIMA É NOVA PREOCUPAÇÃO DAS EMPRESAS

Data: 24/08/2009

MUDANÇA DE CLIMA É NOVA PREOCUPAÇÃO DAS EMPRESAS


Os prejuízos provocados pelos desequilíbrios climáticos vão aumentar de uma média de US$ 30 bilhões ao ano, registrada entre 2000 e 2006, para algo entre US$ 80 bilhões e US$ 220 bilhões anuais na década de 2010 a 2020. Para a indústria de seguros, esses números, que são de um estudo da Alliance, podem ser devastadores, mas podem também indicar grandes oportunidades de negócios. Atentos ao tema, os executivos da HSBC Insurance, de Londres, já montaram uma equipe especialmente dedicada a pensar, repensar e definir estratégias de abordagem para o assunto. Essa equipe quer descobrir como as mudanças climáticas vão afetar, na prática, a rotina de seus clientes.

Quem está à frente desse novo departamento, que reúne cerca de 20 pessoas, é o inglês Sunny Sehgal, químico de formação, mas com uma carreira de consultoria em risco ambiental e de sustentabilidade para firmas de engenharia - duas áreas que estavam apenas nascendo nos anos 90, quando começou a trabalhar. Ele chegou ao HSBC em 2004 para trabalhar como consultor no mesmo assunto e foi convidado, em janeiro, a gerenciar o departamento de seguros sustentáveis. Para o HSBC, o tema tornou-se uma questão global. "Queremos saber como podemos oferecer produtos 'verdes' que os clientes estejam desejando nas grandes economias da América Latina, Europa, Oriente Médio e no Pacífico. Mas também olhar o lado do risco", afirma.

Sehgal, que esteve no Brasil para falar em um congresso sobre sustentabilidade, disse ao Valor que a indústria de seguro tem um papel fundamental na mudanças dos hábitos de consumo de seus clientes. Ele afirmou que as empresas querem poder identificar os clientes com práticas mais "sustentáveis" de comportamento para atribuir-lhes uma melhor classificação de risco nas apólices. "Alguém que compre, por exemplo, um Toyota Prius, um veículo híbrido mais eficiente em termos de consumo de energia. Podemos deduzir que o ato de comprar esse veículo pode significar que este é um consumidor mais consciente e um potencial risco menor para as seguradoras", explicou Sehgal.

Mas e se o comprador do Prius for um alcoólatra que adora dirigir perigosamente? Claro, ele diz, a empresa vai ter que levar em conta vários fatores, e não apenas um, isoladamente. Mas há indicadores que as seguradoras vão buscar para poder traçar esse novo perfil de risco. As empresas também estudam criar cláusulas que forcem um consumidor a trocar, em caso de sinistro, sua geladeira por outra que gaste menos energia. "Talvez, à medida que avançamos, a atitude das pessoas com relação à questão ambiental possa ser algo que coloquemos neste caldeirão de risco, para entender quanto de prêmio podemos oferecer para aquele cliente. Estamos começando a olhar para essas coisas agora."

Segundo o executivo da HSBC Insurance, a seguradora Alliance fez um estudo juntamente com a ONG WWF que mostra que existe, na verdade, uma correlação entre o que move um comportamento sustentável de consumo e melhores riscos de seguro. "Nos EUA, há estudos que mostram que se você constrói edifícios 'verdes' , dentro de padrões de eficiência energética, uso racional de água e materiais sustentáveis, de novo, isso representa melhores riscos nas apólices em termos de enchentes, incêndios. Mas somente agora estamos começando a estudar todos esses aspectos. Uma vez que fizermos essa correlação, poderemos começar a colocar um preço nisso, a oferecer descontos pelo bom comportamento do cliente. Podemos encorajar as pessoas a mudar seu comportamento. Mas isso tem que ser feito com a ajuda dos governos."

A parceria das seguradoras com o setor público, na visão de Sehgal, é fundamental para essa mudança de consciência de consumo e mitigação de prejuízos. Segundo um estudo do Centro de Mudança Climática do HSBC, mesmo num ano de recessão global, governos de países ao redor do mundo, liderados por Estados Unidos e China, desembolsaram US$ 470 bilhões em incentivos fiscais destinados a investimentos em infraestrutura para evitar problemas relacionados ao clima. Projetos para aumentar a eficiência energética e o consumo de água lideram esses aportes, segundo a pesquisa.

Segundo Sunny Sehgal, quem lidera, com pesquisas de vanguarda toda essa discussão, é o setor de resseguros, por razões óbvias. "Empresas europeias como Munich Re e Swiss Re estão estudando isso há alguns anos."


Fonte: Valor Econômico


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