A Índia quer se tornar um gigante da energia solar
A Índia poderá investir 19 bilhões de dólares nos próximos 30 anos para aumentar a sua produção de energia solar. Um relatório, entregue na segunda-feira, 03 de agosto, ao Primeiro-ministro Manmohan Singh, e ao qual o Le Monde teve acesso, fixa os objetivos de produção de 20.000 megawatts (MW) em 2020 e 200.000 MW em 2050, contra apenas 51 MW em 2009.
A reportagem é de Julien Bouissou e está publicada no jornal francês Le Monde, 07-08-2009. A tradução é do Cepat.
O plano deverá ser publicado em setembro, algumas semanas antes da Conferência Internacional de Copenhague sobre as mudanças climáticas, que vai ser realizada em dezembro. A Índia, quarto maior produtor mundial de energia eólica, fornece apenas 0,1% da energia solar do mundo. O país, que dispõe de condições de insolação avantajadas, produz quase 50 vezes menos energia solar que a Alemanha, o líder mundial.
Nova Déli encoraja ainda timidamente a promoção de energia solar. O ministério indiano das energias renováveis se contenta atualmente em apoiar financeiramente a construção de centrais solares de capacidade mínima de 50 MW. O relatório entregue ao Primeiro-ministro preconiza, ao contrário, uma política de subvenção das tarifas de compra da energia solar, até se aproximarem das do petróleo ou do carvão. Prevê que entre 2009 e 2020, o preço do quilowatt/hora da energia solar passará de 16 para três rúpias (de 0,23 para 0,04 euro).
A compra de equipamentos solares estará isenta de taxas, e as centrais solares não pagarão impostos durante dez anos. As medidas previstas são apenas incitativas: os grandes complexos imobiliários terão a obrigação de se equipar com painéis solares. Se as residências privadas escolherem essa alternativa, o Estado garantirá a compra de seu excedente de energia. Em caso de panes de corrente, frequentes na Índia, os painéis solares poderão alimentar os geradores e economizar mais de dois bilhões de litros de diesel e de querosene por ano. Um milhão de tetos e 20 milhões de residências poderão ser equipados até 2020.
A energia solar permitirá fornecer a eletricidade a um custo menor para as populações isoladas. Mais da metade dos indianos ainda provê a iluminação com velas ou geradores. E é mais caro conectar uma cidade isolada à rede elétrica do que instalar uma unidade de produção de energia solar. O governo prometeu eletrificar todo o país até 2012.
A Missão Solar Nacional será a autoridade central encarregada de implementar esta nova política. Ela será alimentada, num primeiro momento, pelo orçamento do Estado, antes de ser financiada diretamente por uma taxa sobre a venda de energias fósseis, como o carvão ou o petróleo. O governo central conta também com os Estados regionais para subvencionar em 30% as tarifas de energia solar. Eles deverão, sob pena de multa, garantir um patamar mínimo de seu consumo energético com energia solar. O que ultrapassar essa cota poderá ser revendida aos Estados vizinhos sob a forma de certificados.
Com uma previsão de suas necessidades em eletricidade da ordem de 240.000 MW em 2020, a Índia deverá cobrir 8,3% do total de seu consumo graças à energia solar. O país, que é atualmente o quarto maior poluidor do planeta e extrai 60% de sua energia do carvão, reduzirá assim sua produção anual de dióxido de carbono em 42 milhões de toneladas até 2020. Em 2007, o país produzia 430 milhões de toneladas.
Com o advento da energia solar, a tecnologia tornar-se-á o nervo da guerra. Para atingir as suas metas, a Índia deverá formar em torno de 100.000 engenheiros e técnicos. O país, já dependente das importações de petróleo, não quer se encontrar numa nova dependência, desta vez em relação às patentes estrangeiras.
Ao criar parques tecnológicos e incentivar a pesquisa, a Missão Solar Nacional quer encorajar o surgimento de campeões nacionais, como já existem no setor eólico, como a Suzlon, que é a quinta maior construtora mundial de usinas eólicas. Doze empresas, uma das quais é uma filial da Tata Motors, deverão investir 11,4 bilhões de euros nos próximos dez anos, conforme cálculos do escritório de estudos RNCOS, de Nova Déli.
O cumprimento deste plano vai depender muito de seu financiamento. O acesso às tecnologias solares competitivas corre o risco de ser caro. Nós temos necessidade da assistência financeira dos países ricos, explica Sunita Narain, membro do Conselho Indiano de Mudanças Climáticas.
Na Cúpula de Copenhague, a Índia lutará por acordos de transferência de tecnologia entre países do Norte e do Sul, a fim de conseguir sua reconversão nas energias próprias. Em troca, Nova Déli quer evitar a todo custo um compromisso fixado em números da redução de suas emissões de gás de efeito estufa.
Para ler mais no site do IHU On-Line
Energia: Sol da África para eletrificar a Europa
Transição para uma Sociedade Pós-Carbono
Energia eólica está em expansão no mundo
Mão-de-obra para uma economia mais sustentável
Vaticano instala painéis solares e quer ser pioneiro na Europa
A energia nuclear é a tecnologia da guerra fria. Hoje a opção é a energia solar
Energia eólica: vantagens, desafios e eficiência. Entrevista especial com Júlio César Passos
Empresas de energia solar e eólica já rivalizam com usinas a gás ou carvão
14 Estados da UE rejeitam objetivos obrigatórios em explorar 20% de energias renováveis até 2020
(IHU On-Line)
< voltar