Problemas atuais se devem às decisões erradas do passado

Data: 06/08/2009

Problemas atuais se devem às decisões erradas do passado


Quando o “pajé” Wellington Nogueira, do Doutores da Alegria, entrou em cena no Sustentável 2009, evento organizado pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) com o objetivo de propor soluções concretas para os problemas socioambientais enfrentados hoje, foi logo falando das imagens sombrias que temos em relação ao futuro. É o calendário Maya, o aquecimento global, cataclismas… Nada muito animador. Mas Nogueira fez questão de contrapor a esse cenário calamitoso a idéia de que foi a imagem de futuro que fez o homem evoluir. “Que futuro eu vejo?”, pergunta ele. E assim foi dado o tom do evento, que teve início na tarde desta terça-feira (4/8), no Teatro Tuca, na PUC de São Paulo.

Claro que existem muitos desafios a serem vencidos. A previsão de que a população humana chegará a 9 bilhões em 2050 não é nada animadora. Como ressaltou Achim Steiner, diretor-executivo do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), hoje fala-se muito no pico da produção de petróleo, mas também pode faltar água, energia e comida.

Para o diretor, o principal problema gira em torno do petróleo. “É simplesmente irracional que todos os nossos meios de transporte e nossa produção industrial estejam baseados em um elemento que sabidamente vai ter seu preço duplicado, triplicado, quadruplicado, e, enfim, vai desaparecer”, aponta.

Steiner diz que investimentos em energia limpa são mais vantajosos, pois além dos benefícios ao ambiente, também tem o potencial de criar entre 3 e 5 vezes mais empregos do que atividades ligadas à produção de energia suja.

Ele explica que os problemas que enfrentamos hoje se devem às escolhas erradas do passado. “O Quênia, por exemplo, poderia abastecer todo o mundo com energia limpa, como a solar, a eólica e a hidrelétrica. Mas devido às escolhas feitas, seguiram o caminho contrário e hoje sofrem com essas consequências”, diz.

Outro ponto combatido por Steiner são os bilhões de dólares investidos no desenvolvimento de técnologia de sequestro de carbono: “A natureza levou milhões de anos para desenvolver o biosequestro com as florestas. Por que não investir nisso?”

Com relação ao Brasil, ele vê inovação, criatividade e pragmatismo na comunidade empresarial, mas reclama da falta de um modelo de desenvolvimento que vislumbre uma economia de baixas emissões de gases causadores do efeito estuf:. “Onde estão as grandes idéias? Qual o grande valor de proteger uma floresta como a Amazônia? Onde está a discussão sobre liderança e transformação? Vocês realmente acreditam em se sacrificar por desenvolvimento no curto prazo quando possuem as maiores quedas d’água e o mais diverso ecossistema do planeta?”

Mesmo assim, Steiner é otimista e acredita que as futuras gerações, quando olharem para esse momento, verão que as decisões certas foram tomadas.

Mais emissões ou salto tecnológico

José Goldemberg, coordenador da comissão de bioenergia do estado de São Paulo, ressalta que a natureza do problema do aquecimento global não é a energia em si, mas, sim, a energia gerada pela queima de combustíveis fósseis, que representa 80% no mundo.

“Essa é a primeira vez na história que um terço da humanidade tem um nível razoável de vida. É verdade que outro um terço não tem acesso a nada, mas mesmo durante o império romano, apenas 10% da humanidade tinham um nível de vida adequado”, explica.

O ponto, segundo ele, é o que deve ser feito para que os benefícios da energia elétrica continuem disponíveis. “A grande ênfase que está se dando no mundo é com relação ao uso de forma mais eficiente. Mas pregar isso nos países em desenvolvimento é pregar no deserto, porque eles já consomem muito menos do que os ricos”, explica. “É preciso que o desenvolvimento se dê de forma a não cometer os mesmos erros dos países já desenvolvidos”, completa.

Para isso, o coordenador diz que é preciso um salto tecnológico. “Quando o país é pobre, precisa investir mais em energia para melhroar o PIB. Países que fizeram isso, chegaram a um pico nas emissões e, depois, diminuíram. Mas será que a China e o Brasil precisam passar por isso?”, questina.

Para Sérgio Mindlin, presidente da Fundação Telefônica, o momento representa uma grande oportunidade para o Brasil. Ele defende o desmatamento zero e, mais do que isso, o reflorestamento de áreas degradadas. ” Infelizmente, o Brasil defente a idéia de que é preciso aumentar as emissões enquanto está se desenvolvendo. O salto tecnológico poderia ser uma melhor opção”, lamenta.

Além disso, ele sugere que as empresas criem uma reserva de impactos ambientais e sociais, como ocorre em relação aos encargos trabalhistas. “Isso poderia reverter o resultado positivo de organizações que não pensam no impacto futuro de suas cadeias produtivas”, conclui.

(Mercado Ético)




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