Entrevista com Leonard Schlesinger, presidente do Babson College

Data: 03/08/2009

Entrevista com Leonard Schlesinger, presidente do Babson College


O arborizado campus do Babson College é, sem dúvida, inspirador. Criado em 1919, com o nome de Babson Institute, desde 1969 passou a ser conhecido com o nome atual. Nome não, uma verdadeira “placa”. Este centro de excelência, localizado na cidade de Wellesley, próxima de Boston, no estado de Massachussetts, transformou-se em referência não só em ensino, mas, principalmente, na prática dos valores do empreendedorismo. Não por acaso, o lema da escola é “inovação é nossa tradição”.

Por estes corredores passaram alguns dos principais administradores não apenas dos Estados Unidos, como também de outros 60 países, a exemplo do Brasil. São cerca de 1.800 alunos por ano nos cursos de graduação e 1.600 no Mestrado e Educação Executiva. Seus cursos também são desenvolvidos em convênios com outras Universidades e Escolas , no mundo incluindo o Brasil e outros países da América do Sul. A Fundação Getúlio Vargas é a parceira nacional.

O experiente Leonard Schlesinger é o novo presidente há cerca de um ano. Ele traz um currículo invejável: já passou por várias empresas, como a Limited Brands (controladora de várias marcas famosas, como The Limited, Victoria Secrets e outras), onde era Vice-Chairman e Chief Operations Officer (COO); foi Vice-Presidente Executivo e acionista da rede de restaurante Au Bon Pain; atuou como consultor para mais de 100 grandes corporações e sua atividade acadêmica inclui 20 anos na Harvard Business School, liderando programas específicos de MBA e educação executiva, destacando-se o Essential Skills and Foundations, arquitetado por ele. Abriu espaço na concorrida agenda para atender Plurale em revista. Simpático, o autor e co-autor de nove livros sobre questões de liderança, contou que prefere ser chamado de Len.

Confira esta entrevista, onde pode-se verificar o avanço do conceito de Sustentabilidade não como mero processo de formação acadêmica, mas de exercício prático daqueles que vão conduzir, ou já conduzem, os negócios empreendedores que a sociedade exige.

Plurale em revista - Como o senhor define sustentabilidade?

Leonard Schlesinger - Vou começar com uma definição bem ampla de sustentabilidade, pois limitá-la às questões ambientais seria reduzi-la a um conceito extremamente limitado e inútil. Esse seria a primeira parte. A segunda é pegar a definição em si: quais são todos os mecanismos existentes para maximizar a duração e a longevidade das organizações, instituições e atividades com o consumo mínimo de recursos? A essência está justamente no equilíbrio entre a eficiência e a eficiência associada à longevidade. O que na verdade não acontece. Inclusive já tivemos essas discussões aqui e muitas pessoas defendem essa ideia. O problema com a definição de sustentabilidade nessa linha, é que ela implica que é importante sustentar tudo por um longo período e obviamente há menos atividades úteis que não justificam uma sustentabilidade de longo prazo, apesar delas existirem. E, por outro lado, há outras atividades onde é particularmente apropriado programá-las de fato para uma utilização de curto prazo, o que implica em uma estrutura totalmente diferente da agenda. Na minha opinião, quando se projeta algo para utilização de curto prazo, a função objetiva são os danos mínimos associados ao descarte, independentemente do que está sendo projetado e organizado. Vamos começar basicamente com uma definição ampla. Ela gira em torno de sustentabilidade organizacional, de sustentabilidade de produto, de sustentabilidade ambiental, de sustentabilidade de forças: todas essas dimensões.
- Então, a sua administração não está apenas ensinando isso aos alunos, mas também está aplicando isso como um conceito?
- É isso mesmo. Na verdade, aplicar isso como um conceito no contexto da administração é muito simples. O modelo padrão para a evolução das atividades comerciais norte-americanas é bem simples: alguém chega e abre um negócio. Historicamente, os fundadores começam uma empresa tendo em mente os lucros e/ou a maximização do valor dos acionistas. Com um desempenho extraordinário, eles não têm qualquer consideração de segunda ou terceira ordem com relação às consequências dessas atividades. E antes de morrerem, eles criam uma fundação para pagar pelos seus pecados. Este foi o modelo que seguimos durante muito tempo. No entanto, não é um modelo muito útil, nem muito eficiente. É o que estamos tentando dizer aqui sob os princípios da sustentabilidade e de avaliação do desempenho organizacional, em oposição ao modelo histórico que celebra a maximização do valor econômico sem considerar os efeitos de segunda ou terceira ordem.

- O que quer dizer com efeitos de segunda e terceira ordem?

- Estou me referindo aos efeitos sociais e ambientais. O que queremos dizer agora é que as questões que envolvem as pessoas, o planeta e os lucros devem ser considerados simultaneamente em vez de sequencialmente. Em nossa estratégia institucional discutimos isso explicitamente.

- Por que trouxe esse conceito para a administração desta escola?

- Queria muito que fosse uma ideia original. Mas havia três motivos básicos. Um deles é o modelo histórico de teorias que ensinamos às pessoas que eram subjacentes à formação administrativa. É um modelo fatalmente fadado a erros. O modelo se baseia em três suposições, sendo que nenhuma delas é verdadeira atualmente. Uma delas se refere à energia barata. A segunda é o acesso fácil ao crédito e a terceira é o mercado de trabalho qualificado e abundante, que não custa muito caro. Essas são as teorias que ensinamos. Foram nestes modelos que nos baseamos e nenhuma destas variáveis são verdadeiras hoje. Esta é a primeira questão. A segunda questão se refere à crise econômica de 2008, o que nos dá uma causa, como sociedade, para refletir até que ponto e de que forma, há alguma relação entre o que ensinamos e o que acabou de acontecer. Se vamos assumir a responsabilidade por tudo isso ou não, já é uma outra história. Mas a questão é justamente se o que estamos fazendo ou ensinando, de alguma forma contribuiu com os males econômicos que estamos enfrentando. E, sinceramente, a realidade é que as propostas fundamentais de ganância sem muita consideração às consequências dessas atividades têm que ser levadas em conta como grande responsável pelo que aconteceu à economia. No aspecto mais simplista, argumentaria que tudo foi uma combinação de estupidez, em termos de fazer suposições sobre os poderes do nosso modelo econômico para prever as atividades que vão além da nossa capacidade de proteção. Esta é a primeira questão.

- E a segunda?
- A segunda parte se refere à ignorância em termos de pegar essa estupidez e colocá-la em instrumentos que poderíamos vender às pessoas sem que nem elas, nem nós entendessemos direito do que se tratava. Aliado à ganância, prometemos retornos econômicos de dois dígitos por esses instrumentos que na verdade não faziam o menor sentido, pois tudo isso nasceu da estupidez. Então, como costumo dizer sendo ao menos gentil, é que pega-se a estupidez, mistura-se com a ignorância e multiplica-se pela ganância e o resultado é um pouco dos problemas econômicos que temos agora. Mais uma vez a pergunta é: até que ponto somos responsáveis por essa estupidez? Até que ponto somos responsáveis por essa ignorância? Até que ponto somos responsáveis por essa ganância? Não somos inocentes. Existem grandes empresas acima e além das Escolas de Administração. Uma das perguntas seria: que oportunidades temos no presente, considerando qualquer evento crítico que dá a todos a oportunidade de parar e refletir que o modelo atual não se sustenta mais, qual deveria ser a face desse novo modelo? Muitas pessoas têm a esperança de voltar rapidamente ao normal. Eu argumentaria que não sei exatamente o que é normal. O que estamos afirmando aqui, é que estamos diante de uma nova era definida como normal, mas não sabemos exatamente quais serão as suas características. O que sabemos é, que no final, todos os fundamentos da economia se baseiam em confiança e a confiança foi desrespeitada. São as interações entre os sistemas econômicos, entre os países, entre compradores e vendedores, entre banqueiros e instituições de empréstimos. O que quero dizer é que se alguém consegue entender porque é tão difícil voltar para algo que se assemelhe remotamente a um ciclo de empréstimos mais eficaz é porque a confiança foi desrespeitada em todos os aspectos. Portanto, uma das características que geralmente não são ensinadas como uma pré-condição para a realização de negócios eficazes está nas condições necessárias que uma sociedade precisa para recriar o conceito de confiança. É mais ou menos a ideia principal do que fazemos e do que precisamos fazer.

- Se me permite acrescentar algo, já que foi o que sempre entendi com relação ao conceito de sustentabilidade. Se alguém tem uma atividade econômica, que é algo inerente à vida, é preciso equilibrar tudo isso de acordo com a sua nova realidade de trabalho. É exatamente o conhecimento que está sendo espalhado pelo mundo com relação às consequências, como o senhor disse, e o fato que podemos administrar essa situação se houver vontade, é lógico.

- Se optarmos por esse caminho.

- Certamente.

- Então a questão do gerenciamento da sustentabilidade é uma opção. Tenho três filhos já adultos (31, 28 e 25 anos) e a lição mais valiosa que acredito ter ensinado como pai assim que eles estavam maduros o suficiente para assimilar, é que qualquer escolha sempre terá consequências. E durante muito tempo fizemos escolhas sem de fato considerarmos as consequências como parte do processo decisório. A questão agora para as empresas é que é preciso introduzir um processo decisório muito mais rico. É preciso juntar as variáveis, que historicamente eram pensadas em série, e lidar com elas simultaneamente. Tem que se mostrar e abrir o seu caminho em situações de conflito, que de fato surgem, e precisa encontrar a melhor decisão a ser tomada em um determinado momento, já que não há uma estrutura de decisão ideal quando você está lidando com uma série de variáveis que precisam ser equilibradas.

- Os estudantes do Babson College vão simplesmente ser ensinados sobre esse conceito (da Sustentabilidade) ou acredita que eles terão a oportunidade de praticá-lo?

- Não há sentido em ensinar coisas que as pessoas não vão usar. Tenho que tentar ser bem explícito quando falo aos alunos sobre a escolha em cursar uma escola de administração, que seria algo nesta linha: ou você vai fazer algo por conta própria como um empreendedor e abrir sua própria empresa, ou será empregado de alguém. E a minha teoria é que estamos ensinando habilidades específicas a eles e dando todas as condições para que possam colocar em prática a lógica do processo decisório, que serão muito úteis quando vocês se formarem. Em alguns casos, eles vão estar liderando o mercado, ou lado-a-lado, e, em outros, vão definir esse mercado. No entanto, não há nenhuma dúvida de que precisamos entender que existe um cliente e um mercado.

Em um centro de excelência como este, recebe-se uma enorme quantidade de informação. Esta é uma escola de negócios e acredito que existe uma grande diferença entre o que se aprende e o que se pratica. O senhor pode ensinar, pode dizer que o caminho da Sustentabilidade será a maneira de lidar com o novo mundo com o qual já estamos nos defrontando. Mas pelo outro lado os estudantes tem a chance de praticar este conceito aqui?

- Sem dúvida. Em primeiro lugar, esse currículo é dedicado ao aprendizado baseado em ações com oportunidades para falhas e reflexões. O meu argumento é que a faculdade, particularmente as universidades, bem como os programas de MBA, são os lugares mais seguros do mundo para testar comportamentos e atividades já que os custos de falhas são relativamente insignificantes. Se não conseguirmos ensinar às pessoas nesses ambientes a tomar atitudes e, consequentemente, a falharem, e depois orientá-las no processo de reflexão e numa mudança de comportamento, isso significa que fracassamos seriamente em nossa atividade. Não temos interesse em ensinar teoria por pura teoria. O nosso interesse é ensinar teoria para que ela seja aplicada na prática gerencial. Esse é nosso objetivo. Oferecer oportunidades para que os alunos possam aplicar isso na sala de aula e em projetos. Inclusive temos um programa grande na área de consultoria de gerenciamento , onde temos clientes reais para projetos reais que passam por este processo. Há também o B caps, que são os fundamentos do nosso programa de MBA, que são projetos com trabalho de campo junto às empresas. Acima de tudo, você constatará que esta instituição está provavelmente entre as que mais valorizam a parte prática do ensino. Inclusive se essas teorias não surtirem os efeitos desejados, elas serão vigorosamente rejeitadas nas salas de aula. Os nossos alunos não são tímidos.


- O senhor fala sobre a realidade do nosso tempo e assim, pergunto se acredita que o caminho da Sustentabilidade pode ser o caminho para uma real contribuição nas mudanças da Economia?

- Sem dúvida.

- Então, o senhor acredita mesmo, que aplicando e praticando este conceito da Sustentabilidade na sua adminstração, nas salas de aula, isso fará com que as pessoas se movam, indo à frente para resolver a crise?

- Posso estar em uma missão impossível, mas é nela que acredito. Acredito na essência disso tudo: estamos no setor dedicado à criação de empresas melhores e ao criar empresas melhores, vamos construir um mundo melhor. Não há dúvida de que se olharmos para a estrutura global da economia de hoje, estaremos vendo a necessidade de estimular o crescimento. Na essência de todas essas oportunidades de crescimento, seja em economias emergentes ou em economias desenvolvidas como a nossa, estão o empreendedorismo e a inovação, tudo o que propomos nesta escola. O que digo sempre nas minhas palestras para formandos e alunos, se resume praticamente a duas linhas: primeira, esta é a nossa época. Se é que já existiu uma época em o empreendedorismo e a inovação não eram absolutamente necessários e celebrados. Certamente não vi isso na história moderna e o mundo precisa do que temos a oferecer. Não há dúvida quanto a isso, depois de analisar todas as economias. Ainda não vi nenhuma economia recusar a inovação, dizendo, por favor, não venham com novas ideias. A segunda linha é o fato de lidarmos com as consequências envolvidas no que abordamos antes. Como Peter Drucker declarou com humor: por baixo dos problemas do mundo há uma infinidade de oportunidades empreendedoras. Tendo em vista a economia norte-americana atual, a administração presidencial identificou o sistema de saúde, a educação e o meio ambientes como os três principais setores de investimento. Todos estes setores são absolutamente absorventes em termos de atividades empreendedoras. Não tenho dúvida de que devemos ajudar as pessoas a reunirem os métodos, as habilidades específicas e os recursos para poder trabalhar de forma a influenciar todos essas agendas.

- O campo ambiental é impressionante...

- Atualmente o governo norte-americano pretende destinar 150 bilhões de dólares em energia verde e a maior deficiência existente em nossa economia são gerentes que sabem gastar esse dinheiro de uma forma inteligente. Não temos apenas a oportunidade, mas a obrigação de preencher essa lacuna.


- Antes vir para o Babson, o senhor teve 20 anos de experiência acadêmica. Já praticava esses conceitos nesse período?

- Claro. Vou falar um pouco da minha formação para que você entenda melhor exatamente como cheguei às conclusões do que estamos tentando implantar aqui. Sou formado em Psicologia e sempre trabalhei em fábricas, onde observava os novos modelos de supervisão. No início dos anos 70, já tratavamos da qualidade de vida, de trabalho, junto com gerenciamento de mão-de-obra, conceitos de Qualidade, como as experiências da vida e de trabalho da Volvo etc. Daí desenvolvi meu trabalho, minha pesquisa e minha consultoria, e por volta de 1981/82, depois de passar seis anos só me dedicando a centros de produção, um assunto me despertou a atenção. Fiquei fascinado com a aplicação daquelas teorias aos Serviços. E também porque certamente o crescimento de Serviços era, e é, muito maior do que o crescimento de Produção nos Estados Unidos. E, sinceramente, nos cursos de Administração e no governo, apesar de os serviços representarem praticamente 100% do crescimento do PIB, o governo classificou-os como não-produtivos. Temos escolas de administração voltadas à Produção, temos uma orientação de crescimento de Produção e no fundo uma economia de Serviços. Em 1981, dediquei muito tempo na criação da companhia aérea People Express. Estava tentando aplicar essas teorias à criação de uma nova linha de serviços. O projeto despertou muito interesse e trabalhei nele cerca de dois anos como um acadêmico, documentando tudo e pesquisando. Foi quando resolvi que já sabia como fazer e estava suficientemente convencido disso e disposto a colocar a minha carreira acadêmica de lado e colocar minhas economias em um projeto de risco: me tornei o terceiro maior acionista de uma empresa de implantação de restaurantes chamada Au Bon Pain ( tinha 19 restaurantes na época ). Assumi o cargo de diretor operacional e o meu objetivo principal era administrar a empresa explicitamente, segundo as teorias que eu estava tentando desenvolver em um ambiente acadêmico. Depois de três anos e meio e muito sucesso, vendi a minha parte. Àquela altura, estava absolutamente convencido que sabia o suficiente para montar um currículo de uma Escola de Administração explicitamente dedicada a Serviços. E que podíamos cuidar de todos os aspectos funcionais e nos concentrar explicitamente na parte dedicada a Serviços. Fechei um acordo com Harvard quando voltei para que eles me deixassem trabalhar em paz para que eu pudesse criar esta nova Escola de Administração dentro de uma Escola de Administração. Na verdade, criei um programa de administração dentro de uma Escola de Administração exclusivamente voltado para Serviços e um corpo docente com 12 membros. Tínhamos o nosso próprio programa de doutorado, nossa própria programação de pesquisa e nossa própria educação executiva.

- Por quanto tempo?

- Fiz isso durante 10 anos. Nesse período, concentrei minhas áreas de pesquisa, principalmente em serviços, em serviços profissionais e no setor de varejo. Isso explica por que, mais uma vez, enquanto descobria como tudo funcionava racionalmente, acabei ficando nove anos no setor de varejo. Desta vez, no lugar de uma empresa pequena, foi uma empresa de US$ 10 bilhões com 160 mil funcionários e 5 mil lojas. Tinha conhecido o dono e o fundador da empresa como um cliente de consultoria. Mais tarde, entrei no Conselho de Administração e depois fui convidado para trabalhar na empresa em tempo integral. A minha carreira tem sido basicamente trabalhar em um conjunto de teorias, aplicá-las ao mundo real, testá-las e novamente trabalhar em um novo conjunto de teorias e continuar trabalhando na sua evolução. Portanto, em alguns aspectos, o que está acontecendo agora é que, depois de 8/9 anos na área acadêmica e em cargos executivos, acho que tenho uma visão muito mais rica de como funciona o mundo e qual é a natureza das oportunidades. E, com sorte de ter credibilidade por ter passado pela área acadêmica e chegar numa instituição que já tinha uma história de estar na vanguarda desse tipo de teorias. Ou seja: foi a oportunidade certa, combinado com o lugar certo e a hora certa. Pessoalmente, não tenho nenhum interesse em teorias que não podem ser aplicadas na prática. Como disse Kurt Lewin há 60 anos: “Não há nada mais prático do que uma boa teoria.” Outro argumento também se aplica a locais como esta instituição: não há nada mais teórico do que uma boa prática. Aprendo muito rigorosamente a partir de observações de uma boa prática, e posso melhorar a prática a partir da rigorosa aplicação de uma boa teoria, e assim por diante.

- O senhor sabe que por um bom tempo, a palavra Sustentabilidade tem sido uma palavra da moda.

- E ainda é.

- Sim, ainda é e tem sido uma saída para muitas pessoas no mundo empresarial – não falo só do Brasil, mas de muitos países. Várias vezes, é muito marketing e pouca prática.

- Não deixa de ser, muita propaganda e pouca ação.

- Muitas vezes, pessoas, empresas e instituições, simplesmente doam dinheiro para projetos e causas, sem verdadeiro envolvimento.

- Era como nos primórdios, quando a responsabilidade social corporativa (CSR) era definida apenas como filantropia.

- Às vezes a filantropia é uma necessidade...

- Mas ela não apaga a culpa.

- Muitas vezes, a filantropia não consegue resolver os problemas quando não estabelece conexões. Daí minha questão relacionada ao uso fácil da palavra Sustentabilidade.

- Essas pergunta se divide em três partes. É uma ótima pergunta. Em primeiro lugar: os clientes não são burros. Vamos supor que você vai conseguir se dar bem com uma campanha de marketing sem conteúdo e que a princípio entende que o cliente final é um idiota. Recuso-me a aceitar o fato de que os clientes, vistos como uma população, são essencialmente burros. Esse seria a primeira questão. A segunda questão é que vou me dirigir especificamente aos jovens norte-americanos. Eles foram educados de uma maneira basicamente mais cínica e são consideravelmente menos confiantes. Consequentemente existe uma linha de orientação que nos obriga a provar que é realmente bom, em vez de aceitar isso como o valor real.

- O senhor fala isso aos alunos?

- Não há dúvida que o nível de desconfiança em instituições essenciais é mais alto em jovens, hoje do que em qualquer outra época. E principalmente porque é algo comprovado. Pense nisso. Especialmente se é um jovem e está vivendo este momento atual da economia. Como isso aconteceu? Como isso foi acontecer e por que devo acreditar que você não teve nada a ver com isso? E por que devo acreditar no que devo fazer para sair disso? A outra questão é quando se combina essa desconfiança com as ferramentas de redes de contatos sociais. Se não for autêntico e sincero, não apenas será descoberto, como isso vai se espalhar de uma forma viral e a sua capacidade de interceptar e remediar a situação desaparecerá num piscar de olhos (muito rapidamente). Como costumo dizer carinhosamente e usando um vocabulário especial: o detetor de mentiras.... é muito alto atualmente e a capacidade de espalhar uma confrontação do seu mal comportamento é muito fácil. Enfim, há muito mais oportunidades de se criar responsabilidades no sistema quando estamos lidando com jovens. O fato é que, e falo isso aqui e em qualquer outro lugar, os nossos alunos estão à nossa frente. Portanto, não podemos trazer os nossos alunos para as salas de aula e ensiná-los coisas que eles não estão necessariamente interessados em aprender ou não sabem bem o que fazer com aquilo. Eles chegam aqui esperando isso. Eles chegam aqui exigindo isso. Eles têm uma série de expectativas sobre como o mundo deve funcionar e querem saber se o currículo está em sintonia com o ponto de vista deles sobre as ações e seus efeitos associados ao comportamento, bem como até que ponto estamos realmente considerando questões relacionadas aos homens e ao planeta, em paralelo a questão dos lucros. Foi por isso que muitas escolas e instituições de ensino não conseguiram se livrar das consequências de não dar muita atenção a isso, por conta das vantagens em termos de oportunidades econômicas no mercado. Isso desapareceu e num curto prazo. Nesse momento, a autenticidade do argumento e a sua capacidade de encarar o mundo, segundo o ponto de vista dos jovens, é uma parte fundamental em ter condições de oferecer uma educação.

- O senhor acredita que a sustentabilidade será um assunto que definitivamente vai ajudar o mundo a sair dessa crise? Poderia ser usada com uma ferramenta para o progresso?

- Diria que não é nem mesmo uma proposta sujeita a debates, pois é intuitivamente óbvio. Na verdade, Tom Malone, professor do MIT, recentemente escreveu um artigo sobre sustentabilidade e abordou os problemas com a linguagem etc. E o que ele disse basicamente é que devemos ser apenas claros. “Vamos definir sustentabilidade de uma maneira muito simples: sustentabilidade é a maneira pela qual colocamos os valores humanos no centro da empresa”. Essencialmente dizendo que há um conjunto de valores humanos que ditam o tipo de resultado que nós procuramos como seres humanos. Eles vão além o modelo de lucratividade que existe dento da organização. Há uma lógica bem simples de ser aplicada. Então a questão será de minimização de uso; maximização do foco explícito sobre desejos e esperanças dos clientes; reconhecimento explicito da capacidade de minorar o prejuízo histórico que foi feito, especialmente em termos de meio ambiente. São assuntos muito, muito importantes que devem ser levados em consideração. Não apenas na sociedade, mas na comunidade empresarial, além de termos que reconhecer aqueles que continuam atraídos pelo modelo de lucros, que inclui praticamente todo mundo. Isso implica em um conjunto enorme de oportunidades de inovação para que as empresas realizem suas atividades de maneiras diferentes.

- Uma outra pergunta prática. Vocês devem ter problemas ambientais aqui. Por exemplo, produzem lixo e estão localizados dentro de uma comunidade, a cidade de Wellesley. Qual é a sua prática com essa comunidade?

- Anualmente, o nosso consumo de energia foi reduzido em 7% por ano nos últimos três anos, e continuaremos a reduzir esse consumo. Nós assinamos o Acordo do Clima do Presidente, que representa um compromisso importante para a redução de 85% das emissões de gases de efeito estufa até o ano 2050, mas nem eu, nem você vamos ver isso acontecer. Mas nos próximos quatro anos, o nosso compromisso é com a redução de 15 a 20% das emissões de gases de efeito estufa. Nós temos um comitê de sustentabilidade que representa cada parte da comunidade do campus e os nossos alunos que estão organizados em torno dessas atividades, sendo que 21 deles moram e cohabitam um dormitório chamado Green Tower (Torre Verde) e que não apenas assumem responsabilidades…….

- Sim, eu vi isso na televisão.

- Você viu Jamie Kent, que acabou de se formar, dando uma entrevista na televisão sobre a Green Tower e também falando sobre o nosso programa de biodiesel para reciclar o óleo usado em nossa cozinha como combustível e começar o processo de diminuir o uso de bandejas no refeitório e, consequentemente, evitar a tendência de aumentar a lavagem de louças. Segundo o nosso ponto de vista, estamos no processo de inspecionar cada aspecto de nosso comportamento como uma comunidade, com um olhar explícito voltado à orientação no sentido de aprender como administrar nossas vidas de uma forma consideravelmente mais sustentável. E, voltando à primeira parte da nossa conversa, se você não pode viver assim e só sabe falar, não é nada útil.

- Como o senhor falou, os estudantes são inteligentes e atualizados.

- E nós estamos comprometidos, da mesma forma que estamos comprometidos a sermos uma organização que pretende expandir seus recursos e empreendedorismo de uma forma geral. Também temos o compromisso, como uma empresa, de difundir nosso aprendizado e nossos avanços em sustentabilidade de forma mais ampla às comunidades universitárias. Portanto, estamos fazendo parcerias com várias organizações. A nossa expectativa é criar uma oportunidade de empreendimento por conta de nossos esforços com o objetivo de aumentar a sustentabilidade do nosso campus e transformar isso em um negócio.

- Ótimo. Podemos ver que muitas instituições de ensino estão também trabalhando essas questões, mas ainda muito voltadas para aspectos ambientais.

- É verdade, nossos conceitos são mais amplos.

- Isso foi um fator que chamou nossa atenção, para o Babson College. Chamou a atenção de Plurale revista e portal que encaram a Sustentabilidade no seu sentido amplo, tratando dos fatores economicos, sociais e economicos.

- A energia que você obtém nesse ponto é praticamente formuladora. As pessoas dispõem de cinco a seis maneiras de carimbarem o passaporte no meio ambiente. Minha intenção não é degradar essas intenções, mas é quase um comportamento ritualístico. A questão é: será que você consegue ser muito mais consciente e muito mais aberto na sua visão.

- Quando o senhor fala do mundo acadêmico presumo que você tem contatos com Harvard, MIT, seus vizinhos não distantes, ou outras instituições nos EUA.

- Mas eles contam com muito mais recursos e equipes maiores para fazer isso. Precisamos provar que isso pode ser feito por uma comunidade pequena sem recursos.

- O senhor pensa que eles também estão seguindo esse caminho?

- Apostaria em mim primeiro antes de apostar neles.

- Que bom saber disso. É importante que a ideia seja disseminada.

- Certamente eles são capazes de criar uma infraestrutura com muito mais rapidez e facilidade do que eu. Mas essa é apenas uma parte da equação. Isso se você realmente acredita que a agenda humana está no centro da resposta; sendo assim, escolas pequenas como a nossa vencerão.


Fonte: Plurale


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