Comunicação ambiental e dogma

Data: 29/07/2009

Comunicação ambiental e dogma


Entre os objetivos da comunicação ambiental está a mudança de atitudes e de comportamentos. Considera-se que a conscientização ou o conhecimento levará a uma decisão sobre atos que podem ser prejudiciais ao meio ambiente, o que, por sua vez, conduzirá a novos hábitos. A utilização dos mecanismos de comunicação, portanto, não deve se limitar à mera transmissão de conhecimento, e sim abordar, e até sugerir, os meios pelos quais esses objetivos podem ser alcançados.

Esse nível de abordagem costuma se confrontar com os dogmas usados de forma cotidiana na comunicação relacionada ao meio ambiente. Derivados, em minha opinião, do período em que a defesa do meio ambiente era antes uma causa do que uma necessidade, esses dogmas ainda continuam permeando a disseminação de conhecimento sobre a relação do homem com o meio ambiente.

Não há nada de errado com os dogmas. São uma forma eficiente de comunicar questões complexas que ultrapassam nosso entendimento. Entretanto, podem levar à atitude típica do fiel que comparece ao templo para orar, sentir-se um bom devoto e, de volta a sua vida diária, comporta-se exatamente como antes, talvez de maneira não tão devotada a suas crenças.

Comportar-se em desacordo com as crenças religiosas pode ter reflexos na vida além-túmulo. Entretanto, concordar de forma entusiástica com os slogans da defesa do meio ambiente e permanecer agindo exatamente como sempre terá consequências mais imediatas e terrenas. E há outra diferença importante: ao contrário de muitos pecados, o comportamento prejudicial ao meio ambiente não possui atrativos especiais. É apenas a forma como as pessoas aprenderam a agir e para a qual não há alternativas viáveis.

Um exemplo de dogma embutido nas mensagens ambientais é o de que o uso da tecnologia contribuirá para salvar o planeta. É a forma atual da concepção de que o homem, utilizando novas e modernas tecnologias, dominaria a natureza para levar o progresso a todos os cantos do mundo. Novas tecnologias são divulgadas diariamente e, apesar do fato de não serem utilizadas pelo custo, trazem o alívio de saber que alguém está fazendo algo. Saber disso traz conforto e dispensa ação.

Comunicação ambiental e dogma , é preciso deixar os dogmas de lado e investir no conhecimento local sobre o ambiente em que se vive. Isso não é fácil porque a produção de conteúdo privilegia a disseminação de conteúdo generalizado em detrimento do conteúdo local. Esse conteúdo, relacionado a nossa vida diária, pode favorecer pequenas mudanças que, se adotadas por um grande número de pessoas, farão a diferença. É uma tarefa difícil, assim como a aceitação dos atuais dogmas foram décadas atrás, mas que deve ser encarada o quanto antes.


O artigo foi anteriormente publicado em Plurale em site.


Ricardo Goothuzem é colunista de Plurale. Jornalista formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), atua na área ambiental desde 2002. Foi assessor de imprensa da Área de Proteção Ambiental (APA) de Petrópolis durante cinco anos e assessor de imprensa do Instituto Estadual de Florestas (IEF/RJ).



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