NIKE ANUNCIA CALÇADOS LIVRES DE DESMATAMENTO DA AMAZôNIA

Data: 23/07/2009

NIKE ANUNCIA CALÇADOS LIVRES DE DESMATAMENTO DA AMAZôNIA


A Nike anunciou nesta quarta-feira que não usará mais em seus produtos couro proveniente de animais criados no Bioma Amazônia. A decisão da empresa só será revertida se for “estabelecido um sistema confiável de governança, com rastreabilidade total de produtos da pecuária e a garantia de que esses produtos não estejam causando desmatamento”.

Para assegurar o cumprimento dessa política, a Nike vai pedir, por escrito, uma declaração de seus fornecedores atestando que o couro vendido à empresa não vem de gado criado no bioma Amazônia. A Nike deu aos seus fornecedores um prazo até julho de 2010 para implementar um sistema eficiente de rastreabilidade, que comprove que seu couro não é originário do bioma amazônico. Caso isso não aconteça, a empresa estenderá a moratória à compra de couro para toda a região da Amazônia Legal.

A decisão da Nike é prova de que os mercados consumidores vão cada vez mais exigir da pecuária brasileira a adoção de práticas de sustentabilidade e, sobretudo, o fim da expansão de áreas de pasto sobre zonas de floresta. “A indústria da pecuária precisa valorizar o produto brasileiro no mercado internacional e garantir que não haja mais derrubada de árvores para a criação de gado. Qualquer iniciativa que apóie o desmatamento zero na região é um passo importante para garantir que a produção de gado na Amazônia não impulsione a destruição da floresta”, afirmou André Muggiati, do Greenpeace.

Em junho o Greenpeace lançou o relatório “Farra do Boi na Amazônia” apontando a relação entre o desmatamento na Amazônia, a indústria da pecuária e grandes marcas internacionais, entre elas a Nike. No relatório, o Greenpeace demonstra como o couro de animais criados em áreas desmatadas da Amazônia é exportado para a China, pela empresa brasileira Bertin, onde entra na cadeia de abastecimento de empresas de alcance global.

Além da Nike, as italianas Geox (calçados) e Natuzzi (móveis e estofados) também anunciaram esta semana o compromisso de excluir produtos originários de áreas desmatadas de suas linhas de produção. Infelizmente, outras grandes marcas como a Adidas, Reebok e Clarks ainda se recusam a seguir o mesmo caminho. Todas essas empresas recebem couro da Bertin, que ainda não se comprometeu com o desmatamento zero na Amazônia, onde ela controla diversos abatedouros de gado.

“A decisão da Nike indica como o mercado vai operar daqui para frente. O Brasil terá que reestruturar sua cadeia produtiva se quiser continuar atendendo clientes internacionais e consumidores exigentes”, afirma Muggiati. A Nike, a Geox e a Natuzzi também assumiram compromissos com a erradicação do trabalho escravo, proteção de terras indígenas e áreas de conservação.

Leia a íntegra do documento assinado pela Nike

Política da Nike para compra de couro da Amazônia
Preâmbulo
A Nike Inc.1 concorda que as mudanças climáticas são um problema grave que requer ação
imediata e significativa de governos, indústrias, consumidores e sociedade. A Nike tem reduzido a
emissão de gases estufa de suas operações, agregando sustentabilidade ao design dos produtos e
reduzindo a pegada ambiental, base dos nossos esforços para a sustentabilidade.
Com esta finalidade, a Nike leva a sério o desmatamento na bacia Amazônica. Entendemos o quão
importante as florestas tropicais são para a saúde do planeta e as implicações que o desmatamento
tem sobre as mudanças climáticas e o aquecimento global.
A Nike estabeleceu metas claras para reduzir nossa ‘pegada ambiental’ e continuamos a agir para
manter esses objetivos na cadeia de produção. A política abaixo estabelece os requisitos da Nike
para a transparência e a rastreabilidade do couro brasileiro fornecidos para os produtos da Nike.
Adicionalmente, a Nike acredita que esta é também uma questão mais ampla da cadeia de
suprimento, exigindo o envolvimento de todos os parceiros para causar uma mudança positiva e
significativa. A Nike continuará trabalhando com o Grupo de Trabalho do Couro, o Greenpeace e
outros parceiros para tratar desta questão em toda a cadeia de produção e, para avançar, vamos
também exigir que todos os fornecedores de couro para os produtos da Nike façam parte do Grupo
de Trabalho do Couro até Dezembro de 2009.
Nossa intenção é que essa política expire assim que um sistema de governança esteja
implementado, com total rastreabilidade dos produtos da pecuária, e a garantia de que esses
produtos não estejam causando desmatamento no Bioma Amazônia2.
Por fim, a Nike se compromete com os princípios da política “Assine ou desista” que estabelece
como a Nike pretende obedecer esses princípios.
POLÍTICA
A Nike, Inc não irá usar em seus produtos couro de animais criados no bioma Amazônia, com limites
definidos pelo IBGE.
A Nike vai exigir de seus fornecedores brasileiros de couro uma certificação por escrito de que eles
estão fornecendo couro para a Nike proveniente de animais criados fora do Bioma Amazônia.
Os fornecedores brasileiros de couro têm até 1º de julho de 2010, para criar um sistema
transparente de rastreabilidade que estabeleça garantias de que o couro utilizado nos produtos Nike
é proveniente de animais criados3 fora do bioma Amazônia. A cada trimestre, a Nike irá revisar o
progresso dos fornecedores na implementação de um sistema de rastreamento transparente.
Se, após 1° de Julho de 2010, os fornecedores forem incapazes de fornecer garantias de que o
couro utilizado para os produtos da Nike é proveniente de animais do Bioma Amazônia, a Nike vai
considerar um aumento da área de exclusão que inclua toda a Amazônia Legal4 (conforme definido
pelo IBGE).
1 NIKE, Inc. – inclui suas subsidiárias: Cole-Haan, Converse Inc , Hurley International LLC, & Umbro Ltd.
2 Bioma Amazônia – Floresta Amazônica e seus ecossitemas relacionados
3 Animais criados – refere-se a toda a vida do gado.
4 Amazônia Legal – Todos os nove estados brasileiros que contêm porções do bioma Amazônia (Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão)

ASSINE OU DESISTA
Empresas consumidoras devem cancelar os contratos com os seus fornecedores de produtos de carne e couro brasileiros, a não ser que estes fornecedores se comprometam, como grupo, com as seguintes condições fundamentais
1,2:
1. NENHUM DESMATAMENTO RECENTE NA CADEIA DE CUSTÓDIA:
O gado deve ser somente proveniente, direta ou indiretamente, de fazendas ou grupos que se comprometam completamente a uma moratória de desmatamento imediata e que não estejam envolvidas em desmatamento no bioma amazônico desde julho de 2006.
Adicionalmente, empresas devem se comprometer a trabalhar com ONGs e autoridades governamentais para apoiar e promover uma estratégia de longo-prazo a fim de alcançar o Desmatamento Zero na região4.
2. NENHUMA VIOLAÇÃO A TERRAS INDÍGENAS E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA CADEIA DE CUSTÓDIA:
O gado deve ser proveniente, direta ou indiretamente, de fazendas que não estejam ocupando áreas indígenas ou protegidas pela legislação federal, estadual ou municipal 3,5.
3. NENHUM TRABALHO ESCRAVO NA CADEIA DE CUSTÓDIA:
O gado deve ser somente proveniente, direta ou indiretamente, de fazendas ou grupos que tenham assinado o Pacto pela Erradicação do Trabalho Escravo, apoiado pela Organização Internacional do Trabalho.
Fornecedores listados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) como envolvidos com o emprego de mão de obra análoga a escrava em fazendas em qualquer localidade devem ser imediatamente suspensas.
4. UM SISTEMA COMPLETO DE RASTREABILIDADE DAS FAZENDAS NECESSITA SER IMPLANTADO:
O gado deve ser somente proveniente, direta ou indiretamente, de fazendas ou grupos que estejam formalmente comprometidos a implantar um sistema completo de rastreabilidadei,.
Elementos essenciais para um sistema rigoroso devem incluir os seguintes requisitos como condicionantes de comercialização:
a. Que os processadores obtenham mapas georreferenciados de todos os limites das fazendas que
constem, direta ou indiretamente, na sua cadeia produtiva
b. Que os processadores obtenham evidência apropriada de que todos os fornecedores, com as suas
cadeias de fornecimento diretas ou indiretas, tenham requerido registro legal de terras e licença ambiental para cada propriedade.
c. Os processadores devem emitir um certificado de origem de todos os produtos bovinos atestando que
desmatamento e trabalho análogo ao escravo não foram parte da cadeia de produção1,7.
5. ASSEGURAR O CUMPRIMENTO E ALTOS PADRÕES NA CADEIA DE CUSTÓDIA:
Informar aos fornecedores destes requisitos, deixando claro que os violadores não serão aceitos.
Verificar o cumprimento de todos estes requisitos por meio de uma auditoria independente.
i 24 de Julho de 2006 é a data quando a moratória da soja em desmatamentos adicionais da Amazônia foi colocada em vigor e, portanto necessita ser consistente através de todos os setores do agronegócio. A fronteira do bioma amazônico dentro do Brasil é definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O mapa está disponível em:
ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas/tematicos/mapas_murais/biomas.pdf
1 - Nike – Política de couro da Amazônia
Nike, Inc. (Nike) irá requerer que seus fornecedores no Brasil certifiquem, por escrito, que eles estão fornecendo couro para produtos da Nike proveniente de gado criado fora do bioma Amazônia, como definido pelo IBGE. Fornecedores de couro brasileiro para produtos da Nike têm até 1º de julho de 2010 para criar um sistema contínuo, rastreável e transparente para fornecer garantias confiáveis de que o couro usado em produtos da Nike é proveniente de gado criado fora do bioma amazônico. A cada
trimestre, a Nike reverá o progresso de seus fornecedores em estabelecer um sistema contínuo, rastreável e transparente. Se, após 1 de julho de 2010, os fornecedores forem incapazes de fornecer garantias confiáveis que o couro usado em produtos da Nike seja de gado criado fora do bioma amazônico, a Nike irá considerar aumentar a exclusão da área de forma a incluir toda a
Amazônia Legal (como definida pelo IBGE). (Criado – refere-se a toda a vida do animal. IBGE – Instituo Brasileiro de Geografia e estatística. Bioma Amazônia – A floresta amazônica e seus ecossistemas relacionados) Amazônia Legal – A totalidade dos nove estados brasileiros que compõe porções do bioma amazônico (Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão).
2 – A Nike irá procurar obter de seus fornecedores de couro um compromisso para que estes também adotem os mesmos padrões para todos os seus fornecedores.
3 – Esta condição está substituída pela política de compra da Nike de áreas fora do bioma amazônico (observação 1) .
4 – A Nike acredita que este seja um problema amplo da cadeia de custódia, requerendo o envolvimento de todos os parceiros (a indústria frigorífica, governo e outros produtores de subprodutos como o couro) para efetivar significativas mudanças positivas. A Nike continuará trabalhando com o Grupo de Trabalho do Couro, o Greenpeace e outros parceiros para endereçar este problema através da cadeia de custódia e, avançando, nós também pediremos que todos os fornecedores de couro de produtos da Nike juntem-se ao Grupo de Trabalho do Couro até dezembro de 2009. Além disso, enquanto a Nike informa autoridades relevantes do governo brasileiro sobre sua política de compra de couro e sua posição em cessar o desmatamento da Amazônia, esforços adicionais podem ser discutidos uma vez que objetivos claros sejam desenvolvidos por um grupo de parceiros chave.
5 – A Nike entende que a política de “Assine ou desista” somente aplica-se a terras localizadas no bioma amazônico.
6 – A Nike se compromete a apoiar o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo existente e recusa-se a trabalhar com qualquer fornecedor que apareça em qualquer “lista suja” da OIT e do governo brasileiro. A aplicação desta política para couro proveniente da Amazônia pode ser validada quando uma “lista suja” largamente aceita for publicada.
7 – Para uma suspeita de violação de compra de acordo com a política de “Assine ou Desista” (veja a observação 1), a Nike e o Greenpeace concordarão em primeiro investigar o problema e remediar se necessário.

Fonte: Greenpeace


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