Desmatamento prejudica imagem do Brasil no exterior

Data: 16/07/2009

Desmatamento prejudica imagem do Brasil no exterior


Embora tenha crescido economicamente e conte com um governo respeitado, o Brasil é acusado pelo mundo de ser um país que não protege suas riquezas naturais. A opinião é do jornalista Silio Boccanera, correspondente internacional da Rede Globo de Televisão, que esteve no Instituto Cultural Itaú, em São Paulo, para falar sobre o tema "Sustentabilidade: a Imagem do Brasil no Exterior” no evento Diálogos Sustentáveis, promovido pelo Banco Itaú, com o apoio do Instituto Ethos.

Segundo o jornalista, nestas últimas décadas a imagem do Brasil no exterior passou de péssima para boa. "Durante a ditadura militar, nos anos 1960, éramos totalmente ignorados pela mídia estrangeira. Hoje isso é diferente, a economia cresceu, fazemos parte dos Bric (bloco de países emergentes) e temos um presidente muito admirado pelo mundo", disse.

Infelizmente, porém, alguns pontos negativos vêm manchando a confiança no país, principalmente a questão ambiental. “Somos bem vistos no esporte e na cultura, mas as denúncias ambientais vêm causando estragos gigantescos à imagem do país”, afirmou Boccanera. De acordo com ele, o agronegócio, sobretudo a pecuária, é o principal vilão dessa história. “Os europeus nos vêem como destruidores de floresta e isso pode significar um problema para as ambições dos exportadores”, informou.

Ainda sobre a temática ambiental, Silio citou o relatório A Farra do Boi na Amazônia, do Greenpeace, como o atual grande fato sobre o Brasil na imprensa estrangeira. “Um dos maiores jornais da Inglaterra, o Sunday Times, deu uma matéria de duas páginas sobre o problema da pecuária na Amazônia e conseguiu convencer diversas redes de supermercado do país a interromper a importação de produtos brasileiros”, ressaltou.

Silio Boccanera disse que só com políticas públicas e melhora no fluxo de informações seremos capazes de reverter a fama de devastadores da Amazônia: “As práticas ambientais levaram a uma mobilização global, com protestos e boicotes. É preciso agir com mais vontade política e governança, mostrando ao mundo que estamos tentando ser corretos”.

Em 2006, diversas ONGs ambientalistas denunciaram o desmatamento na região da Amazônia para o cultivo de soja e convocaram os principais compradores desse produto brasileiro para suspenderem sua aquisição. Foi a chamada "Moratória da Soja". Passados três anos, pode-se dizer que foi um aprendizado de sucesso para produtores de óleos vegetais e de soja.

Foi o que disse o secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Trigueirinho. De acordo com ele, a preocupação com a repercussão internacional dessas acusações foi o ponto de partida para que ONGs, fabricantes e agricultores iniciassem rodadas de diálogos que contaram, mais tarde, com a participação do Ministério do Meio Ambiente: “A Amazônia não é uma área preferencial para o cultivo da soja. Mesmo assim resolvemos fazer essa pesquisa e punir os poucos que derrubavam a floresta para plantar”.

Fábio ressaltou que foi feito um trabalho de sensibilização com os agricultores, assim como o mapeamento e monitoramento de 630 áreas nos Estados do Mato Grosso, Pará e Rondônia. “Pudemos concluir que, apesar de a produção de soja não ser uma causa importante do desmatamento da região, encontramos alguns fazendeiros que insistem em trabalhar de forma insustentável, e desses a Abiove não compra”, enfatizou.

O secretário-geral da entidade também ressaltou o caráter inovador do trabalho feito, graças a uma denúncia e por temer que fossem impostas barreiras comerciais internacionais. “É um passo importante, mas não depende só das empresas. O governo tem de entrar nesse projeto, com políticas públicas eficientes, como o Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) e o pagamento por serviços ambientais”, analisou.

Ao ser questionado sobre o Cerrado, maior prejudicado pelo plantio de soja, Trigueirinho afirmou que o bioma possui grandes áreas protegidas e que não se pode impedir o agricultor de ter o sustento de sua família: “A soja representa hoje 1,8% do PIB brasileiro e mais de 10% das exportações. Não pode ser tratada como o bicho-papão da degradação ambiental”.

Desmatamento zero e produtividade mil – é assim que a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) pretende trabalhar nos próximos anos. Marcos Jank, presidente da entidade, salientou que o objetivo das 172 usinas associadas é crescer com sustentabilidade. “Como podemos fazer propaganda de um produto que é ecologicamente correto (etanol), se desmatarmos as florestas?”, perguntou.

De acordo com Jank, o setor possui 175 mil hectares de área protegida, essencialmente matas ciliares. “Assumimos um compromisso com o governo de São Paulo, em 2007, ao aderirmos ao Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro, pelo qual nos comprometemos a proteger as matas, conservar recursos hídricos e mecanizar a produção”, lembrou.

Para Jank, existe uma falsa premissa de que o cultivo da cana-de-açúcar é grande causador de desmatamento. “Para se ter uma idéia, no Brasil existem 7 milhões de hectares de cana plantada e 170 milhões de áreas para pastagem. É um produto ideal do ponto de vista ambiental, porque polui pouco, 90% menos do que o petróleo. Por isso defendemos a moratória para todo agronegócio que destrói os biomas brasileiros”, concluiu.

Fonte: Fabrício Ângelo (Envolverde) / Edição de Benjamin S. Gonçalves



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