Grupo dos oito e o fracasso climático

Data: 15/07/2009

Grupo dos oito e o fracasso climático


Por Stephen Leahy, da IPS


Berlim, 14/09/2009 – A cúpula do Grupo dos Oito países mais poderosos não conseguiu assumir compromissos significativos em matéria climática, o que aproxima cada vez mais o mundo de uma catástrofe ambiental. Sem compromissos sobre a adoção de medidas, o acordo do G-8 para manter o aquecimento global geral abaixo de dois graus centígrados nos prazos estabelecidos parece insuficiente. O G-8 está integrado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia. A cúpula aconteceu de 8 a 19 deste mês na cidade italiana de L’Aquila.

“Se for levado a sério o compromisso dos dois graus, isso implicará um programa vigoroso e imediato de redução das emissões de carbono”, disse Michael Oppenheimer, professor de geociências e assuntos internacionais da Universidade de Princeton (EUA). “Isso significará que até 2020 as emissões de carbono terão de chegar a um teto e diminuir. Isso é difícil, mas é o que precisa acontecer para estabilizar a temperatura em torno dos dois graus”, disse à IPS.

Os especialistas enfatizam que dois graus de modo algum é uma garantia de segurança. A mudança climática já tem impactos significativos. Mas, a partir do que os cientistas sabem hoje, os riscos aumentam muito quando o aquecimento chega aos dois graus, explicou Oppenheimer. As temperaturas mundiais aumentaram 0,8 graus nos últimos cem anos, e chegarão a aumentar entre 1,2 e 1,5 graus com base nas emissões de gases causadores do efeito estufa que já estão na atmosfera. “O sistema climático é imprevisível. Dois graus são apenas um parâmetro”, acrescentou. Há muitos umbrais silenciosos e desconhecidos onde as mudanças não serão reversíveis, e as consequências serão sentidas muito tempo depois. “Estamos voando às cegas. Precisamos agir com muita cautela”, disse o professor.

Tudo o que se obteve da reunião do G-8 foi precaução política. Os compromissos do bloco para reduzir em 80% as emissões de carbono até 2050 são pouco significativos sem um objetivo mais ambicioso de médio prazo, até 2020, disse Kim Carstensen, líder da Iniciativa Climática Global do Fundo Mundial para a Natureza (WWF). “Necessitamos de um objetivo ambicioso de reduções de 40% até 2020 para o mundo industrializado”, disse Carstensen em uma entrevista desde L’Aquila. “Não houve avanços na enorme brecha entre o que a ciência diz que é preciso e aquilo com o qual os países industrializados se comprometeram”, acrescentou.

Inclusive o bastante promovido novo projeto de lei dos Estados Unidos sobre mudança climática somente fará com que até 2020 as emissões estejam entre 5% e 6% abaixo dos registros de 1990. E a aprovação do projeto não do projeto não é uma certeza. O último compromisso assumido pelo Japão é de 7%, a União Européia prometeu 20% e o Canadá prometeu nada fazer.

Precisamente o Canadá, junto com Estados Unidos, China, Índia e os outros 13 principais países emissores de gás estufa, mais representantes da União Européia, se reuniram antes do G-8 para debater sobre a mudança climática no Fórum das Principais Economias sobre Energia e Clima. Estes países, que concentram 80% das emissões mundiais, concordaram em manter o aumento da temperatura abaixo de dois graus, mas não ofereceram mais do que “apoio” a uma redução mundial total de 50%.

Após a cúpula de L’Aquila, o Canadá se apressou a qualificar este objetivo como uma aspiração, sem necessidade de alterar políticas. E os Estados Unidos, junto com outras nações, evitou um compromisso e insistiu em deixar a porta aberta para usar diferentes anos-base a partir dos quais medir suas reduções. Tudo isto parece um mau presságio para as negociações da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que acontecerá em dezembro em Copenhague.

Se nesse encontro não se chegar a um objetivo de redução de emissões até 2020, isso indicará que os países não estão levando a sério a mudança climática, disse Ged Davis, copresidente do Conselho de Avaliação Mundial da Energia, com sede em Viena. “Sem um objetivo para 2020 não podemos conseguir o debate público sobre como avançar”, disse Davis à IPS. Falar de manter o aquecimento do planeta abaixo de dois graus tampouco significa nada sem esse objetivo com vistas a 2020 e um plano de políticas sobre como chegar a isso, acrescentou.

China e Índia disseram que não acederão a nenhum objetivo a respeito de 2020 em Copenhague. Uma das razões é a questão não resolvida sobre como enfrentar o fato de que a grande quantidade de emissões que já está na atmosfera ter sido gerada pelas nações ricas. Por outro lado, a maior parte das emissões atuais e futuras são de China Índia e do restante do mundo em desenvolvimento. Estas negociações são extremamente difíceis e complexas, e cada um tem de fazer sua parte, afirmou Davis. Copenhague não irá solucionar tudo isto, porque faltam anos de negociações, mas, “é muito importante conseguir um resultado forte” na capital dinamarquesa, ressaltou. “Se não tivermos um objetivo acordado para 2020 e depois, poderemos continuar debatendo até a água chegar ao pescoço”, disse Davis.

Fonte: IPS/Envolverde



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