Grupo dos oito e o fracasso climático
Por Stephen Leahy, da IPS
Berlim, 14/09/2009 A cúpula do Grupo dos Oito países mais poderosos não conseguiu assumir compromissos significativos em matéria climática, o que aproxima cada vez mais o mundo de uma catástrofe ambiental. Sem compromissos sobre a adoção de medidas, o acordo do G-8 para manter o aquecimento global geral abaixo de dois graus centígrados nos prazos estabelecidos parece insuficiente. O G-8 está integrado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia. A cúpula aconteceu de 8 a 19 deste mês na cidade italiana de LAquila.
Se for levado a sério o compromisso dos dois graus, isso implicará um programa vigoroso e imediato de redução das emissões de carbono, disse Michael Oppenheimer, professor de geociências e assuntos internacionais da Universidade de Princeton (EUA). Isso significará que até 2020 as emissões de carbono terão de chegar a um teto e diminuir. Isso é difícil, mas é o que precisa acontecer para estabilizar a temperatura em torno dos dois graus, disse à IPS.
Os especialistas enfatizam que dois graus de modo algum é uma garantia de segurança. A mudança climática já tem impactos significativos. Mas, a partir do que os cientistas sabem hoje, os riscos aumentam muito quando o aquecimento chega aos dois graus, explicou Oppenheimer. As temperaturas mundiais aumentaram 0,8 graus nos últimos cem anos, e chegarão a aumentar entre 1,2 e 1,5 graus com base nas emissões de gases causadores do efeito estufa que já estão na atmosfera. O sistema climático é imprevisível. Dois graus são apenas um parâmetro, acrescentou. Há muitos umbrais silenciosos e desconhecidos onde as mudanças não serão reversíveis, e as consequências serão sentidas muito tempo depois. Estamos voando às cegas. Precisamos agir com muita cautela, disse o professor.
Tudo o que se obteve da reunião do G-8 foi precaução política. Os compromissos do bloco para reduzir em 80% as emissões de carbono até 2050 são pouco significativos sem um objetivo mais ambicioso de médio prazo, até 2020, disse Kim Carstensen, líder da Iniciativa Climática Global do Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Necessitamos de um objetivo ambicioso de reduções de 40% até 2020 para o mundo industrializado, disse Carstensen em uma entrevista desde LAquila. Não houve avanços na enorme brecha entre o que a ciência diz que é preciso e aquilo com o qual os países industrializados se comprometeram, acrescentou.
Inclusive o bastante promovido novo projeto de lei dos Estados Unidos sobre mudança climática somente fará com que até 2020 as emissões estejam entre 5% e 6% abaixo dos registros de 1990. E a aprovação do projeto não do projeto não é uma certeza. O último compromisso assumido pelo Japão é de 7%, a União Européia prometeu 20% e o Canadá prometeu nada fazer.
Precisamente o Canadá, junto com Estados Unidos, China, Índia e os outros 13 principais países emissores de gás estufa, mais representantes da União Européia, se reuniram antes do G-8 para debater sobre a mudança climática no Fórum das Principais Economias sobre Energia e Clima. Estes países, que concentram 80% das emissões mundiais, concordaram em manter o aumento da temperatura abaixo de dois graus, mas não ofereceram mais do que apoio a uma redução mundial total de 50%.
Após a cúpula de LAquila, o Canadá se apressou a qualificar este objetivo como uma aspiração, sem necessidade de alterar políticas. E os Estados Unidos, junto com outras nações, evitou um compromisso e insistiu em deixar a porta aberta para usar diferentes anos-base a partir dos quais medir suas reduções. Tudo isto parece um mau presságio para as negociações da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que acontecerá em dezembro em Copenhague.
Se nesse encontro não se chegar a um objetivo de redução de emissões até 2020, isso indicará que os países não estão levando a sério a mudança climática, disse Ged Davis, copresidente do Conselho de Avaliação Mundial da Energia, com sede em Viena. Sem um objetivo para 2020 não podemos conseguir o debate público sobre como avançar, disse Davis à IPS. Falar de manter o aquecimento do planeta abaixo de dois graus tampouco significa nada sem esse objetivo com vistas a 2020 e um plano de políticas sobre como chegar a isso, acrescentou.
China e Índia disseram que não acederão a nenhum objetivo a respeito de 2020 em Copenhague. Uma das razões é a questão não resolvida sobre como enfrentar o fato de que a grande quantidade de emissões que já está na atmosfera ter sido gerada pelas nações ricas. Por outro lado, a maior parte das emissões atuais e futuras são de China Índia e do restante do mundo em desenvolvimento. Estas negociações são extremamente difíceis e complexas, e cada um tem de fazer sua parte, afirmou Davis. Copenhague não irá solucionar tudo isto, porque faltam anos de negociações, mas, é muito importante conseguir um resultado forte na capital dinamarquesa, ressaltou. Se não tivermos um objetivo acordado para 2020 e depois, poderemos continuar debatendo até a água chegar ao pescoço, disse Davis.
Fonte: IPS/Envolverde
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