Levantamento da Anpei com 95 empresas inovadoras revela que tendência é de manutenção ou aumento do investimento em P&D

Data: 10/07/2009

Levantamento da Anpei com 95 empresas inovadoras revela que tendência é de manutenção ou aumento do investimento em P&D


A tendência encontrada na "Enquete: inovação X crise 2008/2009", que reúne dados obtidos em sondagem com 95 firmas, é de manutenção ou até mesmo de aumento do esforço de P&D&I; e mostra que as empresas brasileiras seguem comportamento diferente do relatado no levantamento de maio da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), realizado em 33 países (o Brasil não foi incluído).

O levantamento da Anpei abordou quatro tópicos: faturamento; quadro de funcionários; quadro de colaboradores; e investimento em P&D&I. Sobre o último, a entidade descobriu que 13% das empresas acreditam que, em 2009, seus gastos com P&D&I cairão mais de 5% em relação a 2008. Entre o restante das empresas, 9% disseram que vão investir até 5% menos este ano; 22% deverão manter o patamar de investimento de 2008; outros 22% vão ampliar seus gastos em até 5%; e 34% responderam que vão aumentá-los em mais de 5%.

O estudo da Anpei corrobora outro estudo, do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), divulgado em março. O levantamento da federação mostrou que a redução dos investimentos seria menor nas atividades de P&D&I do que em compras de máquinas e equipamentos.

A enquete

Na enquete da Anpei, realizada durante o mês de abril, a amostra foi estratificada por porte: pequena, média e grande empresa. Os resultados saíram em junho. Do total de empresas participantes, 59% esperam ter faturamento igual ou maior que o de 2008.

Da mesma forma, 53% registraram quadro de funcionários maior ou igual ao do ano passado; e 69% disseram ter contratado mais colaboradores para atividades de P&D&I em 2009. Sobre o investimento, 78% anunciaram que o volume de recursos aplicados em P&D&I este ano será igual ou maior que o de 2008.

Outra conclusão importante diz respeito às empresas de grande porte. Elas teriam sido as que mais sofreram redução no faturamento, em função da queda nas exportações. Apesar disso, 75% das grandes companhias que participaram da enquete indicaram manutenção ou aumento dos investimentos em P&D&I.

Em relação ao faturamento previsto para 2009, 31% das empresas anunciaram que este deverá ser 5% menor que o de 2008; 9% calculam queda de até 5%; 9% projetam receita igual à do ano passado; 16% esperam arrecadar até 5% mais; e 34% acreditam que haverá crescimento de mais de 5%.

No quesito recursos humanos para P&D&I, 19% das empresas deverão reduzir em mais de 5% o número de funcionários empregados nessas atividades; 28% preveem corte de até 5% no quadro; 19% pretendem mantê-lo estável; 16% esperam ampliá-lo em até 16%; e 19% das firmas que participaram da enquete anunciaram ter intenção de ampliar em mais de 5% o número de funcionários em P&D&I.

Também foi analisado o comportamento das empresas em relação aos colaboradores, funcionários que não pertencem ao quadro de pessoal, mas são contratados para trabalhar nas atividades de P&D&I.

Nove por cento das empresas participantes da enquete da Anpei disseram que vão reduzir o quadro de colaboradores alocados nessas atividades em mais de 5%; 22% deverão diminuir o número de colaboradores em até 5%; 28% disseram que o quadro será igual ao do ano passado; 22% anunciaram que pretendem ampliá-lo em até 5%; e 19% planejam aumento de mais de 5% na equipe de colaboradores.

Grandes empresas são mais afetadas, diz Anpei

O impacto da crise parece ser maior entre as grandes companhias, indicam os números da Anpei. Metade delas (50%) disse que projeta queda de mais de 5% no faturamento de 2009 em relação ao faturado no ano passado. Outras 5% dizem que vão faturar até 5% menos em 2009. Apenas 10% acreditam que vão faturar o mesmo valor do ano passado. Para 15%, o faturamento deste ano deverá ser até 5% maior; para 20%, a projeção é de que o faturamento cresça mais de 5%.

Em investimentos, 35% das grandes empresas responderam que vão manter em 2009 o volume de recursos aplicados em P&D&I no ano passado; 10% projetam redução de mais de 5%; 15% preveem cortar esse investimento em até 5% em relação a 2008; 15% deverão ampliá-lo em até 5%; e 25% das empresas esperam aumentá-lo em mais de 5% este ano, apesar da crise.

Sobre os empregados contratados em 2009 para P&D&I, 20% das grandes empresas ouvidas pela Anpei disseram que vão fazer cortes superiores a 5% no quadro, e 40% deverão cortar até 5%. Para 20% das empresas, o número de funcionários será idêntico ao de 2008. Outras 15% vão contratar até 5% mais pessoas para suas atividades de P&D&I, e apenas 5% planejam ampliar o quadro em mais de 5%.

No quadro de colaboradores, 10% das empresas deverão ter redução maior que 5%. E 30% das firmas de grande porte afirmam que vão cortar em até 5% o número de colaboradores. Outras 35% responderam que vão manter o mesmo número; 25% disseram que vão ampliá-lo em até 5%; e nenhuma vai expandir esse quadro em mais de 5%.

Números gerais

Segundo a Anpei, o investimento mundial em P&D&I foi de US$ 818 bilhões em 2008. Entre os países da OCDE, esse volume de recursos equivale a 2,26% do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco, valor semelhante ao registrado nos anos anteriores. Nos Estados Unidos, epicentro da atual crise econômica, o investimento em P&D&I foi de 2,62% do PIB.

A China, segundo a Anpei, saiu de 0,95% do PIB em 2001 para 1,42% em 2006. O Brasil, estima a entidade, deve ter investido 0,9% do PIB em P&D&I no ano passado, sendo 45% dos investimentos vindos do setor privado e 55% do governo.

O estudo da OCDE

A pesquisa feita pela OCDE é focada em política e não trabalhou com empresas. Para o estudo, a OCDE ouviu 33 países e se preocupou mais com as medidas dos governos para o enfrentamento da crise. Além de analisar as políticas de incentivo para P&D&I dessas nações, o relatório propõe medidas para superação da crise, com ênfase nos investimentos em PD&I, destacando o papel das pequenas empresas e das oportunidades em tecnologias para redução de emissões de carbono.

Apenas a primeira parte do relatório trata da questão do impacto da crise nessas atividades. A segunda parte busca levantar e avaliar as políticas adotadas pelos países e sugerir novas ações.

Dizendo que, mediante a crise, deve-se olhar para investimentos de médio e longo prazo, a OCDE defendeu no relatório que países e empresas se concentrem em promover a inovação e o empreendedorismo.

Devem investir em "infraestruturas inteligentes", aquelas capazes de encorajar atividades de P&D&I, e focar em investimentos para a "economia verde", projetos que trarão soluções economicamente viáveis para a sustentabilidade do planeta, como o caso das energias renováveis e tecnologias de baixa emissão de carbono. Outro destaque dado pelo relatório é para a melhoria da capacitação dos trabalhadores.

Na avaliação da OCDE, a crise já impactou a inovação. A organização cita estudo da consultoria McKinsey, com quase 500 grandes companhias, em que foi detectada redução de 34% do valor projetado para investimento em P&D&I em 2009 quando comparado com 2008. Apenas 21% das empresas disseram que vão ampliar o volume de recursos aplicados este ano nessas atividades.

Vários fatores explicam esse declínio, segundo a entidade. P&D&I são atividades financiadas por recursos provenientes do fluxo de caixa das companhias, e o dinheiro que sobra nesse fluxo se reduz com a crise. Bancos, fundos de capital de risco e investidores em geral têm mais aversão a riscos, e as firmas encontram dificuldade para obter recursos externos para apoiar seus projetos de P&D&I.

Com isso, muitas acabam direcionando seus investimentos para projetos mais simples, focados no curto prazo e de baixo risco, cortando os de risco mais elevado, que são mais caros, demorados e dão resultados no longo prazo.

As empresas também podem demitir funcionários em P&D&I, perdendo o chamado "estoque de conhecimento", que está justamente na experiência de seus técnicos, engenheiros, mestres e doutores. Experiências anteriores em países da OCDE, como a Coreia do Sul, mostram que os trabalhadores mais bem preparados são justamente os que se tornam desempregados. Esse capital humano, destaca o relatório, rapidamente é depreciado se o quadro de crise dura um tempo longo.

Dar suporte a programas de educação e treinamento durante a crise pode ajudar os trabalhadores dispensados a encontrar novas oportunidades de trabalho, para que atravessem o período de crise, e para que também possam contribuir com ideias empreendedoras para superá-la.

Empresas menores enfrentam ainda mais barreiras, pois muitas vezes seus ativos mais valiosos são bens intangíveis, como uma patente, mais difíceis de ser valorados. Os fundos de capital de risco, potenciais investidores para essas empresas, reduziram seus aportes e estão dando prioridade à sobrevivência das firmas que já apoiam. Nos Estados Unidos, diz a OCDE, os investimentos de venture capital nos três primeiros meses de 2009 são 60% menores se comparados com os do mesmo período do ano passado.

Outro agravante para o quadro, explica a OCDE, está na contração do mercado mundial. O declínio nos investimentos estrangeiros diretos, nas exportações e no acesso ao mercado e ao financiamento internacional priva as companhias de contatos que lhes provêm expertise tecnológica, conhecimento do mercado internacional, contatos para negócios e/ou parcerias internacionais, algo que trará "consequências severas" para quem tem negócio com base na transferência de conhecimento e inovação em nível global.

O estudo da Fiesp

A "Pesquisa Fiesp sobre Intenção de Investimento em 2009: O Impacto da Crise", levantou as previsões de investimento da indústria paulista para máquinas e equipamentos, pesquisa e desenvolvimento (P&D), e inovação. O estudo teve 1.204 firmas de diferentes portes e setores como amostra. Elas foram consultadas sobre os investimentos feitos no ano passado e a intenção de investir neste ano.

A projeção da Fiesp é de que haverá redução de 20,9% nos investimentos, mas ela será menor naqueles feitos em inovação em gestão, em inovação em produtos e processos, e em P&D, quando comparada com a redução prevista no investimento em máquinas e equipamentos. Os empresários ouvidos preveem diminuição de 2,3% no investimento em inovação em relação a 2008; e de 5,8% em P&D.

Do total de R$ 81,1 bilhões a serem investidos em 2009, R$ 17 bilhões deverão ser aplicados em inovação e R$ 9,7 bilhões em P&D, contra R$ 17,4 bilhões em inovação e R$ 10,3 bilhões em P&D aplicados no ano passado. Em máquinas e equipamentos, as empresas aplicaram R$ 74,8 bilhões em 2008 e deverão aportar R$ 54,3 bilhões neste ano, diz o relatório.
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=64541


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