Exploração de aquíferos precisa se tornar mais sustentável, dizem especialistas
Fonte: Agência Fapesp
Na medida em que as mudanças climáticas se intensificam e as crises hídricas se tornam mais frequentes, cresce a exploração dos aquíferos subterrâneos onde está armazenada cerca de 95% da água doce disponível no planeta.
A necessidade de pesquisas que ajudem a tornar mais sustentável o uso desse recurso, evitando contaminações e garantindo a recarga dos reservatórios, foi um dos temas abordados no dia 13 de maio, durante a FAPESP Week UC Davis in Brazil.
A Califórnia é responsável pelo cultivo de 50% das frutas e vegetais consumidos nos Estados Unidos. Essas culturas dependem intensamente de irrigação e, como a Califórnia enfrenta o quarto ano consecutivo de seca, muitos fazendeiros têm recorrido ao bombeamento de água subterrânea, disse Jan Hopmans, professor de Hidrologia, Terra, Ar e Recursos Hídricos da University of California, Davis.
Segundo dados apresentados por Hopmans, a população mundial mais do que dobrou nos últimos 50 anos. O mesmo ocorreu com a área agrícola irrigada e a demanda por água no período cresceu cerca de 250%.
Na Califórnia, as águas subterrâneas, que antes representavam um terço do total usado na irrigação, hoje já correspondem a dois terços. E isso tem consequências tremendas, disse.
De acordo com as estimativas de crescimento populacional, será necessário duplicar a produção de alimentos para atender a demanda dos próximos 50 anos. Segundo Hopmans, é urgente desenvolver tecnologias para tornar a irrigação agrícola mais eficiente, permitindo menor uso de água por unidade produzida. Caso contrário, a demanda por água duplicará nas próximas décadas.
Também é necessário, segundo Hopmans, encontrar soluções para minimizar a contaminação dos aquíferos por nitrato oriundo principalmente de fertilizantes agrícolas e dejetos animais , problema que pode se agravar nos próximos anos.
A agricultura do futuro precisa se tornar, ao mesmo tempo, mais produtiva e mais sustentável. Isso exige uma melhor compreensão de como as plantas absorvem água e nutrientes, para que possamos fazer mais com menos. Requer pesquisas inovadoras sobre o solo, combinadas com ciência de plantas e novas tecnologias, opinou Hopmans.
Preparação décadas antes
Na avaliação de Graham Fogg, professor de Hidrogeologia da UC Davis, o uso que tem sido feito atualmente dos aquíferos pelos fazendeiros californianos e também de outras regiões do globo está longe de ser sustentável. Para exemplificar, ele fez uma analogia com o sistema financeiro.
Imagine que você tem todo o seu dinheiro depositado em duas contas bancárias. A conta A que representa a água presente na superfície do planeta tem saldo conhecido e você sabe quanto dinheiro está entrando e saindo. Da conta B que representa a água subterrânea você não sabe o saldo e nem quanto está entrando e saindo. E quando o saldo da conta A se esgota, você passa a fazer retiradas descontroladas da conta B. Como é possível ter segurança em uma situação dessas?, disse Fogg.
Na tentativa de responder a uma questão fundamental onde haverá água e qual quantidade estará disponível em um cenário futuro de mudanças climáticas foi criado na UC Davis o IGERT Center for Climate Change, Water and Society (CCWAS), coordenado por Fogg.
O IGERT (Integrative Graduate Education and Research Traineeship) é um programa de treinamento oferecido pela National Science Foundation (NSF), principal agência de fomento à pesquisa básica nos Estados Unidos, para recrutar os mais destacados estudantes de doutorado do país.
O centro da UC Davis tem como missão formar uma nova geração de cientistas com a profundidade e a amplitude multidisciplinar necessárias para lidar com os efeitos das alterações climáticas sobre os recursos hídricos, contou Fogg.
Segundo o pesquisador, a seca que a Califórnia enfrenta atualmente não é consequência da queda nos índices de precipitação e sim do derretimento mais precoce da neve causado pelo aquecimento do planeta.
A Califórnia sempre dependeu da neve para armazenamento de água. Toda nossa precipitação ocorre no inverno. Ela cai na forma de neve nas montanhas e, entre abril e julho, derrete e abastece os reservatórios. Assim, temos água para atender o pico de demanda, que ocorre entre junho e julho. Mas, nos últimos anos, a neve começou a derreter mais cedo e parte da água não tem como ser armazenada para uso no momento em que é necessária, contou Fogg.
Em vez de criar novos reservatórios de superfície, defendeu Fogg, a solução é criar mecanismos para colocar mais água nos reservatórios subterrâneos e começar a usá-los de forma mais sustentável, o que requer pesquisas e avanços tecnológicos.
Para estarmos preparados para uma seca como a que enfrentamos hoje, tínhamos que ter feito esse trabalho cerca de dez anos antes. É preciso motivar as pessoas para que façam o que tem de ser feito décadas antes de um evento extremo ocorrer, disse Fogg.
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A necessidade de pesquisas que ajudem a tornar mais sustentável o uso desse recurso, evitando contaminações e garantindo a recarga dos reservatórios, foi um dos temas abordados no dia 13 de maio, durante a FAPESP Week UC Davis in Brazil.
A Califórnia é responsável pelo cultivo de 50% das frutas e vegetais consumidos nos Estados Unidos. Essas culturas dependem intensamente de irrigação e, como a Califórnia enfrenta o quarto ano consecutivo de seca, muitos fazendeiros têm recorrido ao bombeamento de água subterrânea, disse Jan Hopmans, professor de Hidrologia, Terra, Ar e Recursos Hídricos da University of California, Davis.
Segundo dados apresentados por Hopmans, a população mundial mais do que dobrou nos últimos 50 anos. O mesmo ocorreu com a área agrícola irrigada e a demanda por água no período cresceu cerca de 250%.
Na Califórnia, as águas subterrâneas, que antes representavam um terço do total usado na irrigação, hoje já correspondem a dois terços. E isso tem consequências tremendas, disse.
De acordo com as estimativas de crescimento populacional, será necessário duplicar a produção de alimentos para atender a demanda dos próximos 50 anos. Segundo Hopmans, é urgente desenvolver tecnologias para tornar a irrigação agrícola mais eficiente, permitindo menor uso de água por unidade produzida. Caso contrário, a demanda por água duplicará nas próximas décadas.
Também é necessário, segundo Hopmans, encontrar soluções para minimizar a contaminação dos aquíferos por nitrato oriundo principalmente de fertilizantes agrícolas e dejetos animais , problema que pode se agravar nos próximos anos.
A agricultura do futuro precisa se tornar, ao mesmo tempo, mais produtiva e mais sustentável. Isso exige uma melhor compreensão de como as plantas absorvem água e nutrientes, para que possamos fazer mais com menos. Requer pesquisas inovadoras sobre o solo, combinadas com ciência de plantas e novas tecnologias, opinou Hopmans.
Preparação décadas antes
Na avaliação de Graham Fogg, professor de Hidrogeologia da UC Davis, o uso que tem sido feito atualmente dos aquíferos pelos fazendeiros californianos e também de outras regiões do globo está longe de ser sustentável. Para exemplificar, ele fez uma analogia com o sistema financeiro.
Imagine que você tem todo o seu dinheiro depositado em duas contas bancárias. A conta A que representa a água presente na superfície do planeta tem saldo conhecido e você sabe quanto dinheiro está entrando e saindo. Da conta B que representa a água subterrânea você não sabe o saldo e nem quanto está entrando e saindo. E quando o saldo da conta A se esgota, você passa a fazer retiradas descontroladas da conta B. Como é possível ter segurança em uma situação dessas?, disse Fogg.
Na tentativa de responder a uma questão fundamental onde haverá água e qual quantidade estará disponível em um cenário futuro de mudanças climáticas foi criado na UC Davis o IGERT Center for Climate Change, Water and Society (CCWAS), coordenado por Fogg.
O IGERT (Integrative Graduate Education and Research Traineeship) é um programa de treinamento oferecido pela National Science Foundation (NSF), principal agência de fomento à pesquisa básica nos Estados Unidos, para recrutar os mais destacados estudantes de doutorado do país.
O centro da UC Davis tem como missão formar uma nova geração de cientistas com a profundidade e a amplitude multidisciplinar necessárias para lidar com os efeitos das alterações climáticas sobre os recursos hídricos, contou Fogg.
Segundo o pesquisador, a seca que a Califórnia enfrenta atualmente não é consequência da queda nos índices de precipitação e sim do derretimento mais precoce da neve causado pelo aquecimento do planeta.
A Califórnia sempre dependeu da neve para armazenamento de água. Toda nossa precipitação ocorre no inverno. Ela cai na forma de neve nas montanhas e, entre abril e julho, derrete e abastece os reservatórios. Assim, temos água para atender o pico de demanda, que ocorre entre junho e julho. Mas, nos últimos anos, a neve começou a derreter mais cedo e parte da água não tem como ser armazenada para uso no momento em que é necessária, contou Fogg.
Em vez de criar novos reservatórios de superfície, defendeu Fogg, a solução é criar mecanismos para colocar mais água nos reservatórios subterrâneos e começar a usá-los de forma mais sustentável, o que requer pesquisas e avanços tecnológicos.
Para estarmos preparados para uma seca como a que enfrentamos hoje, tínhamos que ter feito esse trabalho cerca de dez anos antes. É preciso motivar as pessoas para que façam o que tem de ser feito décadas antes de um evento extremo ocorrer, disse Fogg.
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