Pesquisa brasileira em Ciência dos Materiais precisa aumentar impacto internacional

Data: 01/10/2014
A produção científica brasileira em Ciência dos Materiais e o número de artigos publicados por pesquisadores da área no país aumentaram vigorosamente na última década.

O desafio, agora, é aumentar o impacto internacional das pesquisas realizadas na área por cientistas brasileiros com diversos tipos de material, incluindo os mais tradicionais – como a cerâmica e metais – e os mais avançados, como grafeno e outras nanoestruturas de carbono.

A avaliação foi feita por José Arana Varela, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP e professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, durante a palestra de abertura do 13º Encontro da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat), que ocorre até quinta-feira (02/10) em João Pessoa (PB).

A palestra, no domingo (28/09), foi feita em memória de Joaquim da Costa Ribeiro (1906-1960), considerado um dos mais importantes físicos brasileiros e pioneiro em Ciência dos Materiais no país. Todos os anos, um pesquisador brasileiro de destaque indicado por um comitê da SBPMat ministra a palestra.

“A quantidade de artigos publicados tanto por pesquisadores brasileiros como em colaboração com colegas do exterior em Ciência dos Materiais aumenta desde 2000. Agora, o desafio é elevar o impacto internacional das pesquisas realizadas no Brasil, em uma área em que o país não deve nada ao que é feito no exterior”, disse Varela à Agência FAPESP.

Segundo Varela, a pesquisa em Ciência dos Materiais é recente no Brasil. A produção científica na área era irrisória no país até 1990, quando se publicavam menos de 200 artigos por ano em periódicos científicos indexados.

A partir do ano 2000, o número de artigos publicados na área duplicou em relação a 1990. De 400 artigos em 2000, o número saltou para quase 1,2 mil em 2013.

O número de artigos publicados por pesquisadores brasileiros em colaboração com colegas do exterior também aumentou no mesmo período, indo de menos de 200 em 2000 para quase 400 em 2013. O impacto, entretanto, caiu de 1,5 em 1989 (quando estava um pouco acima da média do índice de citação mundial, de 1) para um patamar entre 0,7 e 0,8 atualmente.

“A internacionalização da ciência produzida nessa e em outras áreas no Brasil também é muito recente. À medida que aumentarem as colaborações e a exposição internacional do país nessa área, o fator de impacto das pesquisas tenderá a aumentar”, afirmou.

Papel das sociedades

De acordo com Varela, um dos fatores que contribuíram para o aumento da produção científica brasileira em Ciência dos Materiais na última década foi a criação, em 2001, da SBPMat.

No fim da década de 1990, começou-se a discutir a necessidade de criar no país uma sociedade que reunisse pesquisadores de diversas áreas – como físicos, químicos e engenheiros – atuantes na pesquisa de diferentes categorias de materiais, como cerâmicos, metálicos, poliméricos e compósitos, entre outros.

Hoje, a SBPMat reúne centenas de pesquisadores afiliados e discute em seus encontros anuais temas como síntese de novos materiais, simulações computacionais, propriedades ópticas, magnéticas e eletrônicas, materiais tradicionais e avançados (grafeno e outras nanoestruturas de carbono, entre outros).

“As sociedades científicas têm o objetivo de atender novas demandas da sociedade”, avaliou Varela. “A American Ceramic Society dos Estados Unidos, por exemplo, foi fundada em 1898, para atender a necessidade de fabricantes de produtos, que financiaram inicialmente as pesquisas na área.”

Segundo Varela, a comunidade de pesquisa em Ciência dos Materiais no Brasil ainda é pequena, mas deve aumentar nos próximos anos com a formação de mais mestres e doutores na área por universidades e instituições de pesquisa em regiões como o Nordeste.

“Ainda não temos uma massa crítica de pesquisadores na área, como os Estados Unidos e outros países que são referência em Ciência dos Materiais. Mas o número de pesquisadores na área no país está crescendo, como pode ser constatado pelo aumento de participantes nos encontros anuais da SBPMat”, afirmou.

O encontro realizado em João Pessoa reúne mais de 2 mil participantes, entre pesquisadores, professores e estudantes de graduação e pós-graduação, de 27 países. A primeira reunião, em 2002, reuniu 400 participantes.

Agência Fapesp


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