ESPCA na Unicamp discute estudos sociais da ciência e da tecnologia

Data: 15/08/2014
Pesquisadores e estudantes de 17 países estão reunidos, de 11 a 15 de agosto, na Escola São Paulo de Ciência Avançada em Biotecnologia, Biossociabilidade e Governança em Ciências da Vida, realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para refletir sobre questões sociais e éticas do desenvolvimento científico.

O evento é promovido pelo Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) da Unicamp no âmbito da modalidade de apoio da FAPESP Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) e conta com palestras de pesquisadores de atuação internacional e oficinas com trabalhos em grupo. São 110 alunos de pós-graduação participantes, sendo 50 de instituições estrangeiras e 60 brasileiros, além de 14 professores.

Entre os destaques está Stephen Hilgartner, diretor do programa de pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da Cornell University, nos Estados Unidos, que ministrou a aula inaugural, Social Study of the Life Sciences, e participa de outros momentos da programação ao longo do evento.

Hilgartner é conhecido no campo dos estudos sociais da ciência e da tecnologia por seu trabalho na área de dinâmica de produção do conhecimento científico e análise de políticas para tecnologias emergentes, com foco na pesquisa em Biotecnologia, Biomedicina e Ciências da Vida. Sua aula de abertura tratou dos avanços da área no campo da pesquisa biomédica e biotecnológica, com discussões que marcam a atualidade do tema na agenda de pesquisa internacional.

O pesquisador apresentou conceitos e abordagens sobre a agenda de regulação política de novas tecnologias emergentes, as concepções sociopolíticas da prática científica contemporânea e os rumos da pesquisa biológica e biomédica no século.

“É preciso observar os problemas sociais sob uma perspectiva ecológica, envolvendo fatores como competição, seleção e adaptação, em sua discussão pública, observando como eles competem por atenção e recursos”, disse Hilgartner à Agência FAPESP.

De acordo com Hilgartner, a biologia sintética vem transformando o desenvolvimento das terapêuticas humanas e animais de formas que não poderiam ser imaginadas há uma década.

“O caro processo de descoberta e desenvolvimento de novas drogas vem sendo substituído por sistemas de abordagens que incluem engenharia genética, molecular e celular e biologia computacional”, disse.

A pesquisa recente de Hilgartner aborda os elementos sociais presentes na formação de agendas de pesquisa biotecnológica, assim como os processos políticos envolvidos na tarefa de organização e legitimação do conhecimento científico em contextos democráticos.

“Nesse cenário surge uma série de reflexões. De que modo revoluções tecnológicas inimagináveis se tornam não só possíveis como, pelo menos por enquanto, plausíveis? E como o mundo idealizado por essas revoluções se relaciona com a realidade?”, questionou.

Temas de vanguarda

Segundo a coordenadora do evento, Maria Conceição da Costa, professora associada do DPCT, o objetivo é provocar discussões sociais e éticas entre os alunos sobre “tecnologias que estão na fronteira do conhecimento”, como os temas tratados por Hilgartner e a biotecnologia ligada a alimentos geneticamente modificados, entre outros.

“Além da interação entre estudantes brasileiros com pesquisadores de destaque internacional, a ESPCA propicia ao visitante um contato importante com a realidade brasileira, permitindo, por exemplo, que se conheça o que acontece no Brasil numa translação, cuja tecnologia muitas vezes é desenvolvida em países industrialmente mais avançados”, disse.

A questão da transgenia em alimentos foi tratada em palestra ministrada por Philip Martin Macnaghten, da Durham University, no Reino Unido, que atualmente conduz a pesquisa “Construindo um quadro teórico para a inovação e a pesquisa responsável no Brasil” no Instituto de Geociências da Unicamp, com Auxílio da FAPESP.

Outro tema tratado no evento é a interdisciplinaridade dos estudos sociais da ciência e da tecnologia aplicados à antropologia médica, com discussões que marcam a pesquisa internacional na área.

Na sexta-feira, Rayna Rapp, professora do Departamento de Antropologia e membro do Centro de Bioética da New York University, nos Estados Unidos, ministrará palestra sobre o assunto, apresentando conceitos e abordagens sobre ativismo, biopolítica e novas tecnologias no campo da reprodução e da saúde mental.

Rapp é conhecida na área da antropologia médica por seu trabalho com tecnologias reprodutivas, etnografia e análise cultural da atividade científica em saúde. Sua pesquisa atual aborda os elementos sociais presentes na formação de agendas de pesquisa sobre reprodução, genética e saúde mental, além dos processos políticos envolvidos na organização de movimentos sociais de pacientes nos EUA e na Europa.

O evento conta ainda com apresentações de Sahra Gibbon, da University College London, no Reino Unido; Jane Calvert, da University of Edinburgh, na Escócia; Aditya Bharadwaj, do Graduate Institute of International and Development Studies, na Suíça; Susanne Lettow, da Goethe-Universität Frankfurt, na Alemanha; Marko Synesio Monteiro, da Unicamp; Kenneth Camargo, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj); Walter Colli, da Universidade de São Paulo (USP); Sandra Caponi, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Camila Rigolin, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Carlos Guilherme do Valle, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); e Noela Invernizzi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A ESPCA em Biotecnologia, Biossociabilidade e Governança em Ciências da Vida termina nesta sexta-feira (15/08), no auditório 3 da Diretoria Geral da Administração (DGA) da Unicamp, no Campus Universitário Zeferino Vaz, em Barão Geraldo, Campinas.

Mais informações em www.ige.unicamp.br/espca2014.



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