Conversa com Jerson Kelman, diretor-presidente da Sabesp

Data: 30/03/2016
Fonte: Sabesp

A Sabesp teve lucro em 2015 em plena crise hídrica. Como isso é possível?

Sim, é verdade: a Sabesp teve lucro. Claro, isso é bom para os acionistas. Mas não somente para eles. Para a população essa é também uma boa notícia.

Se sobrou dinheiro para dar lucro, por que a Sabesp não fez mais investimentos para diminuir os impactos da crise hídrica no dia-a-dia da população?

Todos os investimentos da Companhia, nas mais de 360 cidades em que atua, provém exclusivamente dos lucros obtidos em anos anteriores e dos empréstimos obtidos junto aos organismos nacionais e internacionais. Empréstimos que mais cedo ou mais tarde têm que ser pagos, também a partir dos lucros. Ou seja, o lucro da Sabesp é como o dinheiro colocado na poupança para comprar um bem mais valioso; por exemplo, a casa própria. Se não houvesse lucro, a Sabesp não teria como realizar as grandes obras em andamento para garantir que, se a terrível seca do biênio 2014-2015 ocorresse novamente, não teríamos crise. Se não houvesse lucro, a Sabesp não poderia fazer novas ligações para fornecimento de água potável. Não poderia estender a rede de coleta de esgoto e construir novas estações de tratamento, tanto de água quanto de esgoto. Enfim, a Sabesp não poderia continuar garantindo a São Paulo um lugar de liderança no item saneamento. Não por acaso, segundo o ranking Trata Brasil, a primeira cidade do país em saneamento (Franca) e a segunda melhor capital (São Paulo) são operadas pela Sabesp. Claro, muito mais ainda precisa ser feito e aperfeiçoado. Estamos longe do ideal. Mas só obtendo lucros a Sabesp conseguirá melhorar a qualidade dos serviços.

Mas... a Sabesp não recebe dinheiro do Governo?

A Sabesp não recebe nenhum centavo de governos municipais, do estadual ou do federal. Tudo o que a Sabesp arrecada advém das contas de água. É com esse dinheiro que se paga os custos e ainda sobra lucro para fazer investimentos em anos subsequentes.

Mas... o grosso dos lucros não vai para os acionistas, restando apenas migalhas para investir em favor da população?

Isto não é verdade. Do lucro obtido a cada ano, a maior parte (mais de 70%) é destinada aos investimentos. Somente o mínimo, obrigatório por lei, é distribuído aos seus acionistas sob a forma de dividendos.

Quais foram os lucros e os investimentos da Sabesp nos últimos anos?

Em 2013, antes da crise hídrica, o lucro foi de R$ 1,9 bilhões e o investimento de R$2,7 bilhões. Em 2014, primeiro ano da crise, o lucro foi de R$ 0,9 bilhão (47% do lucro de 2013) e o investimento R$ 3,2 bilhões (aumento de 19% em relação ao investimento de 2013). Já em 2015, com o agravamento da crise, o lucro caiu para R$ 0,5 bilhão (26% do lucro de 2013) e os investimentos foram de R$ 3,5 bilhões (aumento de 30% em relação ao investimento de 2013).

Por que o lucro da Sabesp diminuiu tanto em 2014 e ainda mais em 2015?

A Companhia no biênio da crise (2014-2015) teve uma redução de mais de R$ 2,0 bilhões de receita, em função da queda tanto do preço da água (programa de bônus) quanto do volume de água consumido, graças à mudança de hábitos da população, que compreendeu a gravidade da crise hídrica. Mais de 80% da população aderiu ao programa de redução de consumo.

Por que o investimento da Sabesp aumentou tanto em 2014 e ainda mais em 2015?

Os investimentos realizados para combater a crise (mais de 30 ações) foram fundamentais para que a Sabesp conquistasse um novo patamar de segurança hídrica, face às mudanças climáticas que tornaram os cenários muito mais incertos. As grandes obras estruturais que serão entregues nos próximos anos (ligação Jaguari-Atibainha e PPP São Lourenço) refletem o grande esforço da Sabesp para estar preparada para este novo momento.

Como foi possível a Sabesp aumentar investimentos com lucros em queda?

A manutenção e expansão do patamar de investimentos no biênio 2014-2015 só foi possível porque a Sabesp reduziu as despesas e melhorou a eficiência operacional. Além disso, a confiabilidade da Companhia perante as entidades de financiamento, nacionais e internacionais, garantiu o acesso ao crédito em condições e prazos favoráveis para a expansão do saneamento em São Paulo.

É possível manter nos próximos anos esse desequilíbrio entre evolução do lucro e de investimentos? Ou seja, é possível continuar aumentando o volume da dívida?

Não. Os empréstimos contraídos pela Sabesp foram essenciais para garantir os investimentos que nos fizeram avançar no saneamento e para enfrentar a crise hídrica. Porém, como é óbvio, os empréstimos precisam ser pagos. Os investimentos ainda muito necessários para prover serviço de primeiro mundo à população atendida pela Sabesp terão que ser majoritariamente cobertos pelos lucros em anos vindouros. Ou seja, é do máximo interesse da população que a Sabesp tenha lucros. Não é o que muitos pensam. Mas é a verdade.

A Sabesp recebe por meio das contas de água dinheiro suficiente para prestar serviço de primeiro mundo?

A maior parte da população acha que sim. Mas esse é outro conceito equivocado. As tarifas da Sabesp são fixadas pela agência reguladora (ARSESP) proporcionalmente aos investimentos que foram efetivamente feitos e não aos investimentos que deveriam ser feitos para prestar serviço de primeiro mundo.



< voltar