Nenhum país da América Latina leva a sério políticas de ciência, tecnologia e inovação, avalia presidente do CNPq

Data: 09/12/2015
Fonte: Jornal da Ciência

Nenhum país da América Latina incorpora políticas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) como políticas de Estado. É a avaliação de Hernan Chaimovich, ex-chefe de Departamento de Bioquímica da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desde janeiro de 2015. Chaimovich falou no seminário “Fronteiras da gestão em ciência, tecnologia e inovação”, realizado no dia 2 de dezembro para comemorar os 20 anos do Laboratório de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (Geopi) da Unicamp. “Mas não pensem que o estudo de políticas de CT&I é inútil. É um esforço importante para que, algum dia, os países latino-americanos finalmente assumam essas políticas como políticas de Estado”, ponderou o bioquímico.

Segundo Chaimovich, é costume mostrar somente “resultados” de políticas de CT&I, mas não seus “impactos”: “É como falar que uma lavadora de roupa tinha 300 arruelas e agora tem 452. Isso não diz se a máquina lava mais branco nem se lava melhor que outra. ” O presidente do CNPq ressaltou que o impacto médio – ou seja, em que medida ideias produzidas no Brasil impactam ideias em outros países – é abaixo da média mundial. O cientista também correlacionou Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) com número de papers por milhão de habitantes, apontando que há uma clara barreira: se o índice não chega a .8, verifica-se baixa densidade de ciência em uma sociedade.

O IDH é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. Seu objetivo é oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o PIB per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. Foi criado pelo Pnud, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Segundo Chaimovich, apesar dos esforços das agências de fomento, o investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil ainda fica em torno de 1% do PIB do País. “Há 20 anos temos a expectativa de que um dia chegaremos a 2%”, disse, acrescentando que a contribuição do setor privado tem sido reduzida. Ele também mostrou que o orçamento do CNPq caiu, em termos reais, 38% entre 2002 e 2015.

O Geopi foi fundado em 1995 por professores, alunos e colaboradores do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências da Unicamp. O laboratório funciona como uma rede de competências multidisciplinares para desenvolver métodos de planejamento e gestão da criação de valor via inovações tecnológicas (produtos, processos e serviços) e inovações não tecnológias (organizacionais, corporativas, políticas e regulatórias). O Geopi trabalha com conceitos e métodos derivados de disciplinas como economia, sociologia, ciência política, administração, psicologia, genética evolutiva, matemática e estatística.

Entre dezenas de trabalhos, o Geopi é responsável pela avaliação de impacto do ProFIS, o Programa de Formação Interdisciplinar Superior da Unicamp, um curso de dois anos de duração com forte caráter de formação geral. Com início em 2011, foram selecionados os 120 melhores alunos das escolas públicas de Campinas a partir da nota no Enem. Após a conclusão dos dois anos, os estudantes podem escolher entre cursos de graduação oferecidos na Unicamp de acordo com seu desempenho no ProFIS e o número de vagas oferecido em cada unidade.

Hernan Chaimovich Guralnik, nascido em Santiago do Chile em 1939, formou-se em Bioquímica na Universidade do Chile em 1962. Passou dois anos e meio nos Estados Unidos, trabalhando na Universidade da Califórnia e em Harvard. No Brasil desde 1969, concluiu o doutorado em Ciências Biológicas (Bioquímica) na USP em 1979. Tornou-se professor titular do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP em 1984. Foi vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (2007-2015) e do International Council for Science (2005-2008) e presidente da InterAmerican Network of Academies of Science entre 2004 e 2010. Formou 15 mestres e 21 doutores.


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