Como minimizar os desafios do setor de saneamento

Data: 28/10/2015
Fonte: Imagem


*Leandro Moreira

A crise econômica e as discussões em torno do setor de saneamento trazem reflexões sobre um modelo que apresenta déficits e não beneficia de forma plena grande parte da população. De acordo com uma pesquisa divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Unicef, cerca de 2,4 bilhões de habitantes, isto é, uma em cada três pessoas do planeta, sofrem à margem de um sistema de saneamento inadequado. Os números expressivos demonstram as deficiências de um setor carente de atenção e que precisa de mudanças consistentes para suprir as demandas dos cidadãos.

Muitos são os desafios que ainda precisam ser superados. No entanto, não existem fórmulas prontas. É preciso identificar as raízes dos problemas, e, uma delas está na falta de integração das informações entre os setores comercial e de gestão, tanto de ativos, quanto de perdas (vazamentos, roubos de água, entre outros).

A integração dos setores permite um melhor entendimento sobre os processos gerenciais, proporcionando análises mais assertivas, menos burocráticas e mais ágeis no que diz respeito à coleta, tratamento e distribuição de água.

Apesar dos benefícios destacados, os problemas relacionados ao setor parecem estar longe de serem solucionados. De acordo com um relatório do Banco Mundial, cerca de 40% do volume de água tratada no mundo é perdido em função de vazamentos e ligações clandestinas, e, sobretudo, por falta de planejamento e gestão. Nota-se a necessidade de uma visão sistêmica da dinâmica urbana e dos componentes que desenvolvam um conjunto de indicadores que auxiliem na resolução dos problemas ligados ao saneamento.

Percebendo a seriedade desse cenário e preocupadas em aprimorar os processos, as empresas do setor estão investindo em ferramentas capazes de atuar no gerenciamento dos serviços de saneamento. Nesse sentido, os Sistemas de Informações Geográficas (GIS) podem contribuir para reunir uma série de informações relacionadas à distribuição da água e coleta de esgoto, agilizando a tomada de decisão.

No SeMAE (Serviço Municipal Autônomo de Água e Esgoto), de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, a expertise adquirida com o uso da Inteligência Geográfica, sobre a localização de ativos, bem como tubulações, válvulas, gargalos da rede e pontos com vazamentos, possibilitou uma análise mais aprofundada sobre as operações internas e externas, proporcionando uma visão global e integrada da rede, em relação aos clientes e à toda infraestrutura ao redor, além de uma maior assertividade dos gestores com relação as obras realizadas, uma vez que o conhecimento obtido com a ferramenta evitou que fossem realizados pagamentos em novas redes sem necessidade.

Mais uma caso de aplicação do GIS ocorre no DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto) de Porto Alegre (RS). Ao utilizar a plataforma de inteligência geográfica foi possível coletar dados sobre a condição socioeconômica de uma determinada área. Com isso, informações comerciais e de distribuição, foram cruzadas com imagens de satélites, com o intuito de identificar os clientes com ligações de esgoto, porém não cadastrados para cobrança e onde se concentravam os clientes que pagavam a tarifa social (preço subsidiado para os serviços de abastecimento com água tratada e coleta e tratamento de esgoto). Através deste cruzamento, foi possível descobrir que vários clientes que pagavam a tarifa social não pertenciam a esta classe. Em Porto Alegre, por exemplo, o benefício é aplicado para residências unifamiliares e com área construída de até 40m², entretanto, ao realizar os comparativos utilizando o GIS, foi possível identificar residências com o dobro da metragem permitida com direito do benefício e até mesmo comércios cadastrados como tarifa social. Por meio das análises de revisão da tarifa social e mapeamento dos locais factíveis de ligação de esgoto, houve uma recuperação de receita significativa para o DMAE.

Sabe-se que os problemas existem e precisam ser sanados. Para a identificação e análise dos problemas é necessária a utilização das melhores ferramentas (tanto de gestão como de análises). Através destas ferramentas é possível solucionar as dificuldades que o mercado de saneamento enfrenta permitindo tanto um crescimento exponencial de qualidade nos serviços prestados como consequentemente aumento nas receitas.

*Leandro Moreira é Gerente para o setor de Saneamento na Imagem


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