Tratamento de água contaminada é essencial em época de crise hídrica

Data: 13/10/2015
Fonte: ass evento

Durante o IV Congresso Internacional de Meio Ambiente Subterrâneo foi discutido que, no Brasil, quando se descobre contaminação no lençol freático, muitas vezes não é feito o tratamento. Apenas se proíbe o consumo

Enquanto a crise hídrica se agrava no planeta, é preocupante a falta de remediação de águas subterrâneas em áreas contaminadas no Brasil. Milhões de metros cúbicos acabam inutilizados ainda no subsolo, ao invés de serem tratados para poderem entrar no sistema de abastecimento. Para debater sobre esse problema e outros assuntos ligados às águas subterrâneas, geólogos, engenheiros, cientistas e ambientalistas do Brasil e do exterior participaram o IV CIMAS – Congresso Internacional de Meio Ambiente Subterrâneo, nos dias 5 e 6 de outubro de 2015, em São Paulo.

O evento é referência mundial em áreas técnicas, legais e acadêmicas ligadas ao meio ambiente subterrâneo, possibilitando rica troca de informações entre experts do setor por meio de palestras e mesas redondas. Em paralelo ao congresso, foi realizada a FENÁGUA – Feira Nacional de Águas, com produtos e serviços do setor de águas e meio ambiente subterrâneo.

Tratar áreas contaminadas é solução
“Hoje no Brasil, quando é descoberta uma área contaminada, em muitos casos é aceito o procedimento de inutilizá-la e continuar escondendo o problema debaixo da terra ao invés de se optar pela remediação”, explica o geólogo e professor Everton de Oliveira, secretário-executivo da ABAS – Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, realizadora do CIMAS.

Oliveira afirma que cada vez mais o país precisa de água em quantidade e qualidade e para isso é preciso considerar a remediação como uma das soluções para aumentar a oferta hídrica. “Não basta discutir contaminação, mas sim apresentar como as águas subterrâneas podem ajudar na solução desse momento de grave crise hídrica”, enfatiza Everton.

Durante muito tempo, produtos potencialmente poluidores foram lançados diretamente no solo, em valas, cavas e poços, gerando inúmeras contaminações no solo e na água subterrânea. “Estas práticas que hoje são condenáveis eram comuns há alguns anos. Quando os contaminantes eram depositados ou derramados, atingiam a superfície do solo, se infiltrando lentamente pelo meio poroso até chegar ao lençol freático, que é o primeiro e mais vulnerável aquífero. O solo contaminado, por permitir uma lenta lixiviação de contaminantes para as águas subterrâneas, passa a se constituir numa fonte de contaminação, armazenando fase residual de produto em seus poros”, explica Everton.

De acordo com ele, todas as fases da contaminação do meio ambiente subterrâneo merecem técnicas especiais para avaliação e remediação, pois o comportamento dos contaminantes depende tanto das propriedades físicas e químicas do aquífero quanto das interações de suas propriedades com o meio.
A hidrogeologia de contaminação, nome técnico da área de especialização que cuida da qualidade dos aquíferos impactados, é muito desenvolvida e comporta conhecimento de várias ciências e tecnologias em conjunto, compondo um panorama amplo e diverso para a descontaminação de mananciais afetados.

Vazamento de combustível, esgotos, chorume de lixões e fertilizantes

O geólogo Carlos Giampá, especialista e conselheiro vitalício da ABAS, informa que nas áreas urbanas, os vazamentos dos postos de gasolina e utilização inadequada de produtos químicos, o chorume de aterros sanitários (já proibidos por lei), a falta de saneamento básico e uso de fossas contaminam o lençol freático.

“Na zona rural, já temos indícios de que a construção e o uso inadequados dos poços têm contaminado também os mananciais subterrâneos”, completa. Entre as causas dessas contaminações estão o uso de defensivos agrícolas e os fertilizantes, principalmente os nitrogenados lixiviados que venham a penetrar diretamente nos poços.

“Por falta de cultura, sempre nos vimos como um país com água abundante, mas poucos estão preocupados com ela. As águas subterrâneas são importantes para a formação dos rios e grande parte do abastecimento no país. Se não houver planejamento e fiscalização, esse recurso também estará ameaçado com consequências terríveis”, alerta.



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