A água entrou na pauta política

Data: 08/10/2015
Fonte: agua on line
Com um público de 2.000 pessoas no auditório do Riocentro, no Rio de Janeiro, a ABES abriu, no domingo, dia 4, o 28º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. O maior congresso de saneamento da América Latina, que tem como principal debate a crise hídrica, as alterações climáticas e a gestão do saneamento, propondo a construção de uma agenda mínima para o saneamento no Brasil, teve início com a disposição do setor de manter os temas relacionados à agua na pauta política do país, como ressaltou o presidente nacional da ABES, Dante Ragazzi Pauli.

“Temos que continuar, pois nossa mobilização foi o que nos trouxe leis que há pouco tempo não tínhamos, e o aumento do nível de investimentos, ainda que muito aquém do necessário. A água entrou na pauta política brasileira, não podemos deixar que saia.”

O presidente da ABES lembrou que os grandes problemas do saneamento ainda persistem. “A incapacidade de tantos estados e prefeituras na gestão de forma minimamente adequada nos seus sistemas de água e esgoto, resíduos sólidos e drenagem, por exemplo, a indefinição de fontes de financiamento, as questões da desoneração do setor, as diversas prorrogações de prazos para a elaboração de planos municipais de saneamento e a erradicação dos aterros não adequados, vulgarmente chamados lixões. Aliás, 2015 a última data estabelecida para elaboração dos planos de saneamento, esta acabando. Pelo jeito teremos que discutir nova prorrogação porque muitos ainda não o fizeram.”

Dante lembrou a questão dos investimentos no setor. “Se os investimentos de infraestrutura no Brasil são extremamente tímidos, o saneamento sequer aparece na lista dos beneficiados. É verdade que existe algum avanço, mas é muito lento. Interessantes instrumentos parecem não sair do papel, nosso plano nacional de saneamento e o plano de resíduos sólidos são alguns exemplos.”

E ressaltou também os impactos da crise hídrica. “Aos já conhecidos problemas, foram somados, há cerca de dois anos, aqueles advindos da maior crise hídrica de que temos conhecimento. Muitos estados nordestinos tiveram a situação agravada e no sudeste muitos estados se viram em condição inédita e desesperadora. Os efeitos da falta de articulação entre as várias políticas públicas ficam escancarados. A deterioração dos gestores de recursos hídricos em muitos estados brasileiros ficou absolutamente evidenciada, o mesmo vale para o setor de saneamento. Mais uma vez com muita criatividade e paciência de nossa sociedade, vamos sobrevivendo".

Dante pontuou que os efeitos das mudanças climáticas ainda são incompreendidos por grande parcela da sociedade. Mas ressaltou que o recado foi dado. “A necessidade de considerar tais efeitos no planejamento de políticas para gestão dos recursos hídricos é inquestionável.”

A crise financeira também foi mencionada: “E quando pensamos em discutir ou até mesmo implantar medidas para proteger os cidadãos de racionamentos e rodízios, o país mergulhou em crise financeira e ética, que certamente ajudam a complicar ainda mais o nosso desafio".

O presidente da ABES-Rio de Janeiro, Sérgio Pinheiro de Almeida, ressaltou que esse tema de mudanças climáticas e sua influência no saneamento é muito apropriado, principalmente pela questão de crise hídrica. “Ações que deveríamos ter tomado anteriormente não foram tomadas, embora conhecidas. Então, esse aqui é um fórum para essa discussão: onde erramos, onde acertamos, o que temos pela frente e quais são esses desafios para que nós tenhamos um convívio melhor com o meio ambiente? Acho que isso serve de alerta.”

O Secretário Nacional de Saneamento (Ministério das Cidades), Paulo Ferreira, ressaltou a importância do congresso da ABES. “Tem uma tradição de ser produtor do pensamento no saneamento pela tecnologia, pelos equipamentos que mostra, pela Fitabes, pelas discussões que acarretam e pela importância política que ele tem. A Secretaria de Saneamento colabora com o congresso, prestigiando a ABES em suas diversas funções. Espero que desse congresso saiam sugestões, propostas para que a gente possa cada vez mais melhorar as condições de saneamento no Brasil".

O Secretário também comentou sobre a agenda mínima, proposta que o CBESA construirá para ser apresentada ao poder público. “É muito importante abordar o tema das mudanças climáticas que está aí na linha de frente das questões com que temos nos preocupado. O Brasil tem uma participação importante neste aspecto, a ABES tem muita importância no saneamento, que é um utilizar das condições do meio ambiente. Acredito que desse congresso, em particular, se espera, nessas discussões de temas tão relevantes, dentre outros tantos importantes que afetam o saneamento, que os sistemas sejam norteados para que o Brasil tome direções na abordagem desses problemas".

Homenagem

A abertura contou com momentos emocionantes, como a homenagem ao engenheiro José Alfredo Charnaux Sartã, 87 anos, quase 70 anos dedicados ao setor de saneamento. "Recebo essa homenagem com muita gratidão. Com um sentimento de felicidade muito grande porque a gente deve se considerar privilegiado de poder trabalhar em um segmento como esse tão importante para a vida do homem e toda a nossa convivência na construção de um mundo cada vez melhor, sustentado e comprometido com o bem comum.“


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