Diretor da FAPESP fala em Washington sobre a ciência em São Paulo

Data: 04/05/2015
Fonte: Agência Fapesp
Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, foi um dos palestrantes no Fórum sobre Políticas em Ciência e Tecnologia da American Association for the Advancement of Science (AAAS), realizado em Washington nos dias 30 de abril e 1o de maio de 2015.

O encontro, organizado há 40 anos com o objetivo de debater o presente e o futuro das políticas em ciência e tecnologia, reuniu na capital dos Estados Unidos um público formado principalmente por cientistas e representantes de universidades, instituições de pesquisa e de agências governamentais que financiam ou realizam pesquisas.

Realizado no Ronald Reagan Building and International Trade Center, o fórum teve entre outros palestrantes John Holdren, diretor da Casa Branca para Políticas em Ciência e Tecnologia e assessor do presidente Barack Obama para Ciência e Tecnologia, France Córdova, diretora da National Science Foundation (NSF), e Flavia Schlegel, diretora-geral assistente para Ciências Naturais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Brito Cruz falou sobre a pesquisa produzida no Estado de São Paulo, que “tem mantido desde a década de 1930 um importante esforço para desenvolver um sistema capaz de criar ciência e tecnologia”.

“O resultado desse esforço é que, hoje, 44% da ciência feita no Brasil – medida pelo número de artigos científicos publicados por pesquisadores no país – vêm do Estado de São Paulo. Dos cerca de 14 mil novos doutores formados no Brasil a cada ano, 45% o fazem em uma universidade de São Paulo. Isso levando em conta que, diferentemente do que ocorre em outros estados brasileiros, em São Paulo o investimento estadual em pesquisa é quase o dobro do federal.

Brito Cruz destacou que uma importante parte do sucesso da pesquisa produzida no Estado de São Paulo se deve à FAPESP, “uma fundação pública com a missão de apoiar pesquisas em todas as áreas do conhecimento”, e falou sobre um ponto em comum na origem da Fundação com relação a agências norte-americanas.

“Em 1947, influenciado pelo relatório Ciência, a fronteira sem fim (The endless frontier), de Vannevar Bush, um grupo de cientistas instigou e convenceu a Assembleia Legislativa de São Paulo a aprovar a inclusão na Consituição Estadual daquele ano um artigo que estabelecia que o amparo à pesquisa científica seria propiciado pelo Estado, por intermédio de uma fundação criada para esse fim, e que 0,5% da receita tributária estadual seria atribuída a essa fundação – percentual elevado para 1% pela Constituição de 1989”, disse.

“Isso faz com que a FAPESP tenha estabilidade e autonomia, possibilitando que possa desenvolver, por exemplo, programas de 15 ou 20 anos. A FAPESP tem construído desde então um patrimônio significativo cujas receitas permitem que, a cada ano, aplique em pesquisa de 120% a 200% do que recebe em repasses do estado, uma vez que seu patrimônio gera uma renda adicional que é direcionada a pesquisas”, disse.

“E é importante notar que a legislação que instituiu a FAPESP estabelece que a Fundação não pode gastar mais de 5% de seu orçamento em despesas administrativas, incluindo salários, garantindo que 95% do orçamento sejam aplicados em apoio à pesquisa”, disse.

Brito Cruz falou em seguida sobre a sistemática de análise de solicitações de propostas da FAPESP. “Em 2014, recebemos cerca de 25 mil propostas de pesquisas e temos certo orgulho no fato de que o prazo médio para completar o processo de análise foi de 65 dias, com taxa média de sucesso de 45%”, disse.

O diretor científico mencionou algumas linhas estratégicas da atuação da FAPESP, começando pelas Bolsas. “A cada mês, a FAPESP paga cerca de 11 mil pessoas com bolsas para que possam trabalhar em pesquisas. É muito importante para o Estado de São Paulo e para o Brasil treinar e preparar a próxima geração de cientistas e precisamos aumentar o nosso número de cientistas”, disse.

“Outra linha importante de nosso investimento está no que chamamos de pesquisa acadêmica, que são pesquisas iniciadas pelos cientistas. São eles que dizem o que querem investigar. Eles escrevem propostas, que são analisadas e, se forem aprovadas, serão financiadas. Fazemos isso por meio de diversos programas, como o dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID), inspirados nos Science and Technology Centers da National Science Foundation. São centros financiados por 11 anos para desenvolver pesquisa básica ou aplicada, focada em temas específicos, e que devem transferir tecnologia para a indústria ou para a sociedade e disseminar a ciência para o público geral. Mantemos 17 desses centros”, disse.

Colaborações mais significativas

Brito Cruz falou sobre outras modalidades de apoio à pesquisa mantidas pela FAPESP, como os Projetos Temáticos, para projetos de até cinco anos, e o Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes, “que oferecem a um jovem pesquisador de qualquer lugar do mundo a chance de iniciar uma carreira em uma universidade no Estado de São Paulo”, disse.

“Muitas vezes isso envolve um financiamento superior a US$ 1 milhão, porque o pesquisador dará início a um laboratório. Já trouxemos mais de 1 mil desses jovens cientistas para o Estado de São Paulo e a cada ano trazemos mais de 70 a 100 novos”, disse.

Brito Cruz falou também sobre as iniciativas da FAPESP em apoiar pesquisa em conjunto com o setor industrial. “Temos mais de 100 empresas com as quais nos associamos em projetos para apoiar pesquisas, oferecendo auxílios de dois anos, de cinco anos ou de dez anos, como os Centros de Pesquisa em Engenharia, que temos criado com grupos como Peugeot Citröen, GSK, British Gas e Natura”, disse.

Outro ponto importante da atuação da FAPESP que destacou está no apoio a pesquisa feita em pequenas empresas. “Trata-se de um programa similar ao Small Business Innovation Research da NSF, no qual apoiamos mais de 1 mil pequenas empresas para que elas desenvolvam pesquisas de novos produtos ou novos serviços”, disse.

“O resultado dessa atuação é a relevância da produção de ciência no Estado de São Paulo. Pesquisadores no estado produzem, por exemplo, mais artigos científicos por ano do que em qualquer outro país da América Latina”, disse.

Brito Cruz destacou também a importância para a FAPESP em possibilitar a criação de conexões internacionais para cientistas de São Paulo, por meio da realização de acordos de cooperação com agências de fomento, universidades, instituições de pesquisa e empresas de outros países.

“Estamos muito interessados em desenvolver colaborações em pesquisa. Mas nossa estratégia não se baseia apenas no intercâmbio de pessoas e sim em permitir que pesquisadores possam conceber conjuntamente uma proposta, que possam elaborar essa proposta, trabalhar juntos por sua aprovação e que, depois, possam colaborar na realização dessa pesquisa. Achamos importante o intercâmbio de cientistas, fazemos isso, mas queremos ver um nível mais significativo de colaboração em pesquisa”, disse.

Allan Bromley Memorial Lecture

No dia 29, Brito Cruz foi o palestrante no Allan Bromley Memorial Lecture, realizado no Elliott School of International Affairs, também em Washington, onde falou sobre desafios para o crescimento e para a ampliação da qualificação do sistema de ciência e tecnologia no Estado de São Paulo e no Brasil.

O Alan Bromley Memorial Lecture é uma série de conferências anuais realizada desde 2005 pela University of Ottawa, Canadá, em cooperação com a George Washington University. O nome do evento é uma homenagem ao físico Allan Bromley, que teve importante papel na política científica e tecnológica nos governos de Ronald Reagan e George Bush.


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