Edição nº: 197
Ano: 2014
Descarte de lixiviado de aterros sanitários em estações de tratamento de esgoto: uma análise crítica
Autores:
Campos, José Roberto
Resumo:
DOI: http://dx.doi.org/10.4322/dae.2014.129

A quase totalidade dos projetos de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) é concebida sem a previsão para receber lodos oriundos de fossas/tanques sépticos e de lixiviado de aterro sanitário. Porém, depois de construídas, em muitos casos, essas ETEs ― por motivos diversos ― passam a se prestar para o descarte dos resíduos citados.
Em estudos e pareceres que autorizam a recepção desses resíduos, a decisão geralmente fundamenta-se apenas em ponderações baseadas em variáveis como DBO, DQO, Nitrogênio e, também na sobre-carga provável em termos de taxas de carregamento orgânico e geração adicional de lodo.
Neste artigo, o autor, baseado em sua experiência pessoal e em resultados de diversas pesquisas sobre lixiviado produzidas por participantes do programa PROSAB (FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos, CNPq, CEF e ABES – 2009), apresenta uma análise crítica sobre o tema que foi abordado em livro coordenado por Gomes, L.P. (2009). Também são usadas fundamentações baseadas em artigos de outras fontes para a estruturação das críticas enfocadas.
Parcela significativa dos componentes do lixiviado não é tratada (removida/degradada/convertida) em ETEs e, assim, critérios usuais de análise de impactos (na ETE e no corpo receptor) fundamentados apenas nas variáveis DBO, DQO e Nitrogênio não oferecem segurança. Sempre há elevação da carga no efluente da ETE e, além disso, certamente, compostos resistentes ao tratamento são descartados no corpo receptor. Conclui-se que os critérios de avaliação da problemática e os tipos de análises químicas de monitoramento têm de ser aperfeiçoados para que se possa, realmente, determinar os danos na própria ETE e também, no corpo receptor e na qualidade e quantidade do lodo gerado.
Modelos da cinética da degradação de lixiviado ― quando descartado em reatores biológicos projetados para tratar somente esgoto sanitário ― têm de ser aprimorados, pois a maioria deles apoia-se apenas em parâmetros como DQO e Nitrogênio.
Descartar lixiviado de aterros sanitários em ETEs não é sinônimo de tratar esses resíduos e há de se avaliar os danos reais decorrentes desse ato.